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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Mensagem de Natal 2012 e até 2013!!





A MINHA ESPERANÇA É CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM MUNDO MAIS PACÍFICO ! O Discurso do Prêmio Nobel da Paz


Irmãos e Irmãs,

É uma honra e um prazer estar com vocês hoje. Estou realmente feliz por ver tantos amigos que vieram de diferentes cantos do mundo e de fazer novos amigos, a quem espero encontrar novamente no futuro. Quando encontro pessoas em locais diferentes do mundo, me lembro sempre de que somos basicamente parecidos: somos todos seres humanos. Talvez usemos roupas diferentes, a nossa pele tenha uma coloração diferente, ou falemos línguas diferentes. Isso é só na superfície. Basicamente, somos os mesmos seres humanos. É isso que nos liga uns aos outros. É isso que torna possível para nós nos compreendermos e desenvolvermos amizade e intimidade.
Pensando no que deveria falar hoje, decidi partilhar com vocês algumas das minhas idéias sobre problemas comuns que todos nós enfrentamos como membros da família humana. Como todos partilhamos este pequeno planeta Terra, temos que aprender a viver em harmonia e em paz uns com os outros e com a natureza. Isso não é um sonho, mas uma necessidade. Dependemos uns dos outros de tantas maneiras que não mais conseguimos viver em comunidades isoladas e ignorar o que está acontecendo fora delas. Temos que nos ajudar quando enfrentamos dificuldades e precisamos partilhar a boa sorte que temos. Falo a vocês apenas como outro ser humano, um simples monge. Se acharem útil o que eu digo, então espero que tentem praticar.
Gostaria também de partilhar hoje com vocês os meus sentimentos quanto à difícil situação e às aspirações do povo do Tibet. O Prêmio Nobel é um prêmio que eles bem merecem pela sua coragem e determinação inabalável durante os últimos quarenta anos de ocupação estrangeira. Como um representante livre dos meus compatriotas cativos, sinto que é meu dever falar em nome deles. Não falo com um sentimento de raiva ou ódio contra aqueles que são os responsáveis pelos imensos sofrimentos do nosso povo e pela destruição de nossa terra, das nossas casas e da nossa cultura. Eles também são seres humanos que lutam para encontrar a felicidade e merecem a nossa compaixão. Falo para informá-los da triste situação atual do meu país e das aspirações do meu povo porque, em nossa luta pela liberdade, a verdade é a única arma que possuímos.
A compreensão de que somos todos basicamente os mesmos seres humanos, que buscam a felicidade e tentam evitar o sofrimento, ajuda bastante no desenvolvimento de um sentido de irmandade — uma sensação cálida de amor e compaixão pelos outros. Isto, por sua vez, é essencial se temos que sobreviver neste mundo cada vez menor em que nos encontramos. Pois, se de forma egoísta, buscamos somente aquilo que acreditamos ser do nosso interesse individual, sem nos preocuparmos com as necessidades dos outros, poderemos terminar não só por prejudicá-los como também a nós mesmos. Esse fato ficou claro durante o desenrolar deste século. Sabemos atualmente que deflagrar uma guerra nuclear, por exemplo, seria uma forma de suicídio, ou que poluir o ar ou os oceanos para conseguir algum benefício em curto prazo seria destruir a base do nosso próprio sustento. Quando indivíduos e nações estão se tornando cada vez mais interdependentes, não temos outra escolha senão desenvolver o que chamo de um sentido de responsabilidade universal.
Hoje, somos verdadeiramente uma família global. Aquilo que acontece numa parte do mundo pode afetar todos nós. Isto, naturalmente, não é verdade somente quanto às coisas negativas que acontecem, mas é igualmente válido para os desenvolvimentos positivos. Não apenas sabemos o que acontece em outros lugares, graças à extraordinária tecnologia das comunicações modernas, como somos diretamente afetados por eventos que ocorrem em locais distantes. Sentimos uma sensação de tristeza quando crianças definham na África oriental. Da mesma maneira, sentimos alegria quando uma família, após décadas de separação pelo Muro de Berlim, volta a se reunir. Nossos grãos e rebanhos são contaminados e a nossa saúde e a nossa vida ficam ameaçadas quando ocorre um acidente nuclear a milhas de distância em outro país. Nossa própria segurança aumenta quando a paz prevalece entre partidos em guerra em outro continente.
Mas a guerra ou a paz, a destruição ou a proteção da natureza, a violação ou a promoção dos direitos humanos e da liberdade democrática, a pobreza ou o bem estar material, a falta de moral e de valores espirituais ou a sua existência e aprimoramento e o colapso ou o desenvolvimento da compreensão humana não são fenômenos isolados que podem ser analisados e tratados independentemente um do outro. Na verdade, eles estão muito interligados em todos os níveis e precisam ser abordados por meio dessa compreensão.
A paz, no sentido de ausência de guerra, tem pouco valor para alguém que está morrendo de fome ou frio. Ela não removerá a dor da tortura infligida a um prisioneiro da consciência. Não confortará aqueles que perderam os seus entes queridos em inundações causadas pelo desflorestamento despropositado num país vizinho. A paz pode perdurar apenas onde os direitos humanos são respeitados, onde as pessoas estão alimentadas e onde os indivíduos e as nações são livres. A verdadeira paz dentro de nós e no mundo à nossa volta somente poderá ser atingida por meio do desenvolvimento da paz mental. Os outros fenômenos estão interligados de modo similar. Assim, por exemplo, vemos que um ambiente bem cuidado e a riqueza ou a democracia pouco significam em face da guerra, especialmente a nuclear, e no desenvolvimento material não é suficiente para assegurar a felicidade humana.
O progresso material é naturalmente importante para o progresso humano. No Tibet, demos muito pouca atenção ao avanço tecnológico e econômico, e atualmente compreendemos que isso foi um erro. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento material sem o desenvolvimento espiritual pode também causar problemas sérios. Em alguns países, presta-se atenção demais às coisas externas e dá-se muito pouca importância ao crescimento interior. Acredito que ambos são importantes e devem ser desenvolvidos lado a lado para que se consiga um bom equilíbrio entre eles. Os tibetanos são sempre descritos pelos visitantes estrangeiros como um povo feliz e jovial. Isso é parte do nosso caráter nacional, formado pelos valores culturais e religiosos que enfatizam a importância da paz mental obtida com a geração de amor e de benevolência para todos os outros seres vivos sencientes, tanto humanos quanto animais. A paz interior é a chave: se vocês tiverem paz interior, os problemas externos não afetarão o seu sentido profundo de paz e de tranqüilidade. Nesse estado mental vocês poderão lidar com as situações com calma e racionalidade enquanto mantêm a sua felicidade interior. Isso á muito importante. Sem a paz interior, mesmo que a sua vida seja materialmente confortável, vocês permanecerão aborrecidos, preocupados ou infelizes devido às circunstâncias.
Portanto, fica clara a grande importância de se compreender o inter-relacionamento entre esses e outros fenômenos e de se abordar os problemas e tentar resolvê-los de modo equilibrado, levando em consideração esses diferentes aspectos. Naturalmente não é fácil. Mas há pouco benefício na tentativa de solucionar um problemas criando outro igualmente sério. De fato, não temos alternativa: precisamos desenvolver um sentido de responsabilidade universal não somente do ponto de vista geográfico, mas também em relação a várias questões com que se confronta o nosso planeta.
A responsabilidade não está unicamente com os líderes dos nossos países ou com aqueles que foram apontados ou eleitos para um determinado trabalho. Está individualmente em cada um de nós. A paz, por exemplo, começa dentro de cada um de nós. Quando temos a paz interior, podemos estar em paz com os que estão à nossa volta. Quando a nossa comunidade está num estado de paz, ela pode partilhar essa paz com as comunidades vizinhas, e assim por diante. Quando sentimos amor e benevolência para com os outros, isso não faz apenas com que eles se sintam amados e respeitados, mas nos ajuda a desenvolver felicidade e paz interiores. E existem maneiras com as quais podemos conscientemente trabalhar para desenvolver os sentimentos de amor e de benevolência. Para alguns de nós, o modo mais eficaz de fazer isso é por meio da prática religiosa. Para outros, podem ser as práticas não religiosas. O que importa é cada um de nós fazer um esforço sincero para assumir seriamente a sua responsabilidade pelo outro e pelo ambiente natural.
Sinto-me encorajado pelos avanços que estão ocorrendo à nossa volta. Depois que os jovens de vários países, particularmente do norte da Europa, pediram repetidamente o fim da perigosa destruição ambiental que estava sendo feita em nome do desenvolvimento econômico, os líderes políticos do mundo começam agora a tomar medidas significativas para resolver este problema. O parecer da Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento enviado para a Secretaria Geral das Nações Unidas (o relatório Brundtland) foi um passo importante para instruir os governos a respeito da urgência desse assunto. Esforços sérios para trazer paz para zonas de guerra e para implementar o direito da autodeterminação de alguns povos resultaram na retirada das tropas soviéticas do Afeganistão e no estabelecimento da independência da Namíbia. Esforços populares pacíficos e persistentes promoveram mudanças dramáticas em diferentes lugares, aproximando vários países da verdadeira democracia, de Manila, das Filipinas, a Berlim, na Alemanha Oriental. Com a era da Guerra Fria a aparentemente chegando ao fim, pessoas em todas as partes vivem com uma esperança renovada. Infelizmente, os esforços corajosos do povo chinês para estabelecer uma mudança similar no seu país foram brutalmente esmagados no último mês de junho. Mas os seus esforços também são uma fonte de esperança. Os militares não extinguiram o desejo de liberdade e a determinação do povo chinês de atingi-la. Admiro particularmente o fato de esses jovens, que foram ensinados que "o poder cresce no cano do revólver", terem escolhido, de modo inverso, usar a não-violência como arma.
O que essas mudanças positivas indicam é que a razão, a coragem, a determinação e um desejo inextinguível de liberdade podem finalmente vencer. Na luta entre as forças da guerra, a violência e a opressão de um lado, e a paz, a razão e a liberdade do outro, este último está levando vantagem. Tal compreensão enche a nós, tibetanos, com a esperança de que algum dia nós também seremos novamente livres.
O fato de ter recebido o Premio Nobel, eu, um simples monge do distante Tibet, aqui na Noruega, também nos enche a nós, tibetanos, de esperança. Significa que, apesar do fato de não termos chamado a atenção para a nossa situação difícil por meio da violência, não fomos esquecidos. Significa também que os valores que nutrimos, em particular o nosso respeito por todas as formas de vida e de crença no poder da verdade, são hoje reconhecidos e encorajados. É também um tributo ao meu mentor, Mahatma Gandhi, cujo exemplo é uma inspiração para muitos de nós. O prêmio deste ano é uma indicação de que esse sentido de responsabilidade universal está se desenvolvendo. Estou profundamente tocado pela preocupação sincera mostrada por várias pessoas no Tibet. Isso é uma fonte de esperança não somente para nós, tibetanos, mas para todos os povos oprimidos.
