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terça-feira, 9 de outubro de 2012

A NEUROSE OBSESSIVA E O HOMEM DOS RATOS !


Neurose Obsessiva e O Homem dos Ratos

From Wikipsicopato

 
Pretendo, com este trabalho, aproximar-me de algumas contribuições freudianas acerca da neurose obsessiva. Antes disso, porém, para que haja um entendimento mais claro sobre a que remete a expressão “neurose obsessiva”, faço uso da elaboração de Laplanche, no seu Dicionário de Psicanálise (1985). Ali consta que a manifestação mais típica da neurose obsessiva se dá através de sintomas compulsivos e de pensamentos ruminativos que geram dúvida e inibem alguns modos de pensar e afetam também as ações. Ainda estão presentes os mecanismos de deslocamento do afeto e isolamento; em relação à vida pulsional, há ambivalência, regressão e fixação na fase anal; e no que concerne ao ponto de vista tópico, há uma tensão entre o ego e um superego rígido e severo. Laplanche (1985) também faz referência à construção do conceito de neurose obsessiva, remetendo-o aos trabalhos de Freud dos anos de 1894 e 1895. Nesse período, Freud estudava a histeria, mas começou a ter seu interesse despertado pelos mecanismos psicológicos das obsessões, organizando os sintomas que comporiam esse quadro.
Nas considerações teóricas do caso clínico o Homem dos Ratos, Freud discorre sobre a neurose obsessiva e ilustra algumas de suas reflexões através do que observou do paciente que atendia: Paul, um “jovem senhor”, próximo dos 30 anos, que referia ter obsessões desde a sua infância. Sobre a formação da neurose, Freud assegura que ela se dá na infância e que é característica de uma atividade sexual precoce. Relata que os pacientes tentam situá-la no tempo baseado em algum episódio que recordam, porém, ele acredita que o desencadeamento da neurose não seja algo tão facilmente recordável e que é anterior aos relatos dos pacientes, sendo remetido à amnésia infantil, que é quando se reprime as lembranças da tenra infância. Em relação a Paul, os traços típicos de neurose que são identificados desde a sua infância são: um desejo acompanhado de um medo obsessivo terrível (já compulsivo), que tinha algo de indefinido e gerava atos defensivos. Havia também um delírio de que expressava em voz alta seus pensamentos, sem ouvi-los, bem como tinha amnésia antes dos 6 anos.
Sobre os delírios, Freud esclarece que, usando a racionalidade, estabelecem-se em uma espécie de pensamento patológico, pois racionalmente o paciente não vê sentido nessas manifestações, mas ainda assim acredita nelas. Freud também falará da redução do desejo a uma simples corrente de pensamento, isto é, quando a ação psíquica fica destituída do contexto afetivo. Isso é observado em Paul quando este negou qualquer desejo no fato de pensar algumas vezes na morte do pai. Para ele essas idéias nada indicavam, eram apenas pensamentos, que talvez dissessem de um medo, mas nunca de um desejo. Aproveitando tal exemplo, Freud discorre sobre o fato de o neurótico não notar as conexões importantes que estabelece, pois as forças defensivas enganam-se pelas forças reprimidas. Assim, muitas vezes há uma noção dos fatos que merecem consideração, sem que estes sejam tomados na sua devida dimensão, pois não há uma mobilização afetiva para tanto.
Outro aspecto essencial da neurose obsessiva é a formação de sintomas, que é quando se faz uso de uma coisa para se representar outra (deformação), de modo que se dispõe de um substituto. É o caso dos ratos na vida de Paul, pois estes desencadeavam uma reação exacerbada no paciente sem que este conseguisse reconhecer o motivo. Também o exagero de auto-censura pela morte do pai é algo a se considerar. Há uma falsa conexão “entre a intensidade da auto-censura e a oportunidade para ela se manifestar.(...) O sentimento de culpa (...) pertence a algum outro contexto, o qual é desconhecido (inconsciente) e que exige ser buscado” (Freud, 1909, p.31). Freud acreditava que a existência de uma falsa conexão era o que justificava a impotência dos processos lógicos frente à idéia atormentadora, pois estando essas distorcidas e irreconhecíveis, conseguiam estabelecer-se com mais eficácia. Desse modo, o efeito terapêutico do tratamento estava em “des-cobrir” o conteúdo inconsciente ao qual a auto-censura de fato estava ligada, e em vincular esse conteúdo ao seu afeto correspondente.
