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sexta-feira, 19 de março de 2010

A Influência Da Ansiedade No Comportamento De Trabalhadores Da Saúde Mental








Por: Ana Patrícia Fonseca Coelho


INTRODUÇÃO

Sentir-se ansioso é uma experiência comum a qualquer ser humano, para vários acontecimentos na vida, sendo um acompanhante do crescimento, de todas as mudanças e experiências adquiridas.

O trabalho de Sims (2001) acrescenta que, a ansiedade é uma emoção tão universal que às vezes seria mal-adaptativo não senti-la; ela é uma parte necessária do organismo ao estresse. Paralelamente, Ballone (2002) ainda ressalta que, a ansiedade é o reflexo emocional do estresse, se tratando de uma atitude fisiológica (normal), responsável pela adaptação do organismo às situações que exigem atitudes. É um sinal de alerta que adverte sobre necessidades de adaptação iminente, capacitando a pessoa para medidas eficientes de enfrentamento, colocando o indivíduo ansioso em posição de alarme física e psiquicamente.

A ansiedade é um acompanhante normal do crescimento, das mudanças, de experiências novas e inéditas, do encontro da própria identidade e do sentido da vida de uma pessoa.

Segundo Stuart (2002), a ansiedade é uma apreensão difusa e vaga associada a sentimentos de incerteza e desesperança, sendo experimentada de forma subjetiva e comunicada de forma interpessoal. Kaplan (1997) destaca que a importância do evento percebido como estressante depende da sua natureza, bem como dos recursos, defesas e mecanismos de manejo do indivíduo.

Entretanto, as pessoas diferem-se quanto à sua forma de reagir aos desafios impostos pela vida. Enquanto algumas são capazes de superar uma perda altamente significativa, outras podem dar início a um transtorno psiquiátrico diante de um acontecimento estressante de menor gravidade. Assim, as variáveis individuais desempenham um papel decisivo na formação de um problema psicopatológico.

A ansiedade passou a ser a causa de distúrbios, quando o ser humano colocou-a, não a serviço de sua sobrevivência, como fazia antes e continuam fazendo os animais, mas, a serviço de sua existência, com um amplo leque de exigências quantitativas e qualitativas desta exigência (BALLONE, 2002). Então, fisiologicamente, o estresse passou a ser o representante emocional da ansiedade.

A preocupação exagerada sentida por uma pessoa ansiosa, pode abranger diversos eventos ou atividades da vida. Podendo vir acompanhado, por uma variedade de sintomas como irritabilidade, tensões musculares, perturbações no sono, entre outros. Nesse sentido, estudos feitos por Ballone (2002) sustentam a idéia de que a ansiedade é a grande mobilizadora das distonias (desarmonias) do Sistema Nervoso Autônomo.

Por sua vez, Kaplan (1997) diz que a experiência de ansiedade tem dois componentes: 1) a consciência de sensações fisiológicas e 2) consciência de estar nervoso ou amedrontado. A ansiedade pode ser aumentada por um sentimento de vergonha. Muitas pessoas podem sentir sua perplexidade ao perceberem que os outros não têm conhecimento de sua ansiedade ou, se têm, não avaliam sua intensidade. Além dos efeitos motores e viscerais da ansiedade, seus efeitos sobre o pensamento, a percepção e o aprendizado não devem ser ignorados. A ansiedade tende a produzir confusão e distorções perceptivas, não apenas em termos de tempo e espaço, mas de pessoas e significado dos eventos. Essas distorções podem interferir no aprendizado, baixando a concentração, reduzindo a memória e prejudicando a capacidade de relacionar uma coisa com a outra (associação).

A todo instante estamos fazendo atividades de adaptação, ou seja, tentativas de nos ajustarmos às mais variadas exigências, seja do ambiente externo, seja do mundo interno, atingindo este vasto mundo de idéias, sentimentos, desejos, expectativas, sonhos, imagens, que cada um tem dentro de si. Aliado a essa idéia, Ballone (2002) afirma que, apesar da ansiedade ser uma emoção natural, de caráter essencialmente adaptativo, quando excessiva pode construir a base de muitos processos que levam à doença. Portanto, as doenças psicossomáticas surgem como conseqüência de processos psicológicos e mentais do indivíduo desajustados das funções somáticas e viscerais e vice-versa. Caracterizam-se as possibilidades de distúrbios de função e de lesão nos órgãos do corpo, devido ao mau uso e ao efeito degenerativo, e descontroles dos processos mentais.