Como vocês sabem, o Tibet está, há quarenta anos, sob ocupação estrangeira. Atualmente, mais de quatro de milhão de tropas chinesas mantêm bases no Tibet. Algumas fontes estimam que o exército de ocupação tenha duas vezes essa força. Durante esse tempo, os tibetanos têm sido privados de seus direitos humanos mais básicos, incluindo o direito à vida, o direito de ir e vir, o direito de expressão e o direito religioso, para mencionar apenas alguns. Mais de um sexto dos seis milhões de habitantes do Tibet morreu como resultado direto da invasão e ocupação chinesas. Mesmo antes do início da Revolução Cultural, vários monastérios, templos e construções históricas tibetanas foram destruídos. Quase tudo que restou foi devastado durante a Revolução Cultural. Não desejo alongar-me nesse ponto, pois tudo está bem documentado. Contudo, é importante compreender que, apesar da liberdade limitada garantida após 1979 para a reconstrução de partes de alguns monastérios e de outros símbolos da liberalização, os direitos humanos fundamentais do povo tibetano são sistematicamente violados até hoje. Nos últimos meses, essa difícil situação tornou-se ainda pior.
Se não fosse pela nossa comunidade no exílio, tão generosamente abrigada e sustentada pelo governo e pelo povo da Índia e ajudada por organizações e indivíduos de várias partes do mundo, a nossa nação hoje seria um pouco mais do que a reminiscência destroçada de um povo. A nossa cultura, religião e identidade nacionais teriam sido definitivamente eliminadas. Na posição atual, construímos escolas e monastérios no exílio e criamos instituições democráticas para servir o nosso povo e preservar as sementes da nossa civilização. Com essa experiência, pretendemos implementar uma democracia total num futuro Tibet livre. Assim, enquanto desenvolvemos a nossa comunidade no exílio sob uma orientação moderna, também nutrimos e preservamos a nossa própria identidade e cultura e trazemos esperança para milhões de compatriotas no Tibet.
O assunto da maior preocupação e urgência neste momento é a afluência maciça de colonos chineses ao Tibet. Embora nas primeiras décadas de ocupação um número considerável de chineses tenha sido transferido para as partes orientais do Tibet — nas províncias de Amdo (Xingai) e Kham (cuja maior parte foi anexada pela província chinesa vizinha), desde 1983 um número sem precedentes de chineses foi encorajado pelo governo a migrar para todas as partes do Tibet, incluindo o Tibet central e ocidental (ao qual a República Popular da China se refere como Região Autônoma do Tibet). Os tibetanos foram rapidamente reduzidos a uma minoria insignificante em seu próprio país. Esse avanço, que ameaça a própria sobrevivência da nação tibetana, sua cultura e herança espiritual, ainda pode ser interrompido e revertido. Mas isso precisa ser feito agora, antes que seja tarde demais.
O novo ciclo de protesto e repressão violenta, que começou no Tibet em setembro de 1987 e culminou na imposição da lei marcial na capital, Lhassa, em março deste ano, foi em grande parte uma reação a essa tremenda afluência de chineses. As informações que chegam até nós no exílio indicam que marchas e outras formas pacíficas de protesto continuam em Lhassa e em vários outros locais no Tibet, apesar da punição severa e do tratamento desumano dado aos tibetanos por expressarem as suas queixas. O número de tibetanos mortos pelas forças de segurança durante o protesto de março e o dos que morreram posteriormente na prisão não são conhecidos, mas se acredita que sejam superiores a duzentos. Milhares foram detidos ou capturados e aprisionados, e a tortura é comum.
Foi para contrapor os fatos que constituem a base do agravamento dessa situação e para evitar outro derramamento de sangue que propus o que é geralmente chamado de O Plano dos Cinco Objetivos para a Paz, para a restauração da paz e dos direitos humanos no Tibet. Elaborei o plano numa conferência em Estrasburgo no ano passado. Acredito que ele forneça uma estrutura sensata e realista para as negociações com a República Popular da China. Contudo, até agora os líderes chineses não têm se mostrado desejosos de responder de maneira construtiva. A brutal supressão do movimento democrático chinês em junho deste ano, entretanto, reforçou o meu ponto de vista de que qualquer decisão sobre a questão tibetana somente será significativa se for apoiada por garantias internacionais adequadas.
O Plano dos Cinco Objetivos para a Paz relaciona os assuntos principais e inter-relacionados aos quais me referi na primeira parte desta conferência. Ele cita: (1) a transformação de todo o Tibet, inclusive das províncias orientais de Kham e Amdo numa zona de ahimsa (não-violência); (2) abandono da política de migração da população chinesa para o Tibet; (3) respeito pelos direitos humanos fundamentais e liberdade democrática do povo tibetano; (4) restauração e negociações intensivas sobre a posição futura do Tibet e das relações entre os povos tibetano e chinês. Na conferência de Estrasburgo, propus que o Tibet se transformasse numa entidade política, democrática e com governo próprio.
Gostaria de aproveitar esta oportunidade para explicar o que é a zona de ahimsa ou o conceito de um santuário de paz, que é o elemento central do Plano dos Cinco Objetivos para a Paz. Estou convencido de que é de grande importância não apenas para o Tibet, mas para a paz e a estabilidade na Ásia.
Tenho um sonho que todo o platô tibetano se torne um refúgio livre onde a humanidade e a natureza possam viver em paz e num equilíbrio harmonioso. Seria um local aonde as pessoas de todas as partes do mundo poderiam ir para buscar o verdadeiro significado da paz dentro de si mesmas, longe das tensões e das pressões do restante do mundo. O Tibet poderia tornar-se verdadeiramente um centro criativo para a promoção e o desenvolvimento da paz.
Seguem-se os elementos-chave da zona de ahimsa como foi proposta:
todo o platô tibetano seria desmilitarizado;
a fabricação, os testes e o armazenamento de armas nucleares e outros armamentos no platô tibetano seriam proibidos;
o platô tibetano seria transformado no maior parque natural ou de biosfera do mundo. Leis severas seriam redigidas para proteger a vida selvagem e a vida vegetal; a exploração de recursos naturais seria cuidadosamente regulamentada para não haver danos relevantes aos ecossistemas, e seria adotada uma política de desenvolvimento sustentável nas áreas habitadas.
seriam proibidas a fabricação e a utilização de armas nucleares e de outras tecnologias que produzam resíduos perigosos;
os recursos nacionais e a política seriam dirigidos para a promoção dinâmica da paz e da proteção ambiental. As organizações dedicadas a promover a paz de todas as formas de vida seriam bem acolhidas no Tibet;
seria encorajado o estabelecimento no Tibet de organizações internacionais e regionais para a promoção e proteção dos direitos humanos.
A altitude e a extensão do Tibet (do tamanho da Comunidade Européia) e também a sua história única e a profunda herança espiritual o tornam um local ideal para desempenhar o papel de santuário da paz no coração estratégico da Ásia. Isso também se ajustaria à posição histórica do Tibet como uma nação budista pacífica e como uma região intermediária que separa grandes poderes do continente asiático, muitas vezes rivais.
Para reduzir as tensões existentes na Ásia, o presidente da União Soviética, Sr. Gorbatchev, propôs a desmilitarização das fronteiras soviético-chinesas e a sua transformação numa "fronteira de paz e de boa vizinhança". O governo do Nepal tinha proposto anteriormente que a parte correspondente ao Himalaia do Nepal, fronteiriça do Tibet, se tornasse uma zona de paz, embora esta proposta não incluísse a desmilitarização do país.
Para haver estabilidade e paz na Ásia, é essencial criar zonas de paz para separar os maiores poderes do continente e os adversários em potencial. A proposta do Presidente Gorbatchev, que inclui também uma retirada completa das tropas soviéticas da Mongólia, ajudaria a reduzir a tensão e o potencial confronto entre a União Soviética e a China. Uma verdadeira zona de paz deve também ser claramente criada para separar os dois países mais populosos do mundo: a China e a Índia.
O estabelecimento de uma zona de ahimsa requereria a retirada das tropas e das bases militares do Tibet, o que possibilitaria que a Índia e o Nepal também retirassem suas tropas e bases militares da região do Himalaia fronteiriça do Tibet. Isto teria que ser conseguido por meio de acordos internacionais. Seria do maior interesse para todas as nações da Ásia, particularmente da China e da Índia, pois aumentaria a sua segurança ao mesmo tempo em que reduziria a preocupação econômica de manter uma grande concentração de tropas em áreas remotas.
O Tibet não seria a primeira área estratégica a ser desmilitarizada. Partes da Península do Sinai — o território egípcio que separa Israel do Egito — ficaram desmilitarizadas por algum tempo. Naturalmente, a Costa Rica é o melhor exemplo de um país totalmente desmilitarizado.
O Tibet também não seria a primeira área a ser transformada numa reserva natural da biosfera. Foram criados muitos parques desse tipo no mundo. Algumas áreas especialmente estratégicas foram transformadas em "parques de paz" naturais. Dois exemplos são o Parque La Amistad na fronteira entre a Costa Rica e a Nicarágua.
Quando visitei a Costa Rica este ano constatei como um país pode se desenvolver com sucesso sem um exército, como se tornar uma democracia estável comprometida com a paz e com a proteção do ambiente natural. Isso confirmou a minha crença de que a minha visão do Tibet no futuro é um plano realista e não meramente um sonho.
Permitam-me terminar com uma nota de agradecimento a todos vocês e a seus amigos que não se encontram aqui hoje. A preocupação e o apoio que expressaram pela situação dos tibetanos nos tocou imensamente e continuará a nos dar coragem para lutar pela liberdade e pela justiça, e não pelo uso de armas, mas com as máquinas poderosas da verdade e da determinação. Sei que falo em benefício de todo o povo do Tibet quando agradeço a vocês a peço que não esqueçam o Tibet neste momento crítico da história do nosso país. Esperamos também contribuir para o desenvolvimento de um mundo mais pacífico, mais humano e mais belo. Um futuro Tibet livre buscará ajudar àqueles que passam por necessidades em todo o mundo, a proteger a natureza e a promover a paz. Acredito que a nossa capacidade tibetana de combinar qualidades espirituais com atitudes realistas e práticas nos capacita a fazer uma contribuição especial, embora de maneira modesta. Essa é a minha esperança e a minha oração.
Para concluir, permita-me partilhar com vocês uma pequena oração que me transmite grande inspiração e determinação:
Enquanto o espaço existir
 E enquanto houver seres humanos
 Que eu também permaneça
 Para dispersar a miséria do mundo.
Obrigado.

