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sexta-feira, 19 de março de 2010

Ansiedade E Estresse Na Modernidade

Ansiedade E Estresse Na Modernidade




Por: Gilcenira Ataliba Esteves



Resumo

Este artigo tem como objetivo chamar atenção para as doenças que a ansiedade e o estresse causam ao ser humano em nossos dias. Apresentar mecanismos para que, mesmo vivendo em meio à instabilidade, cada pessoa possa num processo de conhecimento de si mesmo encontrar os recursos necessários para enfrentar as dificuldades diárias.

Palavras - chave: ansiedade, estresse, modernidade, conhecimento de si mesmo

Abstract

This article has as objective calls attention for the diseases that the anxiety and the stress cause the human being in our days. To present mechanisms so that, same living amid instability, each person can, in a knowledge process of himself to find the necessary resources to face the daily difficulties.

Keyword: anxiety, stress, modernity, knowledge of himself

Introdução

O homem contemporâneo convive diariamente com agentes estressores e ansiosos, por isso a necessidade de aprender a identificá-los e conhecer as conseqüências físicas e emocionais que causam ao ser humano.

Numa época de tanta ansiedade e estresse, de tanta competitividade e confusão de valores fica difícil decidir qual a direção mais adequada. Neste mundo moderno o comportamento usual é cobrar muito mais do que dá. Este mundo se distanciou da humanidade e distanciou também as pessoas de si mesmas, mas exige criatividade e equilíbrio emocional. Por vezes, este mundo parece se desintegrar mais exige integração e ao mesmo tempo valoriza a pessoa que é melhor e única naquilo que faz.

Com tantas disparidades, este mundo moderno, atira as pessoas no vazio, na ansiedade, no estresse, na depressão e nas doenças e, muitas vezes a pessoa não consegue reverter este quadro sem a ajuda de profissionais, mas mesmo buscando tais ajudas é necessário que a própria pessoa esteja, interna e externamente, mobilizada para interromper a instalação da doença e iniciar o seu processo de autoconhecimento. É preciso que a pessoa preste atenção nas informações que seu organismo lhe dá e, é por este motivo que se faz necessário apresentarmos seus sintomas para que possam ser identificadas.

Ansiedade

É inerente ao ser humano, uma experiência do cotidiano, que em grau reduzido é útil para a pessoa, mas em maior intensidade pode ser devastadora. Tanto pode ser estímulo para uma ação, como inibidora a uma boa performace. Ela é prazerosa para aqueles que se submetem a atividade arriscada e impeditiva para outros, não os permitindo realizarem tarefas a contento (Frederico, 2004).

Para Frederico a ansiedade “além de ser normal ou patológica, pode também ser leve ou grave, episódica ou persistente. Ser conseqüência de uma doença orgânica, podendo se manifestar só ou acompanhada por outros transtornos mentais”. Ainda segundo o teórico a ciência não consegue definir quais são os limites dos transtornos que se enquadram dentro de tais limites.

Bebbington (2000) menciona que Sir Anbrey Lewis, um dos maiores psiquiatras do século passado disse que: “ enquanto muitas vozes proclamam que a ansiedade é o alfa e o ômega da psicopatologia, e que permeia todo tipo de transtorno mental, há um número maior ainda delas, insistindo que a ansiedade significa aquilo que elas escolheram para defini-la”.

Epidemiologia sobre Transtornos de Ansiedade

Dados do estudo Epidemiológico por Área de Captação (Epidemiologic Catchment Área – ECA) informou que os transtornos de ansiedade estão entre os mais comumente observados, tanto na população em geral quanto nos serviços de atenção primária à saúde nos Estados unidos. Sugerem que cerca de ¾ da população geral apresentam um ou mais medos irracionais, ataques súbitos de ansiedade ou nervosismo, mas a maioria das pessoas não apresenta critérios de gravidade ou prejuízo pessoal e social característicos dos transtornos de ansiedade (Frederico, 2004).