Sabemos que, a tensão sentida por uma pessoa ansiosa, pode desencadear uma série de agravos à saúde, tendo em vista que o corpo e a mente estão relacionados. Esta idéia é compartilhada por Mello Filho (2002), quando este afirma em “Visão Psicossomática” que a ansiedade tem seus concomitantes somáticos e pode se manifestar através destes, sendo então, em termos mentais e inconscientes. Outra importante contribuição ao estudo da relação somática da ansiedade é o trabalho de Sims (2001) “Sintomas da Mente”, onde relata as características da ansiedade, em termos da emoção, que podem ser normal ou patológica, sendo a ansiedade patológica se manifesta da mesma forma como a ansiedade normal, ou seja, de múltiplas maneiras, tanto fisicamente como mentalmente. Além de amplamente variáveis os sintomas mudam ao longo do tempo e oscilam permitindo que a pessoa se sinta completamente bem em algumas ocasiões e pior noutras.

Os transtornos ansiosos são quadros clínicos em que esses sintomas são primários, ou seja, não são derivados de outras condições psiquiátricas (depressões, psicoses, transtornos do desenvolvimento, etc.). Sintomas ansiosos (e não os transtornos propriamente ditos) são freqüentes em outros transtornos psiquiátricos. Mas podem ocorrer casos em que vários transtornos estão presentes ao mesmo tempo e não se consegue identificar o que é primário e o que não é, sendo mais correto referir que essa pessoa apresente mais de um diagnóstico coexistente.

A CID-10 (1993) relaciona os seguintes Transtornos de Ansiedade:

1) Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG): estado de ansiedade e preocupação excessiva sobre diversas coisas da vida. Este estado, geralmente ocorre, quase todos os dias e se acompanha de alguns dos seguintes sintomas: irritabilidade, dificuldade em concentrar-se, inquietação, fadiga e alteração do sono, etc.;

2) Transtorno de Ansiedade Social: ansiedade intensa e persistente relacionada a uma situação social. Pode aparecer ligado a situações de desempenho em público ou em situações de interação social. A pessoa pode temer, por exemplo, que os outros percebam seu "nervosismo" pelo seu tremor, suor, rubor na face, alteração da voz, etc. Pode levar à evitação de situações sociais e certo sofrimento antecipado. A pessoa pode também, por exemplo, evitar comer, beber ou escrever em público com medo de que percebam o tremor em suas mãos;

3) Transtornos Fóbicos (Fobias Específicas): fobia é um medo irracional que provoca esquiva consciente do objeto, atividade ou situação específica temida. A exposição ao estímulo fóbico, provoca imediata resposta de ansiedade no indivíduo, podendo assumir proporções de um ataque de pânico. O diagnóstico só é apropriado se a esquiva, o medo ou a antecipação ansiosa ao estímulo fóbico interferirem significativamente na rotina diária, funcionamento ocupacional ou vida social do indivíduo ou causar sofrimento acentuado. Os objetos e situações mais temidos são animais, tempestades, altura, doença, ferimentos e morte;

4) Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e Reação Aguda ao Estresse: estado ansioso com expectativa recorrente de reviver uma experiência que tenha sido muito traumática, como após um assalto ficar com medo de ser assaltada de novo, ter pesadelos, etc. Quando a ansiedade diminui logo no primeiro mês é considerado Estresse Agudo, porém quando persiste por mais tempo é diagnosticado como Estresse Pós Traumático, necessitando de tratamento;

5) Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC): estado em que se apresentam obsessões ou compulsões repetidamente, causando grande sofrimento à pessoa. Obsessões são pensamentos, idéias ou imagens que invadem a consciência da pessoa. Há vários exemplos como dúvidas que sempre retornam (se fechou o gás, se fechou a porta, etc.), fantasias de querer fazer algo que considera errado (machucar alguém, etc.), entre vários outros;

6) Transtorno de Ansiedade devido a uma Condição Médica Geral: muitas condições médicas (patologias não psiquiátricas) podem provocar sintomas semelhantes aos observados nos Transtornos de Ansiedade. Assim, hipertiroidismo, hipotiroidismo, deficiência de Vit. B12, hipoparatiroidismo, entre várias outras patologias, estão freqüentemente associados com sintomas de ansiedade. O diagnóstico depende da identificação de sintomas de um Transtorno de Ansiedade, seja ele ansiedade generalizada, ataques de pânico, ou sintomas obsessivo-compulsivos;

7) Transtorno de Ansiedade induzido por Substâncias: é comum, tanto pelo abuso das drogas chamadas recreacionais, quanto aos fármacos prescritos pelos médicos. Várias substâncias são capazes de produzir sintomas de ansiedade, desde as simpaticomiméticas (anfetaminas, cafeína, cocaína, etc.), até as serotonérgicas (LSD, etc.), além de muitas outras.