Fonte:dalailama.org.br-Discurso do Dalai Lama quando recebeu o premio nobel da paz.




É POSSÍVEL PREVER O FUTURO ?


É possível prever o futuro?
Teria a mente humana a habilidade de viajar no tempo e enxergar acontecimentos que ainda estão por vir?
por Tânia Nogueira

Como tinha previsto a própria morte, Nostradamus cuidou pessoalmente de todos os detalhes de seu sepultamento. Conforme sua vontade, foi enterrado em pé na parede de uma igreja e, dentro da sepultura, foi colocada uma placa metálica com uma data inscrita. Isso foi em 1566. Em maio de 1791, durante a Revolução Francesa, um grupo de soldados bêbados abriu sua sepultura e, junto aos ossos, encontrou a placa. Nela estava escrito: maio, 1791.
Esta é só uma das fantásticas histórias contadas a respeito do médico, astrólogo e esotérico francês. Ele é o caso mais famoso do que hoje se define como uma pessoa com capacidade de precognição, ou seja, premonição, prever os acontecimentos do futuro. Altamente erudito, Nostradamus escreveu suas profecias em linguagem cifrada, nada fácil de se entender. Mas seus intérpretes juram que ele não errou uma, que previu a Revolução Francesa, o aparecimento de Napoleão, Hitler, o assassinato de Kennedy. Dizem também que ele previu a terceira guerra mundial e a chegada do anticristo.
 Na verdade, há uns anos diziam que ele teria previsto a terceira guerra para 1999. Como não foi, ninguém mais fala nisso. As interpretações mudaram, falam apenas que o mal virá do céu, que haverá um período longo de desgraças e depois tudo se estabilizará.
 O quanto há de verdade por trás do mito de Nostradamus é difícil de dizer. Mas ele não foi o único que dizia ter capacidade de ver o futuro. Há outros casos famosos como o do argentino Benjamin Solari Parravicini, que teria previsto a criação do coração artificial e a ocupação de Paris pelos nazistas. O mundo está cheio de pessoas que dizem ter esse dom. E alguns cientistas tentam criar experiências para testar a veracidade desse poder. No Instituto de Pesquisas Bay, em Palo Alto, na Califórnia, por exemplo, foi feito um estudo em que duas pessoas tinham de adivinhar, com dois dias de antecedência, uma etiqueta que lhes seria mostrada. Em 12 tentativas, eles acertaram 11.
 Stephen Hanking-
 Nos últimos trezentos anos foram descobertas as leis científicas que governam a matéria em todas as situações normais, mas ainda desconhecemos as que a governam em condições extremas. Tais leis são importantes para compreender como começou o Universo, embora não afetem sua evolução, a não ser que ele retorne a um estado de altíssima densidade. O fato de que tenhamos de gastar enormes somas para construir gigantescos aceleradores de partículas para comprovar a existência dessas leis mostra quão pouco elas afeiam a nossa realidade atual.

 Ainda que possamos conhecer as leis mais importantes que governam o Universo, talvez não sejamos capazes de utilizá-las para prever o futuro remoto. Isso porque a solução das equações da Física pode sempre conter uma propriedade chamada caos - e isso significa que as equações podem não ser estáveis. Bastará uma leve alteração, durante brevíssimo período, no modo como um sistema existe para que seu comportamento seguinte se torne completamente diferente. Por exemplo, se o crupiê mudar ligeiramente a maneira de girar a roleta, será outro o número vencedor. E impossível predizer esse número e, se não fosse assim, os físicos fariam fortuna nos cassinos.

 Nos sistemas caóticos, há geralmente uma escala de tempo na qual uma pequena mudança num estado inicial crescerá até tornasse duas vezes maior. No caso da atmosfera terrestre, a escala é de cinco dias, aproximadamente o tempo que o vento leva para dar a volta ao planeta. É possível fazer prognósticos meteorológicos razoavelmente precisos para cinco dias, mas previsões além desse prazo exigiriam conhecimento preciso do estado presente da atmosfera e um cálculo impossível, devido à sua complexidade. Não há como prever o tempo para seis meses, a não ser anunciando as médias normais para a estação do período.

 Aconteça o que acontecer à Terra, o resto do Universo continuará inalterado. O movimento dos planetas ao redor do Sol é definitivamente caótico, mas numa escala muito ampla. Como os erros de qualquer previsão se tornam maiores só depois de transcorrido muito tempo, podemos estar seguros de que por um período muito longo a Terra não corre o risco de chocar com Vênus, embora não se possa descartar a possibilidade de que pequenas perturbações nas suas órbitas provoquem esse choque dentro de, digamos, 1 bilhão de anos. Os movimentos do Sol e das outras estrelas na Galáxia, e desta no grupo galáctico local, são caóticos. Observamos que as outras galáxias se distanciam de nós, e que quanto mais distantes se encontram, mais depressa se afastam. Isso significa que o Universo está se expandindo nessa região e que as distâncias entre as galáxias crescem com o tempo.

 A prova de que essa expansão é uniforme e não caótica é dada por um fundo de radiações de microondas, procedentes do espaço exterior. Essa radiação pode ser observada sintonizando-se um canal vazio de um televisor comum, em casa. Uma pequena parcela dos pontos que aparecem na tela são devidos a microondas que chegam de fora do sistema solar. É a mesma espécie de radiação produzida pelo forno de microondas doméstico, embora bem mais fraca: ela só aqueceria um prato de comida até 2,7 graus Kelvin acima de zero absoluto, portanto não serviria para assar a pizza semipronta comprada no supermercado. Supõe-se que essa radiação seja um resíduo de uma etapa primitiva e quente do Universo. O mais notável é que o seu volume é quase o mesmo, em todas as direções. Ela foi medida com precisão pelo satélite Cosmic Background Explorer (COBE). O mapa estelar produzido a partir dessas medições mostra diferentes temperaturas de radiação, mas as diferenças são muito pequenas. Elas se explicam pelo fato de que, hoje, o Universo que observamos é irregular, com estrelas, galáxias e aglomerados de galáxias. Como a radiação de fundo é um resíduo de um momento em que o Universo estava começando a se formar, é natural que as variações nela encontradas sejam pequenas - elas cresceram conforme o Universo foi se expandindo, ao longo do tempo. Podemos dizer que a radiação de fundo é 99,999...% igual em todas as direções. Antigamente as pessoas acreditavam que a Terra fosse o centro do Universo. Porém, desde Copérnico fomos rebaixados à condição de pequeno planeta girando ao redor de uma estrela comum, na borda externa de uma galáxia típica entre os 100 bilhões que podemos distinguir. Somos tão modestos que não podemos reivindicar nenhuma posição de destaque no Universo. Temos de supor, então, que a radiação de fundo é também igual em qualquer direção, em tomo de qualquer outra galáxia. Isso só será possível se a densidade média do Universo e o ritmo de expansão forem iguais em todas as partes. Uma variação da densidade média ou no ritmo de expansão de uma grande região determinaria diferenças na radiação de fundo proveniente de diferentes direções. Isso significa que, em grande escala, o comportamento do Universo é simples, e não caótico. É possível, portanto, fazer previsões para um futuro distante.