Segundo ECA a idade de início para o transtorno de ansiedade é, geralmente, entre a adolescência e a terceira década da vida. Informam ainda que a prevalência anual do transtorno fosse maior nos homens entre os 30 e 44 anos e nas mulheres entre 18 e 44 anos, chamando atenção para o fato do transtorno de ansiedade ser relativamente raro entre os idosos.

Referindo-se aos fatores de risco Frederico afirma que a maioria dos estudos mostra que a prevalência do transtorno de ansiedade em mulheres, chega a ser o dobro daquela encontrada em homens, e que as maiores freqüências foram encontradas em homens com menor escolaridade, mas para as mulheres, não houve diferença em relação a escolaridade.

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)

Para Katzelmick (2007) é o transtorno de ansiedade com maior prevalência na população em geral. Entretanto, a elevada freqüência com que ele ocorre em comorbidade com outros transtornos mentais, tem sido motivo de questionamento por parte de um grupo de profissionais de saúde. Segundo o teórico o ponto a considerar neste momento é o fato que tais transtornos, por si só, causam danos psicossociais relevantes que necessitam da atenção especial do profissional de saúde.

O Estresse

Segundo o endocrinologista Hans Seyle (1965) que utilizou este termo para denominar um “conjunto de reações que um organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço para a adaptação”. Explica o teórico que a todo instante estamos fazendo movimentos de adaptação, ou seja, tentativas de nos ajustarmos às mais diferentes exigências, quer seja do ambiente externo ou do mundo interno (um vasto mundo de idéias, sentimento, desejos, expectativas, sonhos, imagens etc...que cada um tem dentro de si).

O estresse é uma reação causada pelas alterações do corpo e da mente quando diante de uma situação que represente perigo, ameaça ou que, de alguma forma, exige mudanças. É uma reação psicofisiológica que ocorre quando a pessoa precisa enfrentar uma situação que, de um modo ou de outro, irrita, amedronta, excita, confunde ou mesmo trás felicidade. (Seyle, 1965).

Bateson (1973) declara que o homem primitivo, diante de um tigre, de uma ameaça, sofria uma série de alterações em seu corpo e em sua mente e ficava com estresse. Para resolver a situação, ele lutava ou fugia e, assim, seu estresse era resolvido num curto espaço de tempo. Hoje, segundo o teórico, o ser humano também enfrenta seus “tigres”, os modernos, “seus chefes”, “noticias sobre assaltos e mortes” etc... as mais variadas situações de pressão. Tais acontecimentos, ressalta Bateson, ainda são interpretados pelo cérebro humano como situações de perigo, de tensão ou de ameaça, porém não são mais resolvidos pela luta ou pela fuga em tempo reduzido. Muitas vezes, por muito tempo, o ser humano mantém a situação geradora do estresse e continuam produzindo, também por muito tempo, as reações fisiológicas características do estresse. Por isso afirma Bateson, o estresse se tornou um problema ao longo da história, porque tal como a ansiedade, pode adoecer e matar o ser humano.

Estresse e Doença de Adaptação

O organismo, quando exposto a um esforço desencadeado por um estímulo percebido como ameaçador à homeostase, seja físico, químico, biológico ou mesmo psicosocial, apresenta segundo Seyle (1936) a tendência de responder de forma uniforme e inespecífica, anatômica e fisiologicamente. Respostas estas que, o teórico afirma que constituem uma Síndrome.

A esse conjunto de reações inespecíficas na qual o organismo participa como um todo chamou Seyle de “Síndrome Geral de Adaptação”, explicando que consiste em três fases: Reação de Alarme; Fase de Resistência e Fase de Exaustão. O autor salienta que não é necessário que ocorra as três fases para que haja o estresse, e somente nas situações mais graves se atinge a última fase, a de Exaustão.