A ansiedade hoje, é considerada o grande mal, o grande inimigo a ser enfrentado neste século XXI (BALLONE, 2002), e que, se não for combatido adequada e rapidamente, poderá interferir, como já interfere em alguns casos, nos níveis de felicidade e realização de uma considerável camada da população. A ansiedade pode ser considerada uma ocorrência comum à maioria dos transtornos emocionais, estando sempre presente de forma contínua e surda, ou intercalando crises mais agudas e sendo desencadeada ou não por estímulos da vida (vivenciais).

Nas discussões sobre ansiedade, Greenberger e Padesky (1999) ressaltam que a maioria das pessoas ansiosas tem bastante noção dos seus sintomas físicos. Mas esses sintomas costumam causar um comprometimento significativo, no funcionamento social ou ocupacional, gerando um acentuado sofrimento. A ansiedade é semelhante à depressão, pois seus sintomas são experimentados nos cinco aspectos das experiências da vida: ambiente, pensamentos, reações físicas, estados de humor e comportamentos.

Para Ballone (2002), é necessário um antecedente afetivo e de caráter depressivo para que a ansiedade se manifeste patologicamente. Embora os atuais manuais de classificação de doenças mentais tratem separadamente os quadros ansiosos dos afetivos, pesquisas e autores têm se preocupado em estabelecer relações entre esses dois estados psíquicos. Talvez seja por isso que os quadros ansiosos respondem tão bem à terapêutica antidepressiva.

Ainda não está claro, se a ansiedade pode ser uma das causas de depressão ou o contrário, podendo surgir como conseqüência desta ou, ainda, se uma nova entidade clínica independente se constitui quando ambos os fenômenos coexistem numa mesma pessoa. Isto tem sido uma questão aberta às pesquisas e reflexões.

Para que a ansiedade se manifeste patologicamente, é necessário que ela seja polarizada entre estado e traço (SIMS, 2001). Onde o estado de ansiedade é a qualidade de estar ansioso no momento atual, em um momento particular provavelmente provocado por uma circunstância. Já o traço ansioso, torna-se uma tendência que durante um longo tempo ou talvez durante toda a vida. Uma pessoa que tenha uma reação inadequada extrema, ou de longa duração a um determinado acontecimento, provavelmente pode estar sofrendo algum tipo de distúrbio de ansiedade.

É importante salientar que, além dos acontecimentos estressantes da vida, a existência de uma vulnerabilidade biológica e uma vulnerabilidade psicológica são necessárias para a formação de um Transtorno de Ansiedade. Onde a vulnerabilidade biológica é uma tendência herdada a manifestar ansiedade, onde algumas pessoas reagem com uma ativação fisiológica maior aos acontecimentos estressantes. Mas essa resposta fisiológica é pouco específica, não determina por si só, se uma pessoa desenvolverá Transtorno de Ansiedade ou outro tipo de transtorno poderá ocorrer. Desta forma a vulnerabilidade psicológica é uma percepção de imprevisibilidade em relação ao mundo, que é aprendida, a partir da relação familiar e das experiências de vida. Assim, se uma pessoa possui o componente biológico e desenvolve o componente psicológico, ela estará predisposta a sofrer de um Transtorno de Ansiedade, a partir do momento em que surgirem os acontecimentos estressantes da vida, os quais funcionam com o estímulo que dispara, conduzindo a um Transtorno de Ansiedade.