 Como a expansão do Universo é muito uniforme, é possível descrevê-la com um único número, que represente a distância entre duas galáxias. Essa distância cresce agora, mas devemos esperar que a atração gravitacional esteja freando o ritmo de expansão. Se a densidade do Universo for superior a um certo valor crítico, a atração gravitacional chegará a deter completamente a expansão. O Universo então deverá contrair-se, até acabar no Big Crunch (Grande Colapso). Ele seria muito semelhante ao que foi o Big Bang, uma singularidade, um estado de densidade infinita onde falhariam as leis da Física. Ainda que houvesse acontecimentos depois do Big Crunch, seria impossível prevê-los; sem uma relação entre fenômenos, não há como mostrar que eles acontecerão sucessivamente.

 Mas, se a média da densidade do Universo for inferior ao valor crítico, ele prosseguirá expandindo-se indefinidamente. Depois de um certo (longuíssimo) tempo, a densidade será tão baixa que a atração gravitacional não terá mais efeito significativo para frear a expansão. As galáxias continuarão a se separar, a uma velocidade constante. Portanto, a pergunta crucial a ser feita acerca do futuro do Universo é esta: qual é sua densidade média? Creio desfrutar de certas vantagens sobre outros profetas catastrofistas: ainda que o Universo vá se contrair, posso prever que não deixará de se expandir pelos próximos 10 bilhões de anos - e não espero estar aqui para comprovar que me enganei.

 Pode-se tentar estimar a densidade média do Universo a partir de observações. Se contarmos as estrelas que conseguimos enxergar e somarmos suas massas, obteremos menos de 1% da densidade crítica. Ainda que juntemos as massas das nuvens de gás que podemos perceber, o resultado será ainda 1 % do valor crítico. Mas sabemos que o Universo contém, também, o que se convencionou chamar matéria escura, que não podemos observar direta-mente. Uma prova da existência dessa matéria escura vem das galáxias em espiral. São enormes coleções de estrelas e gás girando ao redor do seu centro. Mas a velocidade de rotação é tão alta que a galáxia se dissolveria se somente contivesse as estrelas e o gás. Deve haver uma forma invisível de matéria cuja atração gravitacional seja suficiente para manter todos os corpos girando no interior da galáxia.

 Outra prova da existência da matéria escura vem dos aglomerados galácticos. Observamos que as galáxias não se distribuem uniformente pelo espaço, mas se congregam em aglomerados que podem ter apenas algumas, ou milhões de galáxias. Presumivelmente, esses aglomerados se formam porque as galáxias se atraem mutuamente. Se medirmos a velocidade a que elas se afastam umas das outras, descobriremos que são tão altas que os aglomerados se dispersariam se não estivessem contidos por uma força gravitacional muito mais forte do que aquela criada pela massa visível. Assim, podemos concluir que além dos corpos que enxergamos, tais galáxias devem possuir uma quantidade de matéria escura indispensável para que se mantenham unidas.

 É possível fazer uma estimativa razoável do volume dessa matéria escura existente nas galáxias e nos aglomerados de galáxias. Ela só representa 10% da densidade crítica necessária para que o Universo se contraia. Assim, se nos fiarmos apenas nesses dados, devemos prever que a expansão continuará indefinidamente. Ao fim de uns 5 bilhões de anos o Sol ficará sem combustível nuclear; crescerá até se transformar numa estrela gigante vermelha, e evoluirá para a condição de anã branca, pequena, de grande densidade. Estou anunciando, portanto, o fim do mundo, mas não creio que tal profecia faça baixar os índices da Bolsa de Valores. Há um ou dois problemas mais imediatos para prender nossa atenção e a dos investidores. É provável que quando o Sol crescer dessa maneira, já teremos dominado a técnica das viagens interestelares e poderemos fugir para lugar seguro - se antes não tivermos nos aniquilado a todos, numa guerra insensata.

 Dentro de 10 bilhões de anos, a maioria das estrelas terão esgotado seu combustível. Estrelas com massa igual à do Sol se tornarão anãs brancas ou estrelas de nêutrons, ainda menores e mais densas. É possível que as maiores se convertam em buracos negros, muito menores e com campo gravitacional tão intenso que nada deixam escapar, nem a luz. Ainda assim, esses resíduos continuarão descrevendo uma órbita ao redor do centro da galáxia a cada 100 milhões de anos. Choques entre eles determinarão que alguns sejam arremessados para fora da galáxia; os demais continuarão sua viagem, em órbitas cada vez mais próximas do centro e com o tempo formarão um gigantesco buraco negro. É de esperar que a matéria escura da galáxia, seja ela o que for, também seja tragada por ele.

 Podemos supor, portanto, que a maior parte da matéria das galáxias e dos aglomerados de galáxias acabará em buracos negros. Mas há algum tempo descobri que tais buracos negros não são assim tão negros como costumam ser pintados. O princípio de indeterminação da mecânica quântica indica que as partículas não podem ter bem definidas, simultaneamente, sua posição e sua velocidade. Quanto maior a precisão com que se defina a posição, menor será a exatidão com que se determine a velocidade, e vice-versa. Se uma partícula se encontra dentro de um buraco negro, sua posição estará bem definida, mas sua velocidade não. Pode ser que seja superior à velocidade da luz, e assim a partícula poderia escapar do buraco negro. Partículas e radiação sairiam pouco a pouco.

 Um buraco negro no centro de uma galáxia precisará de 10 90 anos para desintegrar-se e desaparecer completamente; esse número é 1 seguido de 90 zeros. Representa muito mais do que a idade atual do Universo, que é de 10 10, 1 seguido de 10 zeros. Mas passará muito mais tempo se o Universo se expandir indefinidamente. Vamos reconhecer: o futuro de um Universo em expansão permanente será tedioso. De qualquer forma, não é certo que isso aconteça; temos apenas a prova concreta de que não conseguimos detectar mais do que 10% da matéria escura indispensável para a densidade que faria o Universo contrair-se. Mas é possível que existam outros tipos de matéria escura, ainda não descobertos, que poderiam elevar a densidade média até alcançar ou ultrapassar o nível crítico. Essa matéria escura adicional terá de ser encontrada fora das galáxias e dos aglomerados de galáxias, pois de outro modo já a teríamos localizado na rotação desses corpos.

 Por que devemos acreditar que pode existir matéria escura suficiente para que o Universo comece a se contrair? Por que não nos limitamos a trabalhar com a matéria que já podemos detectar? A razão é que deve existir um equilíbrio preciso entre a densidade de um determinado momento da evolução do Universo e o ritmo de expansão. Se a densidade apenas 1 segundo depois do Big Bang tivesse sido superior em uma bilionésima parte do que foi, o Universo teria se contraído ao cabo de dez anos; se tivesse sido inferior na mesma quantidade, ele estaria vazio passados os mesmos dez anos.

 Como se definiu tão precisamente a densidade do Universo? Talvez haja alguma razão para que ele tenha exatamente essa densidade crítica. Parece haver duas explicações possíveis. Uma é o chamado princípio antrópico, que pode ser resumido assim: o Universo é como é porque se fosse diferente não estaríamos aqui para observá-lo. A idéia é que poderia haver muitos universos diferentes, com diferentes densidades; só aqueles com densidade bem próxima da densidade crítica durariam tempo suficiente para permitir a formação de estrelas e planetas. Logicamente, somente neles poderá haver seres inteligentes que façam a pergunta: por que a densidade é tão próxima da cifra crítica? Se esta é a explicação para a presumida densidade do Universo, não há razão para crer que ele contenha mais matéria do que a já descoberta: uma décima parte da densidade crítica, neste momento, significaria matéria suficiente para que se formassem galáxias e estrelas.

 Mas muitos cientistas não gostam do princípio antrópico, porque ele valoriza demais nossa própria existência. Procuraram, por isso, outra explicação possível para o fato de a densidade precisar estar tão próxima do valor crítico, e chegaram à teoria da inflação no Universo primitivo. Diz ela ser possível que o tamanho do Universo fosse dobrando, do mesmo modo que os preços dobram, em poucos meses, nos países dominados por elevada inflação. Mas a inflação do Universo deveria ter sido muito mais rápida e violenta: um aumento por um fator de ao menos 1 quatrilhão já o teria situado bem perto da densidade crítica. Se essa teoria estiver correta, o Universo deve conter matéria escura suficiente para elevar sua densidade até o ponto crítico, quando começará a se contrair - mas isso não deve acontecer dentro do período de 15 bilhões de anos em que ainda está se expandindo.

 Que tipo de matéria escura adicional deverá existir, se estiver certa a teoria da inflação? Com certeza diferente da matéria normal, que forma estrelas e planetas. Podemos calcular o volume dos diversos elementos leves que teriam aparecido nas etapas primitivas e quentes do Universo, durante os três primeiros minutos após o Big Bang. A quantidade desses elementos depende do volume da matéria normal existente no Universo. É preciso traçar um gráfico onde se represente verticalmente a quantidade desses elementos leves e, horizontalmente, a quantidade da matéria normal. Verificaremos, então, que a quantidade de elementos leves tal como a calculamos coincide com a da matéria normal, se esta representar aproximadamente a décima parte da quantidade crítica. É possível que esses cálculos estejam errados, mas é impressionante que obtenhamos esses resultados a partir da observação de vários elementos diferentes.