A Reação de Alarme subdivide-se em dois tempos: O Schock e o contra – Schock, assemelhando-se a reação de Emergência de Cannon (Rodrigues, 1989) fisiologista responsável pelo desenvolvimento das noções de homeostase. Ele percebeu que quando um animal era submetido a estímulos agudo ameaçadores da homeostase, inclusive medo, fome, dor e raiva apresentavam uma reação em que o animal se preparava para a luta ou para a fuga. Cannon observou que tais reações eram caracterizadas por:

a) Aumento da freqüência cardíaca e da pressão arterial, para permitir que o sangue circule mais rapidamente e, portanto, cheguem aos tecidos mais oxigênios e nutrientes,

b) Contração do baço, levando mais glóbulos vermelhos à corrente sangüínea, acarretando, acarretando mais oxigênio para o organismo,

c) O fígado libera açúcar armazenado na corrente sanguínea para que seja utilizada como alimento e, mais energia para os músculos e cérebro,

d) Redistribuição sanguínea, diminuindo o fluxo para a pele e vísceras, aumentando para músculos e cérebro,

e) Aumento da freqüência respiratória e dilatação dos brônquios, para que o organismo possa captar e receber mais oxigênio,

f) Dilatação pupilar com exoftalmia, para aumentar a eficiência visual,

g) Aumento do número de linfócitos na corrente sanguínea, para reparar possíveis danos aos tecidos.

O pesquisador afirma que tais reações são desencadeadas por descargas adrenérgicas da medula da supra-renal e de noradrenalina em fibras pós-ganglionares. Cannon enfatiza que paralelamente a tudo isto, é acionado o eixo hipotálamo – hipófise – supra – renal que desencadeia respostas mais lentas e prolongadas e que desempenha um papel importante na adaptação do organismo ao estresse a que está sendo submetido.

O estimulo agudo provoca a secreção no hipotálamo que libera o hormônio, que numa reação em cadeia mobiliza outros hormônios adeno – hipófise, além de neuro – hormônios e peptídeos cerebrais. Conclui o teórico que se estabelece então um mecanismo de feedback negativo; mas afirma que se os agentes estressores desaparecem, as reações tendem a regredir, mas se o organismo é obrigado a manter as reações, seu esforço de adaptação entra em nova fase.

Fase de Resistência que se caracteriza basicamente pela reação de hiperatividade córtico – supra – renal, sob mediação diencéfalo – hipofisária. Com aumento do córtex da suprarenal, o teórico esclarece que ocorre atrofia do baço e de estruturas linfáticas, leucocitose, diminuição de eosinófilos e ulcerações. Cannon adverte que se os estímulos estressores continuarem a agir, ou se tornarem crônicos e repetitivos a respostas se mantém, mas com duas características: diminuição da amplitude, antecipação das respostas. Ressaltando que pode ainda haver falha nos mecanismos de defesa, com desencadeamento da terceira fase que é a Exaustão.

As reações de estresse resultam em esforços de adaptação, podendo haver como conseqüência (caso seja demasiado prolongado), uma maior predisposição ao desenvolvimento de doenças.

Segundo Levy (1971) “o ser humano é capaz de adaptar-se ao meio ambiente desfavorável, mas esta adaptação não ocorre impunemente”. Seyle (1936) complementa que “as doenças de adaptação são conseqüências do excesso de hostilidade ou de excesso de reações de submissão”. E Granboulan (1988) acrescenta que a possibilidade que o organismo contenha memória afetiva de situações de estresses anteriores, prolonga o potencial nocivo. Como doença de adaptação pode citar: úlceras digestivas, crises hemorroidárias, alterações da pressão arterial, alterações na parede dos vasos sanguíneos, alguns tipos de doenças renais, alterações inflamatórias do aparelho gastrintestinais, diversas afecções dermatológicas, alterações metabólicas várias, manifestações alérgicas, artrites reumáticas e reumatóides, perturbações sexuais, comprometimento do sistema imunológico e algumas alterações tireoidianas (Cubi, 1989).