Em estudos contínuos das respostas de ansiedade, verifica-se que os distúrbios de ansiedade são os problemas psiquiátricos mais comuns, onde os níveis de ansiedade são os seguintes (STUART, 2002):

a) A ansiedade branda está associada à tensão da vida diária e torna a pessoa alerta aumentando seu campo de percepção. Essa ansiedade pode motivar o aprendizado, produz o crescimento e a criatividade;

b) A ansiedade moderada permite que uma pessoa focalize as preocupações imediatas e bloqueie a periferia. Ela estreita o campo de percepção da pessoa. Dessa maneira, a pessoa experimenta desatenção seletiva, mas pode focalizar mais áreas, se estiver voltada para isso;

c) A ansiedade grave reduz muito o campo de percepção de uma pessoa, que tente a focalizar um detalhe específico e a não pensar sobre qualquer outra coisa. Todo o comportamento é voltado para obtenção do alívio. A pessoa precisa de muita orientação para focalizar qualquer outra área;

d) O nível de pânico da ansiedade está associado a pavor, medo e terror. Os detalhes são desprezados de forma desproporcional. Por experimentar uma perda de controle, a pessoa é incapaz de desenvolver suas atividades mesmo estando orientadas. O pânico envolve a desorganização da personalidade e resultam em aumento da atividade motora, diminuição da capacidade de se relacionar com os outros, percepções distorcidas e perda do pensamento racional. Esse nível de ansiedade é incompatível com a vida, e se permanecer por período prolongado, resultará em exaustão e morte.

Estudos sobre mente-corpo têm se tornado um dos temas que vêm assumindo progressiva importância no contexto da medicina no século atual, permitindo uma nova visão do fenômeno da doença. Os distúrbios emocionais desempenham papel importante, precipitando início, recorrência ou agravamento de sintomas, distinguindo das doenças puramente orgânicas. Porém, elas podem se transformar em doenças crônicas e tendem a associar-se com outros distúrbios psicossomáticos, podendo ocorrer numa família, em diferentes períodos da vida de uma pessoa ou em certos ambientes de trabalho e até de lazer.

O termo psicossomático, que seria melhor dizer psicofisiológico para tais transtornos, sugere assim, a integração entre o psíquico e a fisiologia corporal humana. Clinicamente, existe uma ampla variedade de Transtornos Psicofisiológicos que podem estar associados às emoções, seja como agravante, desencadeante ou determinante (BALLONE, 2002).

A ansiedade, apesar de ser considerada uma reação emocional normal e necessária, surge como resposta do organismo diante de situações, quando tem sua freqüência, intensidade ou duração excessiva, se transforma em ansiedade patológica. Psiquiatricamente, a presença de forte estado ansioso, não somente pode ser a base dos denominados Transtornos de Ansiedade, mas também estar associada freqüentemente à depressão.

Cada vez mais, têm surgido temas, estudos, abordagens que, embora afetos à relação trabalho-saúde, apenas correspondem parcialmente ao que se entende por Saúde do Trabalhador. É uma área passível de abrigar diferentes aproximações e de incluir uma variedade de estudos e práticas de indiscutível valor, mesmo na ausência de uma adequada precisão conceitual sobre o caráter da associação entre o trabalho e o processo saúde-doença. Pode-se dizer que existe uma empatia, para a qual confluem diversos estudos disciplinares. Essas contribuições esclarecem determinadas questões de interesse, como alguns riscos ocupacionais em locais de trabalho ou em setores de uma categoria profissional, sem pretender dar resposta ao campo como tal.

De acordo com Vernoy (2003), o ser humano é um indivíduo eminentemente dado a emoções e as emoções têm um papel importante em nossas vidas. Elas dão cores a nossos sonhos, lembranças e percepções, e quando perturbadas, contribuem de forma significativa para as desordens psicológicas. É o nosso comportamento emocional que nos diferencia uns dos outros. A natureza e a extensão do nosso repertório de respostas emocionais não dependem exclusivamente do nosso cérebro, mas da sua interação com o corpo, e das nossas próprias percepções do corpo.

Como freqüentemente, as doenças originadas no trabalho são percebidas em estágios avançados, até porque muitas delas, em suas fases iniciais, apresentam sintomas comuns a outras patologias, torna-se difícil, sob essa ótica, identificar os processos que as geraram, bem mais amplos que a mera exposição a um agente exclusivo. A constatação de doenças, na seleção da força de trabalho funciona, na prática, como um recurso para impedir o recrutamento de indivíduos cuja saúde já esteja comprometida.

Significativas mudanças ocorrem no cotidiano hospitalar de uma maneira geral. Essas mudanças vão desde o ambiente econômico, geográfico, como o social e, como não poderia ser diferente, nos trabalhadores que são afetados diretamente por estas transformações. Assim, o estresse e insatisfação no trabalho podem exercer um grande impacto sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, gerando significativos problemas, tais como: saúde debilitada, baixo compromisso organizacional, violência no local de trabalho, e outros, gerando, no limite, entre outros sentimentos, ansiedade e estresse acumulados e potencializados.