 O mais provável é que essa matéria escura seja constituída de restos das etapas primitivas do Universo, partículas elementares que acreditamos poderem existir, mas ainda não as detectamos efetivamente. O caso mais promissor é o de uma partícula de cuja existência já temos boas provas, o neutrino. Acreditava-se que ele não tinha massa, mas observações recentes sugerem que pode ter alguma, ainda que bem reduzida. Se isso for confirmado, e se pudermos obter um valor preciso, muito provavelmente os neutrinos proporcionarão massa suficiente para elevar a densidade do Universo ao seu valor crítico, indispensável para que um dia comece a se contrair.

 Outra possibilidade está nos buracos negros. É possível que o Universo primitivo experimentasse o que se chama uma transição de fase. A ebulição e o congelamento da água são exemplos de transições de fase. Nos dois casos, um meio tradicionalmente uniforme, a água, apresenta irregularidades, que podem ser pedras de gelo ou borbulhas do vapor. No caso do Universo, tais irregularidades podem contrair-se, para formar buracos negros. Se eles fossem bem pequenos, teriam desaparecido por causa do princípio de indeterminação da mecânica quântica, como vimos atrás. Mas se tivessem ultrapassado os limites de uns tantos bilhões de toneladas (a massa de uma montanha), eles ainda existiriam e seriam muito difíceis de detectar.

 A única maneira de perceber a matéria escura que estivesse uniformemente distribuída pelo Universo seria por meio de sua influência no ritmo de expansão. É possível determinar o grau em que esse ritmo se reduz medindo a velocidade com que as galáxias distantes se afastam de nós. A verdade é que observamos essas galáxias num passado distante, quando saiu de lá a luz que agora está chegando aos nossos olhos. Pode-se traçar um gráfico da velocidade dessas galáxias em relação com seu brilho ou magmtude aparentes, o que é uma medida de sua distância em relação a nós. Diferentes linhas desse gráfico correspondem a diferentes taxas de redução do ritmo de expansão; uma Unha curvada para cima corresponderá a um Universo que vai se contrair. À primeira vista, as observações parecem apontar para a possibilidade da contração. O mau, porém, é que o brilho aparente de uma galáxia tão distante não é um indício muito seguro da distância que a separa de nós. Não apenas há uma considerável variação desse brilho, mas também há provas de que ele foi diferente ao longo do tempo. Como não sabemos calcular essas variações, não podemos dizer qual é sua taxa de redução: bastante rápida para que o Universo acabe se contraindo, ou lenta para permitir que ele continue se expandindo indefinidamente. Será preciso obter meios melhores para medir as distâncias até as galáxias longínquas, mas por enquanto podemos estar seguros de que o Universo não começará a se contrair dentro de alguns poucos bilhões de anos.

 Nem a expansão indefinida, nem a contração dentro de 100 bilhões de anos, ou coisa parecida, , são perspectivas atraentes. Haverá algo que possamos fazer para melhorar nosso futuro? Um modo de consegui-lo seria nos internarmos em um buraco negro. Teria de ser suficientemente grande, mais de 1 milhão de vezes a massa do Sol. E há evidências de que pode existir tal buraco negro, aqui bem perto, no centro da nossa galáxia. Ainda não estamos bem seguros do que acontece no interior de um buraco negro. Há soluções das equações da teoria da relatividade geral que indicam a possibilidade de cair num buraco negro e sair por um buraco branco em outro lugar qualquer. Um buraco branco é a inversão do tempo de um buraco negro: as coisas poderiam sair dele, portanto, mas não entrar. Ele poderia encontrar-se em outro ponto do Universo, e isso ofereceria a possibilidade de rápidas viagens intergalácticas. O risco é que elas sejam demasiado rápidas. Se essas viagens entre buracos negros e brancos fossem possíveis, nada impediria alguém de voltar antes de partir. Poderia fazer algo como matar a própria mãe, o que o impediria de chegar ao seu ponto de partida.

 Para sorte de nossa sobrevivência (e das nossas mães), parece que as leis da Física não permitem tais viagens pelo tempo. Talvez exista um Instituto de Proteção da Cronologia que, ao impedir viagens ao passado, garanta o emprego dos historiadores. O que provavelmente aconteceria se alguém fosse ao passado seria que os efeitos do princípio de indeterminação, já explicados neste trabalho, originariam um volume muito grande de radiação. Essa radiação ou encheria o espaço-tempo de dobras, tornando impossível o regresso, ou faria com que ele chegasse ao estado de singularidade, tal como aconteceu no Big Bang. De qualquer forma, nosso passado estaria livre dos bisbilhoteiros. Essa hipótese da proteção da cronologia está baseada em cálculos feitos por diversos cientistas, entre os quais me incluo. Mas a melhor prova de que dispomos sobre a impossibilidade atual (e permanente) das viagens no tempo é que até agora não fomos invadidos por hordas ruidosas de turistas do futuro.

 Em resumo: os cientistas acreditam que o Universo é governado por leis bem definidas que, em princípio, permitem predizer o futuro. Mas o movimento assinalado por essas leis é comumente caótico. Isso significa que uma pequena modificação na situação inicial pode levar a uma modificação no passo seguinte, e se transformar rapidamente numa modificação muito grande. Dessa forma, só é possível predizer o futuro num prazo muito curto. Em todo caso, o comportamento do Universo, em grande escala, parece ser simples e não caótico. A possibilidade de que ele se expanda indefinidamente ou, ao contrário, comece a se contrair, depende do cálculo da densidade atual da quantidade de matéria que o compõe. Pelo que podemos observar, essa densidade está bem próxima da cifra crítica que nos colocaria entre a possibilidade da expansão e a possibilidade da contração. O Universo estaria, então, neste momento, sobre o fio da navalha. Pode-se perceber que eu pertenço à inveterada tradição dos profetas que garantem sua retaguarda predizendo tanto uma coisa quanto outra.
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 Fonte: Tania Nogueira e Stephen Hanking-Revista Superinteressante




AMAIVOS UM AO OUTRO,PORÉM NÃO FAÇAIS DO AMOR UM GRILHÃO !


O Profeta

 Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão:
 Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
 Encheis a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.
 Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.
 Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vos estar sozinho,
 Assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

 Dai vossos corações, mas não confieis a guarda um do outro.
 Pois somente a mão da vida pode conter nossos corações.
 E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia;
 Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,
 E o carvalho e o cipreste não crescem a sombra um do outro.

Khalil Gibran




CRÔNICA DO AMOR !





 Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

 O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

 Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

 Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

 Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

 Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

 Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
 ódio vocês combinam. Então?

 Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

 Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
 menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

 Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
 este cara?

 Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

 É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
 por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

 Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

 Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

 Não funciona assim.

 Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

 Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

 Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabor- Fonte:Pensadoruol.com.br




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BOA NOVA AOS QUE TÊM BAIXA AUTOESTIMA !

Na baixa auto-estima Caro trabalhador, estamos contigo. Na baixa auto-estima não duvides nunca da nossa presença. Mantém-te firme neste trabalho de levar a Boa Nova aos que te rodeiam. És mensageiro nato e deves cumprir com a tua missão. Se oras e vigia, então és mensageiro sim senhor. Deves ter cautela nas relações humanas, principalmente com a pessoa que vive próxima a ti. Todos tivemos experiências difíceis no passado, das quais nem sempre saimos bem sucedidos, e delas, tens de tirar lição de vivência. O fato de, por vezes, estar em solidão, mesmo com companhia ao lado, força-te a saber momentos com o moral pra baixo. Estas angústias fazem de ti o ser que se põe em contato com tua própria identidade. São os conhecidos momentos de baixa auto-estima. Isto é pertinente à classe de provas que deves levar, misturadas às expiações e, mescladas umas às outras, vêm proporcionar o choque da decisão. Feliz é aquele que passa por estas dores; é o momento exato de se erguer, nascendo para a vida dos buscadores. És o trabalhador que campeia a lucidez de consciência para a luz da vida, para unir-se ao mundo uníssono no amor; é para a interiorização do mesmo sentimento que tem o pai pelo filho, o aprendizado do amor. Amigo, jamais te esqueças disto quando te sentires só. F.L.

 Fonte:Oscar Herlinger,pelo espírito de Fernando de Lacerda.