Em 1986 Wilkinson alertava para o desgaste a que as pessoas eram submetida nos ambientes e nas relações com o trabalho, apontando como fator dos mais significativos na determinação de doenças. Toda empresa é um conjunto sócio – cultural complexo, organizado para realização de serviços, fabricação de coisas, transformação ou extração de produtos da natureza. Lapassade (1983) definiu que a empresa constitui-se de um sistema de redes, de status e papeis. Possui coordenação das atividades de uma série de pessoas para consecução de algum serviço ou produto, por meio da divisão de trabalho e, através da hierarquia, de autoridade e responsabilidade.

Este complexo de pessoas, com seus modos próprios, transforma e provoca transformações no trabalho que se realiza no espaço da empresa. Suas atividades visam à satisfação de necessidades organizacionais e individuais, a partir de limites estruturais e tecnológicos sobre os quais se processam acomodações dentro e fora do espaço empresarial.

Katz e Kahn (1976) afirmam que na organização há uma interpretação dos sistemas de autoridade e recompensa, na qual, processos de desenvolvimento levam os grupos a adquirirem mecanismos regulatórios e uma estrutura de autoridade que, não são independentes, mas interativas.

Nesta cultura empresarial, em função desta unilateralidade de apreensão do comportamento, sobressaem valores objetivos e impessoais, isto é, não contando com a emoção, vê-se a pessoa de forma incompleta, com habilidades específicas para a realização de tarefas, isolado das suas características de ser, das suas experiências de vida. Desta forma, durante a relação pessoa – empresa, há uma cisão do comportamento. De um lado a força de trabalho subordinados as regras da empresa, do outro a vivência de emoções nem sempre expressas adequadamente.

Considera Bleger (1984) que a ação individual das organizações depende da estabilidade e da necessidade contínua de críticas e de melhoramento. Para ele, a instituição é o meio pelo qual os seres humanos podem enriquecer empobrecer ou se esvaziar como seres humanos, o que comumente se chama de adaptação. Acrescenta o teórico que o melhor grau de dinâmica da instituição não é dado pela ausência de conflitos, mas sim pela possibilidade de superá-los dentro do limite institucional. O conflito é um elemento normal e imprescindível no desenvolvimento e em qualquer manifestação humana. A patologia do conflito se relaciona com a ausência dos recursos necessários para resolvê-los ou dinamizá-los.

Argyris (1957) foi um dos poucos autores que observaram as respostas psicossomáticas na empresa, e afirma que as doenças psicossomáticas representam um mecanismo defensivo, em que a pessoa transforma um problema psicológico num problema fisiológico, ressalta que entre os membros da alta administração eram comuns ulceras, enquanto entre os funcionários eram dores de cabeça e nas costas, depressões dúbias. Em ambos os casos, afirma Argyris, são reações adaptativas às ansiedades experimentadas no trabalho.

Psicossomática

O termo psicossomática surgiu a partir do século passado, quando Heinroth em 1918 criou as expressões psicossomáticas e somatopsíquica (1928). Somente bem mais tarde com as contribuições de Engel (1955) sobre a teoria geral dos sistemas, com os conceitos de Perestrello (1958) sobre a chamada Medicina da Pessoa e com a própria concepção de saúde, ainda mais recente da Organização Mundial de Saúde (OMS), que passou a considerar a saúde um completo bem – estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença (Dejours, 1987), sendo então considerado um “equilíbrio biopsicossocial”, pôde a psicossomática assumir seu verdadeiro papel integrador multidisciplinar, sendo integrado ao ensino da disciplina Patologia Geral, nos cursos de Medicina.

Em síntese, a psicossomática é uma ideologia sobre a saúde, o adoecer, as práticas de saúde e sobre as relações. E como propôs Schneider (1974) o campo de estudo da relação profissionais de saúde – paciente, ou a “Psicologia da Prática Médica”, tendo uma holística do processo de adoecimento de uma pessoa.