Apenas através desse processo de “des-cobrimento” que Freud considerava possível reintegrar a personalidade dos seus pacientes, pois ele acreditava que parte do eu ficava no inconsciente, apartado do restante da personalidade, e que isso se dava desde a mais remota infância (idéias obsessivas são formações de longa duração). Por isso da relação do inconsciente com o infantil. Essa teoria se comprova nas sessões com Paul, quando Freud fala ao paciente da desintegração da sua personalidade entre self moral (consciente) e self mau (inconsciente) e este assente, pois se considerava uma pessoa moral, mas se lembrava de haver feito coisas na sua infância que provinham do seu outro self.
Outra característica do inconsciente relacionava-se à hostilidade pelo pai, evidenciando algo da natureza de desejos sensuais e o pai sentido como uma interferência aos seus desejos. Freud pondera que para que a criança continue amando seu pai, tais desejos sensuais em relação à mãe e de hostilidade em relação ao pai devem ser suprimidos, por isso, em torno da idade dos cinco anos, são recalcados (tal explicação relaciona-se com o Complexo de Édipo). Depois do recalque é difícil admitir que tenham de fato existido ou que possam retornar. Isso se passava com Paul, que negava que seu medo da morte do pai correspondesse a um desejo primeiro, agora reprimido; e não admitia já ter sentido ódio da figura paterna.
Freud ainda destina uma escuta cuidadosa para os relatos supersticiosos de seus pacientes. Sobre “o Homem dos Ratos”, diz que seus pensamentos obsessivos faziam com que, mesmo sendo uma pessoa instruída e inteligente, tivesse superstições (acreditava em premonições, sonhos proféticos, que encontraria a mesma pessoa em que acabara de pensar, etc). Freud considerava que essa alternância de modos de pensar supersticiosos e não supersticiosos derivava do seu posicionamento momentâneo diante do seu distúrbio obsessivo e tentou dar sentido às superstições trazidas pelo paciente, mostrando-lhe que muitas vezes ele lidava com fatos parciais, que era acometido por esquecimentos, bem como que sofria de erros de memória.
Nas suas formulações psicanalíticas, Freud tenta explicar esse fenômeno fazendo referência à repressão, pois em decorrência do material reprimido, haveria a formação de falsas conexões. As conexões originais reprimidas resistem vagamente à deformação que incide sobre elas, sendo transferidas para o exterior via processo de projeção e fazem com que o sujeito atribua ao mundo externo o que foi apagado da sua consciência.
Atrelada às supertições, está a onipotência que os neuróticos conferem aos seus pensamentos, sentimentos e desejos. Freud atribuirá essa superestimação dos pacientes a um traço que permanece da megalomania da primeira infância. No caso de Paul, quando estava em uma clínica de restabelecimento, irritou-se com outro paciente e desejou que esse morresse; duas semanas depois o outro veio a falecer. O mesmo sentimento onipotente lhe ocorreu quando atribuiu a si a culpa pelo suicídio de uma mulher que rechaçou anteriormente).
Também as necessidades de incerteza ou de dúvida compõem o quadro da neurose obsessiva, que leva o sujeito obsessivo a direcionar seus pensamentos para assuntos reflexivos e não conclusivos, como: vida após a morte, duração da vida, paternidade e memória. Freud acreditava que os pensamentos relacionados à morte (em especial morte das outras pessoas) viriam para que os neuróticos pusessem um fim naqueles conflitos que não conseguiam solucionar. Isso se passa com Paul, que freqüentemente era acometido por pensamentos de morte em relação ao seu pai ou à dama que admirava. Em relação a ambos sentia uma forte ambivalência entre amor e ódio e as idéias de morte apareciam justamente por não saber como lidar com a hesitação proveniente do amor e do ódio. “A criação da incerteza é um dos métodos utilizados pela neurose a fim de atrair o paciente para fora da realidade e isola-lo do mundo”. (Freud, 1909, p. 85).
Em tal esboço delineei algumas das idéias que acompanhavam Freud em 1909. Após essa data, muito ainda foi produzido, tanto pelo autor, como por psicanalistas que o sucederam. Entretanto, pela riqueza do tema, acredito que esses outros referenciais devem ser explorados com bastante cuidado, podendo ser foco de um trabalho futuro.
Referências:
Freud, S. (1909). Notas sobre um caso de neurose obsessiva -O Homem dos Ratos. Ed. Imago. Rio de Janeiro.

Laplanche, J. (1985). Vocabulário de Psicanálise. 8ª edição. São Paulo: Martins Fontes.
Gisele Milman Cervo
Fonte:www6ufgrs.br



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