 Exercício para combater a baixa auto-estima :: Izabel Telles :: O QUE É AUTO-ESTIMA? AUTO significa uma forma da pessoa se referir a si própria. ESTIMA é o sentimento do bem querer, do respeito, da admiração, da alegria em sentir, em valorizar com dignidade, com afeto e com compaixão. AUTO-ESTIMA portanto, é quando alguém se vê como uma pessoa digna de ser amada, respeitada e valorizada, antes e acima de tudo, por si própria. BAIXA AUTO-ESTIMA é quando este sentimento está abalado, destruído, impotente ou mesmo falido. É quando você acha que todos são melhores do que você e que sua vida não vale mais a pena. Todos são mais felizes, mais bem sucedidos, mais capazes. No popular, é quando você está se sentindo por baixo. O que fazer? Primeiro: pare de se comparar com os outros. Nenhuma impressão digital é igual a outra. Você também é única. Segundo: desligue os programas da mídia que mostram para você homens e mulheres moldados para consumo. Você não é um carro que precisa mudar de modelo todos os anos para ser consumido. Você é um ser humano dotado de corpo, alma e espírito. Faça isso valer sobre os que querem transformar você em uma marionete. Terceiro: procure se relacionar com pessoas que aceitam você exatamente como você é. Não minta para você mesma, não represente o que não é, não tente agradar os outros. Seja autêntica e realista. Só a verdade liberta. Se quiser pode obter ajuda fazendo este exercício com imagens mentais durante 21 dias, três vezes ao dia: ao acordar, antes de almoçar e antes de dormir. Eles são rápidos, instantâneos. Siga as instruções que foram dadas anteriormente e ponha a sua atenção na intenção deste exercício. O NASCIMENTO DA AUTO-ESTIMA: Veja, sinta, perceba, imagine ou faça de conta que você está sentado sobre um baú no meio de um deserto. Olhe ao seu redor e veja que o céu esta cinzento e que a terra está seca e desnutrida. Saiba que este deserto representa você. Respire uma vez e abra a tampa deste baú. Imagine-se tirando de dentro dele sementes que você jogará ao seu redor e cada vez mais alto e mais longe. Veja surgir flores, árvores, pássaros, rios. Olhe o céu azul e veja o sol brilhando sobre você. Sinta a sua transformação e um novo ser nascendo de você. Desperte para a luz e para a alegria de amar-se definitivamente. Respire e abra os olhos!!!

 Fonte:somostodosum.ig.com.br




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Estória que ensina o verdadeiro sentido do natal





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DE UMA PLANTA BROTA UMA FLOR, ASSIM É O AMOR ! A descoberta do amor.



“[…] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. […] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. […] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.”

Fonte:Clarice Lispector-

Uma escritora decidida a desvendar as profundezas da alma. Essa é Clarice Lispector, que escolheu a literatura como bússola em sua busca pela essência humana. Sua tentativa de transcender o cotidiano revela-se em personagens na iminência de um milagre, uma explosão ou uma singela descoberta. Todos suscetíveis aos acontecimentos do dia a dia. Vidas que se perdem e se encontram em labirintos formados por uma linguagem única, meticulosamente estruturada. E é por essa linguagem que Clarice Lispector constrói uma obra de caráter tão profundo quanto universal.

Fonte:Clariceandoclaricetumblr.com







O AMOR VEM DO CORAÇÃO,MAS E O ÓDIO ?



Dizem que o amor vem do coração, mas e o ódio? Pesquisadores estão em busca dos fundamentos neurológicos do ódio, assim como da música, da religião, da ironia e de outros conceitos abstratos. A ressonância magnética funcional (RMf) começa a revelar como essa forte emoção se inicia no cérebro.

No ano passado, o neurobiólogo Semir Zeki, do Laboratório de Neurobiologia da University College London, liderou um estudo que mapeou os cérebros de 17 adultos enquanto contemplam imagens de pessoas que eles admitiram odiar. Na tela nota-se que áreas no giro frontal medial, putâmen direito, córtex pré-motor e ínsula medial foram ativados. Os pesquisadores observaram que partes do chamado “circuito do ódio” também estão envolvidas no início de um comportamento agressivo, mas sentimentos intrinsecamente agressivos ─ como raiva, perigo e medo ─ apresentam padrões cerebrais diferentes dos do ódio.

Certamente o ódio pode surgir de sentimentos positivos, como o amor romântico ─ na figura de um ex-parceiro ou rival em potencial. O amor, porém, parece desativar áreas tradicionalmente associadas com o julgamento, enquanto que o ódio ativa áreas do córtex frontal que podem estar relacionadas com a avaliação de outra pessoa e previsão de seu comportamento.

Algumas associações com o amor, entretanto, são surpreendentes, observam os autores do estudo publicado em outubro de 2008 na PLoS ONE. As áreas do putâmen e ínsula ativadas pelo ódio são as mesmas das do amor romântico. “Essa ligação pode explicar porque amor e ódio estão tão intimamente relacionados nas pessoas.”

No entanto, esse estudo inicial não convenceu a comunidade científica de que essas são as raízes neurológicas do ódio. “Ainda é realmente muito cedo”, observa Scott Huettel, professor-associado de psicologia e neurociência da Duke University, não envolvido no estudo. Outras emoções, como felicidade e tristeza, já são mais bem compreendidas, acrescenta. “Até sensações como arrependimento têm coordenadas neurais bem definidas.”

O próximo passo, segundo Huettel, será realizar mais pesquisas sobre aspectos bem específicos e tipos de ódio ─ incluindo ódio contra grupos de pessoas em vez do ódio a uma única pessoa ─ e depois testá-las em diferentes situações. Também será importante estudar casos em que partes do cérebro tenham sido danificadas e tendências emocionais tenham sido alteradas. “Se a ativação positiva e a debilidade, de uma região do cérebro danificada, forem identificadas, já será um bom indício de que se encontrou, pelo menos, uma parte do circuito”.

Para que serve o ódio, ainda é uma questão debatida. Embora alguns argumentem que o sentimento oferece uma vantagem evolucionária ─ poderia ajudar as pessoas a decidir quem confrontar ou desprezar ─, Huettel observa que, da mesma forma que se identifica um circuito neural dedicado, tudo não passa de “um palpite bem dado".

Fonte :Scientific Amaerican Brasil







O PROCESSO DO ÓDIO E AMOR(ANÁLISE PSICOLÓGICA)







"A hipocrisia é o mais belo monumento do ódio, sendo que seus lugares de visitação pública são: a política, a moral e a religião". (ANTONIO CARLOS- PSICÓLOGO)

"Amor, trabalho e relações sociais deveriam ser o centro da existência humana, porém, a tríade que guia nossa conduta nesses tempos é representada por: ódio, inveja e sabotagem do prazer. (ANTONIO CARLOS - PSICÓLOGO)".

"Só haveria algo positivo na inveja se pudéssemos reproduzir fielmente o modelo de vida de alguém realmente criativo.(ANTONIO CARLOS-PSICÓLOGO)".
Discutir o processo do ódio é sem dúvida nenhuma o maior preconceito relativo às questões humanas. É quase impossível encontrar alguém que admita sentir ou nutrir tal sentimento, dada toda a educação cristã presente em nossa sociedade. O fato é que admitido ou não, este é um sentimento que representa a essência humana, e não precisaremos observar muito para descobrirmos como se encontra disseminado em todas as condutas e desejos do ser humano.

O amor não deixa de ser algo totalmente ambíguo se pensarmos em seu desenvolvimento num determinado ser humano. Alguém que nunca quase foi amado ou protegido, crescerá sob a égide do ódio ou revolta; em contrapartida, é bastante comum vermos uma pessoa que foi amada e educada corretamente, crescer com o desejo de jamais se desvencilhar da proteção, ou até mesmo do caráter de exploração perante seu meio circundante, apenas desejando continuamente receber. A chama do amor é estritamente uma independência pessoal, aliada à um intenso desejo de receber e dar o prazer das mais diferentes formas: sexual, pessoal ou social. Obviamente a pessoa preparada para o amor, é aquela que conseguiu se livrar de todas as armadilhas pretéritas da criação social, sendo que será sempre um inflamado desejo de investimento no presente, não a dissipação de nossas energias afetivas na lembrança de um passado de dor, ou apenas a fantasia e ilusão de um futuro de felicidade.

Infelizmente poucas pessoas percebem que o amor é uma espécie de portal para as mais diversas emoções humanas: raiva, ódio, solidão, desamparo, abandono, êxtase, culpa dentre outras. O problema passa a existir quando desejamos apenas vivenciar as emoções positivas, esquecendo o outro lado da moeda. O amor em um relacionamento acaba quando nos sentimos indiferentes a felicidade e satisfação do outro, e o mesmo jamais existiu quando não temos energia ou vontade para revertermos tal quadro. Como quase todos sabem, o contrário do sentimento amoroso não é o ódio, mas, a indiferença, que não deixa de ser a prova máxima da incapacidade da escolha correta. Quase todos tentam começar a trilha do amor pela busca da beleza ou desejo sexual, sendo que o ponto crucial é se o outro está plenamente capacitado para nos completar. A própria beleza é uma entidade a parte, não necessitando do amor para sua existência; sua permanência e término seguem um caminho totalmente isolado de outros processos, devido a importância que o meio lhe outorga. O amor é um projeto que sempre incluirá mais de uma pessoa, e quando o desejamos apenas para um desejo privado, estamos apenas cultivando um sofrimento pessoal.

O grande mistério a ser resolvido quando tratamos deste assunto é : Quem é acariciado plenamente com o amor do outro? Alguém que o desejou desenfreadamente? Aquele que desde a tenra idade foi treinado para o mesmo? A personalidade quieta e tranqüila? Ou será que o mesmo é pura questão de sorte? Com toda a certeza, a ansiedade e frustração passam a ser barreiras naturais para a obtenção do mesmo. O que é vital percebermos seria os elementos que corroem dito sentimento. Sobre a própria troca, poucos param para refletir sobre suas sensações e estado emocional no momento em que lhes é exigido doar algo. Seja na sexualidade ou em outra área, o importante é a observação não apenas se o parceiro é capaz de cumprir nossos desejos, mas seu estado mental e como disse, emocional perante os mesmos; sempre o amor será um teste infinito da vontade. Tais reflexões nos levam a perceber qual papel adotamos perante alguém: devedor, culposo, submisso, ou uma pessoa livre e integrada. Não será difícil tomarmos consciência de que o amor para muitos é a fuga absoluta do dever, regredindo ou desejando um estágio de solidão, que por mais doloroso que seja, tranqüiliza a pessoa que resiste plenamente à doação. Também é notório o fato de que qualquer sentimento positivo jamais pode ser plantado no solo da inveja ou competição, do contrário, a relação sempre caminhará para uma tensão inesgotável.