Análise Subjetiva do Homem Moderno

O homem contemporâneo tendo que reunir energia para lidar com a questão crônica da ansiedade e estresse, acaba se distanciando de uma de suas tarefas importantes, segundo Jung (1976), que é conhecer-se a si mesmo e, conseqüentemente, de evoluir psicológica e espiritualmente.

Alerta Jung que as incertezas em relação às religiões, aos credos e à própria fé, instalaram-se aceleradamente nos corações de muitas pessoas ocasionando, com isso, certa frieza no tocante a assuntos religiosos e espirituais. Deus como resultado de toda essa transformação cultural provocada pela modernidade passa a ocupar o segundo plano ou, muitas vezes, plano nenhum na vida de um grande número de pessoas.

Todo este distanciamento em relação ao mundo espiritual e ao simbolismo que eles trazem, pode ser o ponto crucial da modificação da alma humana declara Jung e, talvez por isso, enfatiza ele, estejamos vivendo na era do vazio, das discórdias, da depressão, do egoísmo, da ansiedade, do estresse e da solidão. Analisa o teórico que se muitos se desligaram de parte de si mesmo, não poderão viver uma vida equilibrada e harmônica (homeostase) que lhes satisfaça enquanto seres humanos e, continuando em sua reflexão afirma Jung que, ao distanciarem-se de seu mundo interno o ser humano perdeu, além do equilíbrio, em função da rejeição de parte de si mesmo, o eixo de sustentação da própria vida.

Em 1918 Jung, através do estudo dos arquétipos do inconsciente coletivo pôde descobrir que o homem possui uma “função religiosa” que influi na sua vida tão poderosamente como o fazem os instintos de sexualidade e de agressão e, apesar da atitude depreciativa atual, os homens e as mulheres continuam a ser tão naturalmente religiosos como sempre foram. Esclarece o teórico que, o que ocorre hoje é que muita da energia anteriormente canalizada para os ritos religiosos encontra expressão em credos políticos, se dispersa em cultos exóticos ou vincula-se a alguma coisa exterior a ela, como a busca de conhecimento. (o ponto é: quem ou o que é o Deus...).

Jung define a religião como “uma atitude característica do espírito, que poderia ser formulada de acordo com o uso original do termo. “religio”, o que significa uma cuidadosa reflexão e observação de certos fatores dinâmicos, conhecidos como “potências”, espíritos, demônios, deuses, leis (ou qualquer outro nome que o homem tenha dado a tais fatores no seu mundo), já que os considerou suficientemente poderosos, perigosos ou prestáveis para serem objetos de atenta consideração, ou suficientemente magníficos, belos e importantes para lhes prestar devoto amor e adoração.

A palavra central aqui é “dinâmicos”, é o dinamismo da função religiosa que torna ao mesmo tempo fútil e perigoso tentar explicá-la completamente. Este dinamismo apresentou-se no passado nos grandes movimentos das cruzadas, nas guerras, nas caças as bruxas etc... atualmente grande parte desta energia encontra-se numa busca frenética do endeusamento de si mesmo.

A modernidade, além de nos ter trazido altas tecnologias e inúmeras facilidades, trouxe também a cultura do “ter para ser”. Hoje é fácil termos a sensação de que liberdade, alegria, satisfação, felicidade, equilíbrio emocional e bem – estar são comprados com dinheiro. Uma cultura que endeusa tudo aquilo que o dinheiro pode comprar e, um grande número de pessoas dirige, para ele, a sua fé e a sua adoração para com isto tentar aplacar sua ansiedade e estresse.