Emoção tóxica é o agente tóxico oriundo do sofrimento emocional, causado pela desconexão entre o indivíduo e o seu trabalho (FROST, 2001). Sabemos que o ambiente de trabalho pode influenciar no comportamento do trabalhador, pois tudo aquilo que provoque estresse e respostas adaptativas influencia no organismo como um todo.

Atualmente, a medicina psicossomática apresenta uma sólida tradição no campo da pesquisa. Não está mais associada a um grupo específico de patologias, mas é considerada como um modo completo de olhar todas as condições patológicas. Torna-se necessário atingir um patamar mais alto de integração, em benefício do avanço do conhecimento, e uma das reflexões que podem contribuir para o conhecimento complexo é a psicossomática.

Uma concepção ainda mais abrangente é a de doença sociossomática, onde a visão da doença torna-se uma conjugação de fatores originados do corpo, da mente, da sua interação e da interação, também, com o ambiente e o meio social. Cabe ressaltar que a concepção de Saúde do Trabalhador e a própria prática a ela inerente orientaram-se, de forma predominante, para o trabalho psiquiátrico, tendo como referência um modelo que, em virtude das profundas transformações recentes, também precisa ser repensado. Depara-se, no momento atual, com um quadro em que se convive com situações evidentes de estresse no trabalho.

Sendo assim, o estudo a ser analisado, é uma, investigação psicossomática, tendo em vista que o hospital psiquiátrico por si só, é um ambiente estressor. A ele, aliam-se sentimentos e descontentamento profissional, a falta absoluta de uma atenção psicológica voltada a esses trabalhadores e os agravos à saúde física e mental que, por ventura, possam estar vivenciando estas pessoas; por esta complexidade de sentimentos, comportamentos e atitudes, chamaram-nos atenção para a necessidade de investigar como a ansiedade poderia estar influenciando nas atividades destes trabalhadores e se estes trabalhadores estariam sendo acometidos pelos sintomas indicativos da ansiedade.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo prospectivo, com análise quantitativa e qualitativa dos dados, que permitirá identificar a influência da ansiedade no comportamento de trabalhadores da Saúde Mental. A pesquisa foi realizada em um hospital psiquiátrico da rede pública localizado no município de São Luís – MA. No período de 27 de maio a 22 de agosto de 2006, conforme autorização do campo de pesquisa. De uma população constituída de 101 trabalhadores, foi desenhada uma amostra representativa de 62 trabalhadores de nível médio, dos setores de: serviço de enfermagem, apoio, administrativo, operacional, monitores de oficinas terapêuticas e segurança. Foi utilizado como instrumento de pesquisa um questionário, formulado com 15 perguntas fechadas e abertas, aplicadas ao trabalhador, através de entrevista, onde se adotou modelo da CID-10 para a classificação de ansiedade. Os dados foram coletados pela própria pesquisadora, mediante a aplicação do questionário aos trabalhadores que concordaram em participar da pesquisa. Quando de acordo, estes assinavam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo recomendações do Conselho Nacional de Saúde e a Resolução 196/96.

CONCLUSÃO

O organismo, quando exposto a um esforço desencadeado por um estímulo percebido como ameaçador à homeostase, seja ele físico, químico, biológico ou mesmo psicossocial, apresenta a tendência de responder de forma uniforme e inespecífica, anatômica e fisiologicamente. As reações de ansiedade resultam, pois, de esforços de adaptação. No entanto, se a reação ao agressor for muito intensa ou se o agente do estresse for muito potente e/ou prolongado, poderá haver, como conseqüência, doença ou maior predisposição ao desenvolvimento de doenças. Isto porque, reação protetora sistêmica, desencadeada pela ansiedade, pode ir além da sua finalidade e dar lugar a efeitos indesejáveis, pela perda de equilíbrio geral dos tecidos, órgãos e defesas imunológicas do organismo.

Durante a nossa pesquisa de campo, foi possível constatar que apesar do hospital pesquisado ser composto por um quadro de 101 trabalhadores, apenas 62 dispuseram-se a responder o questionário, mediante ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. No entanto, é importante salientar que, houve uma esquiva de 39 trabalhadores, onde na ocasião, percebeu-se um retraimento dos mesmos, quando se falava a respeito das evidências e dos efeitos da ansiedade em excesso no trabalho, tornando uma a relação dada e questionável, pois apesar da pessoa necessariamente dizer que não é ansiosa, não significa que não seja, pois o corpo por si só fala.