Depois de milhares de explicações, teses e conselhos, é interessante notar como o projeto do amor é talvez um dos mais frágeis do arcabouço da personalidade humana. Como a desilusão e mágoa não demoram a aflorar quando nos vemos envolvidos por determinada pessoa. Parece que nosso sonho ou a mais profunda imagem idealizada de alguém, morre ao primeiro sinal de problema no percurso da relação. Inclusive quase todos compartilham da equação de que quanto maior o sonho, maior será a derrocada. Seria então o amor uma antítese absoluta do desejo ou imaginário temporal cultivado por nós? Seria o amor a prova derradeira de que não possuímos o poder sobre a realização concreta de nossos desejos e fantasias? Na maioria das vezes, nos deparamos com o conhecimento subjetivo de que nossas relações fracassadas apenas espelharam um processo incrivelmente pequeno de apego e orgulho. O amor sempre está associado ao ódio em virtude da corriqueira frustração pessoal da inversão do poder nos relacionamentos, quando se sabe que o parceiro já não mais necessita de nossa afetividade, e contudo, continuamos presos em uma imagem passada que o outro não deseja mais compartilhar. A raiva passa então a ser um mecanismo psicológico de defesa, perante todas as decepções que estão por vir. A raiva e o ódio sempre serão uma fácil escusa para um ser humano totalmente incapacitado para a busca de seu prazer e felicidade pessoal. Deveríamos aprender com tais sentimentos negativos, pois os mesmos são um dos mais precisos instrumentos de medição daquilo que realmente nos falta.

No decorrer da história da psicologia, quase sempre se ressaltou a permanência de resíduos infantis na afetividade adulta, sendo que boa parte dos relacionamentos atuais comprovam tal tese, pois, são nada mais do que uma mescla de infantilismo psíquico aliados à um neurótico desejo de proteção e amparo. Temos muito o que aprender sobre esta matéria, caso não desejemos que nosso futuro pessoal seja uma somatória de caos, terror e experiências de pura decepção. A prática da psicoterapia é essencial para a tomada de consciência de todas as questões levantadas, sendo que o seguir um caminho sem reflexão ou ajuda do próximo só eleva o potencial destrutivo de determinada pessoa.

Infelizmente as pessoas gostam de brincar com palavras, sendo que se faz sempre uma distinção entre os chamados "sentimentos hostis": inveja, raiva e ódio principalmente. Se pararmos para uma reflexão mais apurada descobriremos se tratarem de sinônimos, pois os três elementos citados estão diretamente relacionados à tentativa de impedir o livre fluir de determinado potencial humano. Obviamente quando impedimos que alguém se desenvolva em todos os sentidos, estamos tentando esconder todas as nossas frustrações pessoais e principalmente o prestar contas com nosso próprio potencial não efetuado. Aferir nosso potencial perante outrem sempre será uma das mais dolorosas experiências humanas. Quanto maior nosso sentimento de estarmos aquém de alguma expectativa ou determinada pessoa, maior será nosso desejo de procurarmos companheiros para nossa miserabilidade pessoal, sendo esta a essência máxima do ódio ou inveja, independente das posses ou recursos materiais de cada um.

Esmiuçando um pouco mais a tese acima descrita, concluímos que a própria mágoa nada mais é do que a constante atualização do ódio, sendo que adoramos nutrir dito sentimento diariamente. Em algumas ocasiões perdemos o controle, então surge a vingança como resposta ao apego do qual não desejamos nos livrar. Infelizmente toda a sociedade está mergulhada nesse processo, e quanto maior nosso complexo de inferioridade mais combustível é liberado para aumentar a chama do ódio. O efeito colateral mais grave disso tudo é que a cada dia está mais difícil efetuarmos determinadas tarefas que nos fazem bem ou nos proporcionam prazer, sendo que somos vítimas da sabotagem social e pessoal.

A verdade é que não temos capacidade para lidar com a frustração, sendo que somos absortos pela fúria quando as coisas não saíram como planejado. Deveríamos admitir que não possuímos nenhum treino para a contrariedade ou crítica, seja construtiva ou não, e o sentimento resultante é a raiva contra a pessoa que nos apontou algo.

É incrível observar como determinado sentimento tão arraigado na natureza humana é totalmente reprimido, agindo sempre nos bastidores de nossas relações.

Talvez nossa única saída seja sempre termos uma segunda opção, embora isso comprometa de forma definitiva as seguintes qualidades: confiança, entrega, dedicação e principalmente fidelidade. É incontestável que o ódio consegue sobrepor inclusive a questão do tempo, pois determinada contrariedade é suficiente para anular toda a energia depositada em algo ou determinada pessoa, sendo que o rancor sempre se torna a sensação resultante.

O tributo maior cobrado pelo ódio é estar à disposição do mesmo constantemente, exaurindo nossa energia para algo que realmente poderia dar certo. Como sempre há uma compensação, a única utilidade de viver dita experiência é a perda da ingenuidade, pois a mágoa nos revela com que tipo de pessoa estamos lidando verdadeiramente. Houve uma significativa mudança da introversão para a extroversão no processo acima descrito, pois na época dos primórdios da psicologia de FREUD se falava em repressão e sintomas oriundos da falta de prazer, pois as pessoas somatizavam sua infelicidade, e embora isso ocorra ainda hoje, há uma progressiva tendência para a exteriorização do dano pessoal, comprometendo ou se torcendo pela insatisfação alheia. O fato marcante é o extremo sentimento de tédio e aprisionamento na rotina diária, e as conseqüências psíquicas são: total insatisfação, angústia e principalmente impotência de lidar com ditas questões. Todos nos sentimos presos, seja na insatisfação, infelicidade, raiva ou vício de qualquer espécie. Assistimos passivos o desenrolar de nossa vida na mais pura insatisfação, juntamente com a extrema angústia de nossos desejos não realizados.

Somos muito sensíveis às experiências negativas e frustrantes, sendo que necessitamos urgentemente da novidade para reavermos nosso equilíbrio psicológico. Este apenas se manifestará no ato criativo, na nossa certeza interior de sempre produzirmos algo e nunca no tamanho de nossas economias ou vaidades pessoais.

Se prestarmos suficiente atenção para o ponto acima descrito, veremos a importância decisiva de sempre estarmos prontos para um recomeço. A própria questão religiosa do perdão se torna obsoleta no contexto citado, pois perdoar sempre é um ato que implica o extremo peso do passado com todas as suas impregnações e seqüelas, e não existe nenhum método religioso ou terapêutico que faça que nos esqueçamos de nossas pendências, exceto a certeza máxima e confiança pessoal de que nossa energia ainda não está acabada, e por respeito ao nosso íntimo devamos prosseguir, embora a maioria das pessoas não esteja preparada para tão árdua tarefa. O principal combustível do ódio é sem dúvida nenhuma o apego, pois o mesmo além de gerador da mágoa nutre de forma inimaginável o rancor, sendo que a tradução deste sentimento é o puro ódio por não se possuir mais determinada coisa.

Historicamente a psicologia provou que a grande raiz do sofrimento psíquico é o passado do indivíduo, sendo que o mesmo acarreta um distúrbio no sentido de reequilibrar a saúde psicológica perdida. Então é necessária a reflexão sobre o preço pago por todos sobre as convicções pessoais e religiosas que carregamos. Quanta soma de angústia ou desespero se fará necessária até a tomada de alguma atitude em relação ao que já ficou para trás? Sabemos que o egoísmo e individualismo são as piores saídas, embora permaneçamos nos mesmos por causa de nossa impotência e espírito individualista.

A tragédia do amor é a falta do mesmo ritmo de um sentimento que deveria ser compartilhado por duas pessoas, ocasionando o máximo de sofrimento para quem deseja estar profundamente envolvido. Infelizmente o amor nega a percepção das diferenças, bem como a possibilidade ou não de se alterar tal quadro; o resultado é a tortura pessoal diária e o aumento exacerbado da fome de nosso espírito por algo que realmente nos preencha.

Todos em algum momento de suas vidas já perceberam que o desejo só nos afasta a cada dia daquilo de que mais necessitamos. Quanto maior nossa volúpia por algo, mais distante se torna nosso sonho de nos sentirmos felizes e confiantes em nossa pessoa. O desejo só não é destrutivo quando temos a pessoa amada ao nosso lado e diariamente temos o deleite de cultivar o amor da relação.Tal fato porém é raríssimo, e como a maioria das pessoas não está capacitada para entregar aquilo que é o mais valioso, a chama do ódio permanecerá constantemente acesa. Desejar na ausência só alimenta nossa miséria pessoal se não traçarmos estratégias para a mudança do quadro citado.

Outro aspecto extremamente importante do ódio a ser elaborado é a questão da perda da identidade pessoal; pois quem estiver mergulhado em dito sentimento transfere sua alma ou os mais íntimos desejos para outra pessoa, seja através do rancor ou vingança, mas o fato é que a partir desse ponto sua vida pessoal é secundária perante o que nutre ou sente pelo outro.