Esta dinâmica produz o efeito anestésico que faz com que o ego, pelo menos temporariamente, sinta a ilusão que a ansiedade e o estresse foram eliminados e, com isso, a possibilidade de reencontrar a sensação de equilíbrio e tranqüilidade (homeostase). Kivitz (2008) enfatiza que é para fugir da percepção da própria vivência dolorosa e aterrorizante dessa morte interna que causa dor, que pessoas buscam na droga ou no ato compulsivo de acumular dinheiro ou bens materiais, uma forma de poder neutralizar o sofrimento que o domina e, assim, criar condições através da estimulação e da euforia que a droga produz sair da depressão em que se encontra. Droga e aquisição de bens materiais passam a ter a mesma equivalência e o mesmo efeito letárgico. São os dois vícios do homem moderno.

A droga vem sendo historicamente uma maneira do ser humano tentar lidar com o mal – estar na civilização, seu consumo traz a marca de diferentes tradições sociais e culturais.

Segundo Bucher (1995) desde o princípio, o mundo ocidental tem sido marcado pelo consumo ritual de drogas, mas foi principalmente a partir dos séculos XIX e XX que este consumo se tornou regular e veio crescendo progressivamente. Porém, até os anos cinqüenta esse crescimento não representou maiores problemas na avaliação de Bucher, que acredita que o valor da droga, principalmente a alucinógena, nos anos sessenta estava associado à possibilidade da pessoa, a partir de seu uso, ter novas experiências, “habitar outra realidade”. Esclarece ainda que o desejo de transformação era coletivamente compartilhado por um grupo com os mesmos ideais de questionamento dos valores da época. No entendimento do teórico a droga se constituía em um símbolo de contestação, que intermediava as relações entre as pessoas que partilhavam de um mesmo projeto transformador de vida.

Colle (1996), no entanto reconhece que no final dos anos setenta este caráter revolucionário atribuído ao uso da droga é modificado em decorrência de sua criminalização, que teve no narcotráfico seu agenciador fundamental no espaço social. Afirma ainda que a partir de então ocorre um crescimento significativo no consumo de drogas (diferentes drogas), e uma diversificação da camada populacional. Declara o teórico que a droga torna-se um meio de suportar o mal – estar, a ansiedade e o estresse produzido pelo crescimento social mal articulado, induzindo as pessoas a se ocuparem mais com as questões externas do que com as internas, tendo como contra ponto as drogas que continuam prometendo algo mais, para além do prazer, com uma possibilidade de alívio da angústia de existir convivendo com um vazio interior tendo, a cada dia, que se adequar a situação nova e estressante.

Para Bucher (1995) é possível dizer que a toxicomania é o sintoma da sociedade de consumo, pois a droga sobrevive a partir de uma pessoa fiel ao produto. E ainda é considerado, segundo ele, o maior alivia dor do sofrimento humano, prometendo encontro com a felicidade que, Freud afirmou em 1969, constitui a demanda de todo ser humano. A droga com esta proposta sedutora vem ganhando, a cada dia, mais espaço na sociedade que hoje, escrava do consumo, se submete a vários tipos de pressão em um único dia.

Se por um lado essa cultura do “ter para ser” tomou conta da vida de muitas pessoas levando-as, muitas vezes, às últimas conseqüências, por outro lado trouxe, a outras pessoas um sentimento de desconforto e mal – estar crescentes, fazendo-as recuar e se dedicar à busca de seu mundo interno, aumentando assim, o interesse pelo mundo psíquico.

Segundo Jung (1976) o inconsciente “é o dom original”, é base de nosso consciente, é a raiz de nosso próprio crescimento. Negar esta parte de nós mesmos é bloquear a passagem do combustível que gera a energia que o ser humano necessita para se manter emocional e psicologicamente vivos. Se o ser humano desprezar seu mundo interior, não terá de onde tirar energia para se manter fisiológica e emocionalmente saudável.

Jung declara que se o ser humano for atraído pelo processo de crescimento, vai ficar maravilhado com o todo ao invés das partes e, estará construindo o caminho da unidade harmonizada pela reconciliação dos opostos existentes em cada um de nós. Afirma ainda que tudo tem necessidade de reconhecimento consciente para que seja possível reorientar energias para a construção de um novo centro vital.