Neste estudo, pôde-se identificar a influência da ansiedade no comportamento dos trabalhadores em suas atividades, levando-nos a concluir que:

  • O efeito global da variável segundo a faixa etária foi significativo, com 19,37% para a faixa etária de 20 a 30 anos e 24,19% para 30 a 40 anos. Evidencia-se, portanto, segundo as literaturas, que os transtornos primários de ansiedade, em geral, iniciam-se antes dos 35 anos;
  • Em relação ao tipo de sexo, observou-se que 80,66% dos trabalhadores são do sexo feminino. Estes achados levam a uma incidência alta, levando-se em consideração o que outras pesquisas registram sobre o assunto, que geralmente é em torno de 5% da população feminina vem apresentando ansiedade;
  • O consumo de álcool, tabagismo e outras drogas nestes trabalhadores foram relevantes. Perceberam-se percentuais de 35,49% para etilistas, 16,12% para tabagistas e 3,22% para os que já usaram outras drogas psicoativas. As variáveis mostram uma associação com o uso de substâncias psicoativas, pois sabemos que quaisquer tipos de substâncias psicoativas ingeridas, mesmo em quantidades moderadas afetam o Sistema Nervoso Central;
  • Quanto ao acometimento de patologias orgânicas, com exceção do Diabetes, onde o aparente efeito da categoria desapareceu, não tendo assumido tampouco o papel de risco; observaram-se percentuais de 11,11% para hipertensos e 1,62% para cardíacos, o que mostrou uma concordância com achados literários, que, segundo as evidências atuais, são suficientes para atestar que os fatores psico-sociais ou de estresse aumentam significativamente os riscos de Hipertensão e doenças cardiocirculatórias;
  • Constatou-se que, metades dos trabalhadores entrevistados, sentem-se ansiosos por períodos superiores há seis meses, tornando a amostra significativamente preocupante, quando sabemos que a tensão sentida, pode desencadear uma série de agravos a saúde, tendo em vista que o corpo e a mente estão relacionados;
  • Percentuais significativos de 48,38% dos pesquisados que se consideram ansiosos, o que justifica uma incidência relativamente alta para trabalhadores de um hospital psiquiátrico, levando em consideração que o próprio lidar com pessoas que sofrem de algum transtorno mental, por si só, já produz uma certa ansiedade no cuidador e conseqüente estresse;
  • Quanto às reações próprias da ansiedade, percebeu-se que 17,91% trabalhadores apresentam os sintomas fisiológicos e 54,04% apresentam os sintomas cognitivos e comportamentais da ansiedade. Consideram-se fatores de risco de especial atenção por sua condição de elevada incidência, quando levado em consideração os critérios de diagnósticos da CID-10 para Transtorno de Ansiedade;
  • Os resultados mostraram que 88,70% dos trabalhadores entrevistados sentem a necessidade de fazer terapia, o que torna imprescindível buscar o restabelecimento ou desenvolvimento da capacidade de criar e sustentar conexões e vínculos significativos que protejam do desamparo e da ansiedade, assim como construir uma melhor relação com as sensações do próprio corpo. Para tanto, o plano assistencial proposto a esses trabalhadores será encaminhado à diretoria do hospital pesquisado, como sugestão para o cuidado do cuidador.

Sem dúvida nenhuma, é preciso ver ainda que o conhecimento só se legitime como mediação para o homem bem conduzir sua existência. Cabe-lhe o compromisso de evidenciar a intencionalidade de nossa existência, para orientar o rumo, uma melhor qualidade de vida que esteja à dignidade de pessoas humanas. O nosso compromisso é com a construção da qualidade de vida, entendida hoje como a única forma de sermos plenamente humanos.

REFERÊNCIAS

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Perfil do Autor


Graduada em Enfermagem pelo Uniceuma-MA, especialista em Sáude da Família pela Universidade Estácio de Sá-RJ. Atua na docência do ensino superior, reintegração social de paciente com doença mental em sociedade, qualidade de vida, nos aspectos quantitativos e qualitativos da assistência de enfermagem.

(Artigonal SC #1006383)


Fonte do Artigo - http://www.artigonal.com/medicina-artigos/a-influencia-da-ansiedade-no-comportamento-de-trabalhadores-da-saude-mental-1006383.html





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