Se verdadeiramente a humanidade almejasse alguma evolução no aspecto do ódio todos teriam que discutir abertamente suas raízes, principalmente no âmbito familiar. Por mais óbvio que seja para qualquer observador não religioso, é impressionante como se nega o fato dos pais desejarem o mesmo destino para seus filhos, sendo que muitas vezes esse desejo é camuflado pela dedicação e sacrifício, sendo que a conseqüência é um exacerbado sentimento de culpa carregado pelos descendentes.

A felicidade demonstrada por uma criança nada mais é do que a ausência da crítica perante determinado evento. Sua alienação básica é o seguro contra o mundo insano, ao mesmo tempo que nos relembra eternamente que poderíamos nos esquecer de certas coisas e seguirmos adiante.

O ódio sempre é um termômetro dos ataques ou injustiças dirigidas ao nosso íntimo. O grande problema é achar que suposto sentimento é o mesmo que destrutividade, sendo o objetivo desta última apenas a aniquilação. Obviamente um ato destrutivo pode ser resultante de um ódio intenso acumulado, porém não podemos nos esquecer que o ódio também pode ser benéfico ao nos mostrar o que nos causa mal estar.

Ódio e amor só caminham juntos devido ao fato do primeiro ser a prova máxima do fracasso de nosso investimento afetivo. O amor é o teste máximo do sucesso ou fracasso pessoal de um ser humano, e nem mesmo o dinheiro ou ambição são capazes de sobrepor tal afirmativa, apenas podem criar um anestésico temporário. O conceito acima descrito é tão nítido que nos tempos atuais as pessoas evitam o envolvimento profundo justamente com receio do sentimento alheio, que para muitos é o teste máximo do amor próprio. Para uma grande maioria ser amado incomoda, pois ditas pessoas não estão dispostas a retribuição. A sedução e conseqüente sentimento de poder há muito substituíram a verdadeira entrega.

A conclusão é que sempre nos identificamos com o vencedor, e temos um terrível medo de a cada dia estarmos mais distantes desse ideal internalizado. Nossa compaixão não é tanto pelo fracassado, mas principalmente uma autopiedade por toda a nossa insegurança. Enfim, a religião é uma tentativa de se criar uma mentira sobre a verdadeira natureza humana, pois a evolução e melhora das relações pessoais e sociais passam necessariamente pela diminuição do poder e controle entre as pessoas, mas infelizmente só temos assistido a mecanismos que impedem o prazer e desenvolvimento natural dos seres humanos. Não ser nocivo implica necessariamente não passar as piores coisas para alguém, coisa rara em nosso cotidiano. Como a cada dia que se passa nosso sofrimento pessoal tem se intensificado, desaprendemos ou não mais desejamos passar nosso melhor pedaço da alma humana.


SEGUNDO TEXTO: O ÓDIO NA DINÂMICA DOS RELACIONAMENTOS

Se desejarmos realmente estudar a fundo determinados sentimentos humanos é urgente que percebamos sua dinâmica nos relacionamentos diários, nos despindo de conceitos prévios ou o velho medo de encarar a verdade. Justamente pelos motivos citados e somando-se a cultura cristã é que carecemos de análises detalhadas acerca do ódio em nossa sociedade, e quando o percebemos já se transformou em pura destrutividade. Assim como a inveja, é um dos sentimentos mais difíceis de ser aceito pelo ser humano, embora em nossos tempos talvez seja o mais vivenciado. A hipocrisia é o eterno combustível da cegueira psíquica e social.

O ódio é o atestado maior da impossibilidade de determinada pessoa de lidar com um novo elemento, não aceitando a perda de uma situação pretérita, sendo a mágoa o recurso psicológico utilizado para a perpetuação de determinada situação que não se deseja abandonar.

É impressionante como em mais de cem anos do começo da psicologia nunca o medo da perda figurou na lista dos maiores dilemas enfrentados pela história do ser humano. Qualquer observador bem intencionado ressalta que pelo menos em nossos tempos uma das maiores tragédias humanas é a dificuldade do recomeço ou o apego à determinada situação. Quase nunca nos ensinaram a aceitar perdas que nos corroem intimamente, e na insegurança da vida moderna o desamparo e carência constantemente são reforçados, minando toda e qualquer sensação de autoestima da pessoa.

Parece que a única posse real de uma pessoa é o sentimento do ódio, mágoa e vazio existencial, já que desejo, felicidade ou amor necessitam serem compartilhados para continuarem existindo. A posse apenas triunfa naquilo que é mais doloroso para a alma humana, e o ódio resultante é a prova da incompetência afetiva para uma nova experiência.

A cristalização definitiva do processo do ódio é quando descobrimos que ninguém mais almeja investir ou compartilhar nosso íntimo. A conseqüência é uma eterna sensação de luto que nos arrebata diariamente, e se fôssemos refletir a fundo, descobriríamos que dita sensação nunca correspondeu a perda de algo genuíno ou saudável, mas mesmo assim sofremos pelo vício, habito ou apego. Traçando um paralelo social, o ódio seria uma resposta similar ao processo econômico, sendo que em ambos os casos a perda é encarada como pânico, e nossa alma presenteia a estrutura vigente com uma resposta psíquica idêntica. É um mito absolutamente falso imputar a etiologia do ódio à questão da agressividade desenvolvida principalmente pelo elemento masculino no decorrer da história humana. As disputas envolvendo o elemento citado quase sempre se travaram no âmbito da posse da territorialidade e conseqüente poder ou dominação sobre outros. Obviamente isso gerou toda a carnificina de nossa espécie, porém o que estou abordando neste estudo é a sensação interna de ódio dentro de uma estrutura psíquica, e esta é desenvolvida a partir do contato com o elemento feminino

Qualquer escola de psicologia irá atestar que o impacto do elemento masculino se dá na esfera social, mas cabe a mãe o poder de atestar ou não o valor íntimo de uma criança em seu desenvolvimento, principalmente pelo jogo das relações afetivas. Isto jamais será uma competição externa que possamos treinar para vencer, mas tão somente um eterno conflito psíquico que sempre nos arrasta para o mais puro sofrimento e sensação de inferioridade, caso o feminino não nos tenha aferido nosso valor pessoal. O treino afetivo cuidadoso com dedicação e vontade é crucial para o desenvolvimento da espontaneidade e valor próprio, do contrário sobra o retraimento, timidez, vergonha e medo de qualquer envolvimento profundo, estimulando na pessoa uma constante autocrítica patológica que a inibe principalmente para o prazer.Aliás, um dos elementos mais comuns nos diversos transtornos da personalidade é o sofrimento relatado pelos pacientes no sentido de diariamente se debaterem intimamente, como se fossem duas personalidades opostas, uma obviamente com a missão de denegrir totalmente o humor e vivacidade da pessoa. Se nos sentimos incapazes de trilhar a estrada do prazer e satisfação pessoal, com certeza nos restará um duelo mental sórdido e autodestrutivo, como alerta de nossa impossibilidade de efetuar algo legitimamente humano e fundamental.

Temos de aprender a enxergar os processos de forma agregada. Assim como amizade, companheirismo e ajuda mútua caminham paralelos; o mesmo se dá com o vício, ódio, timidez e suicídio, por exemplo. Se desde cedo cada ser humano não aprender que existirá sempre um muro para o desenvolvimento pleno, o que é em minha opinião a principal lição psíquica, com certeza cedo ou tarde as coisas se complicarão. Se recentemente se decifrou o código genético humano, ainda assim ficaremos com pudor ou falsa religiosidade para discutirmos as emoções negativas do ser humano? Se a base para qualquer tipo de vacina é o próprio vírus, com o ódio psicologicamente falando temos o mesmo caminho; o desvendar do mesmo é a chave mais segura para o reequilíbrio mental e emocional da pessoa. Infelizmente fica nítido que na presente situação social não se deseja a realização do descrito acima, pois qualquer evolução individual ou coletiva passa necessariamente por determinadas reformulações sociais e de poder que quase a totalidade dos seres humanos não desejam efetuar, a despeito do enorme preço psíquico que pagamos diariamente. O confronto com a infelicidade é o último sinal que nos alerta para que muita coisa ainda falta, embora desejemos instantaneamente a dissolução de tal sensação.

Talvez o grande erro histórico de todas as pessoas que desejaram alguma transformação individual ou social, seja o de terem se preocupado em demasia com qual caminho ético, político ou religioso a seguir, ao invés de concentrarem seus esforços sobre quem realmente deseja ou tem potencial para alguma evolução, desafio este diário em todos os níveis do relacionamento humano.

Cabe uma última reflexão sobre qual processo psíquico está no topo do ódio; deixo ao leitor a conclusão, apresentando apenas alguns elementos, tais como: 1) Seria a autodestrutividade vivenciada através das drogas ou qualquer outro tipo de agressão autodirigida? 2) Ter ciência do melhor caminho a trilhar em todos os níveis da vida, mas mesmo assim permanecer fidedigno às experiências de frustração e carência, concentrando todos os esforços na esperança de receber aquilo que jamais se concretizou, desenvolvendo uma poderosa fé em alguém ou algo impossibilitado de doar? 3) Achar que toda sua história de vida é em todos os sentidos decepcionante, sendo que ninguém aprenderia com a mesma, sua atitude é de total abstinência para as barreiras ao pleno desenvolvimento que diariamente percebe nunca se concretizar?



Fonte :Antonio Carlos Alves de Araujo - Psicólogo




 
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