O mundo interior é campo fértil para semear hoje o que se quer colher amanhã. Dessa forma, quanto mais profundo for o conhecimento em relação aos conteúdos do inconsciente, mais se poderá ter controle sobre suas vidas. Viver é aprender com as crises afirma Kivitz (2008), com as tristezas e alegrias, com as pessoas e os lutos, com as desilusões e os triunfos. Schopenhauer sugere que assim como os sonhos são formados a partir de um aspecto da pessoa que é ignorado por sua consciência, toda a sua vida é construída pela vontade que há em cada pessoa.

Conclusão

Após toda esta reflexão parece ter ficado evidente que a vida é uma constante luta em busca da evolução e, esta luta é o que causa ansiedade e estresse nas pessoas da modernidade, porque evoluir é integrar aquilo que falta no ser humano, e a vida se encarrega de colocar, a pessoa, frente a frente com as situações que podem ajudá-la a alcançar essa meta.

A questão então é fazer a escolha, mudar a percepção e a análise dos acontecimentos diários que são fontes estressoras, ou violentar toda a estrutura pessoal nas adaptações que, como vimos, gera mais ansiedade e estresse, o futuro sempre será uma grande causa de ansiedade e estresse.

Kivitz (2008) faz uma proposta para que o ser humano retire a roupa de sofredor e vista o jaleco de aprendiz, assumindo a responsabilidade pelas escolhas que faz, acrescentando que quando uma pessoa muda, o mundo que a cerca também muda, deixando claro que se a pessoa sempre procurar saber o significado de tudo que ocorre com ela, além de ampliar a sua consciência em relação à sua própria vida interior, também terá a oportunidade de descobrir qual o caminho que o levará a essa mudança para que viva a vida de acordo como ele é, ficando claro quais são seus objetivos.

Ressalta Kivitz que as investigações sobre o significado das coisas requer exercício constante, tendo paciência, consciência que só depois de algum tempo terá a resposta. Os que são perseverantes conseguem, comenta o teórico, porque aos poucos, este tipo de pensamento curioso e questionador começa a fazer parte do mundo mental da pessoa e, nada mais passa despercebido e sem resposta. Byington (1987) considera que o grau de consciência que o ser humano atinge é proporcional a sua compreensão em relação às mensagens que a vida cotidiana traz, com o intuito de favorecer o autoconhecimento. Assim, continua o teórico, todas as situações injustas e cruéis que, muitas vezes, se apresentam em alguns momentos da vida, serão percebidas como mensagens que vão possibilitar tornar o inconsciente, consciente, o imperceptível perceptível, o invisível visível. E conclui Byington, que é conhecendo o desconhecido que o ser humano terá a possibilidade de se estruturar com harmonia e manter em equilíbrio ambas as realidades: internas e externas.

Para Del Nero (2003) a auto- análise é o caminho para o enfrentamento da ansiedade e do estresse, acredita que seja preciso ter muita coragem e determinação, mas apesar do grande esforço na trajetória do autoconhecimento, afirma que o resultado de toda essa busca é reconfortante e compensador.

O mundo está pedindo por mudanças declara Brito (2000), e cada pessoa deve ser agente dessa transformação. Enfatiza o teórico que se ficarmos inertes e paralisados frente a todo esse movimento criativo do universo, certamente estaremos perdendo a oportunidade de participar do nascimento de algo novo que está por vir. Brito diz estar convencido que este algo novo favorecerá a reconstrução de cada pessoa, individualmente e, conseqüentemente, da sociedade como um todo.

Assim sendo, se o ser humano criar o hábito de fazer a seguinte pergunta, diariamente, frente a cada situação que se apresenta: Qual foi a minha contribuição, real, para que isto esteja acontecendo? (quer o desfecho seja bom ou ruim), poderá ajudar a promover o início da transformação que o teórico fala, além de ser uma economia relevante de gasto de energia, no que diz respeito, ao enfretamento da ansiedade e do estresse diário.

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