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terça-feira, 4 de maio de 2010

O FILÓSOFO MICHEL ONFRAY ATACA FREUD E A PSICANÁLISE



Eliezer de Hollanda Cordeiro


1.O FILÓSOFO MICHEL ONFRAY ATACA FREUD E A PSICANÁLISE

Cinco anos após os ataques dirigidos contra Freud e suas teorias pelo ‘’Livre noir de la psychanalyse’’, o filósofo francês Michel Onfray acaba de publicar um livro colocando em causa o grande médico de Viena. Intitulado ‘’Le Crépuscule d’une idole. L’affabulation freudienne’’(O Crepúsculo de um ídolo. A fabulação freudiana), este imponente volume de 600 páginas tornou-se um dos livros mais vendidos na categoria ensaios, publicada na revista L’Express. François BUSNEL, cronista literário da mesma revista e responsável pelo programa de televisão intitulado La Grande librairie , havia organizado um debate sobre a psicanálise, convidando para tanto os psicanalistas Alain de Mijolla e Anne Millet, o filósofo americano Mikkel Borch-Jacobsen e o psicólogo belga Jacques Van Rillaer. E, naturalmente, Michel Onfray. Todos vieram falar da publicação de seus respectivos livros sobre a psicanálise, mas, na realidade, o debate se focalizou no livro de Onfray.


As intenções de Michel ONFRAY ?

‘’Fazer uma ‘’psicobiografia’’ de Sigmund Freud apoiando-se numa vasta documentação e numa correspondência até então conservada secretamente pelos freudianos. A partir daí, ONFRAY escreveu que Freud leu muito, citou pouco, queimou os seus jornais íntimos , destruiu sua correspondência e mentiu sobre os resultados terapêuticos dos quais falou nas famosas Cinco psicanálises. E concluiu que a teoria do inconsciente não era uma ciência, que a psicanálise curava como faz o placebo e que se ela é válida para as próprias neuroses de Freud, ela não é universal’’.

Como era de se esperar, as teses e as demonstrações do filósofo suscitaram reações de psicanalistas como Elisabeth ROUDINESCO, (Roudinesco déboulonne Onfray) e Roland GORI (Roland Gori exprime ce qu’il pense de Michel Onfray), entre outros, mas também de filósofos e escritores.

Então, o que significa tais ataques? Eles são justos?

Para responder a estas questões e dar a palavra aos defensores de Freud e da psicanálise na França, traduzi um artigo de Bernard Maris, economista francês de renome que escreve para jornais, blogs, revistas e faz crônicas cotidianas para a estação de rádio France-Inter. Bernard Maris costuma empregar noções psicanalíticas em seus escritos, afim de melhor compreender o mundo da economia e das finanças.

Traduzi também trechos de uma entrevista dada por Roland Gori, psiquiatra,psicanalista e intelectual

engajado.


2.RESPOSTA DO ECONOMISTA BARNARD MARIS: ONFRAY MOI PEUR (ONFRAY EU MEDO)

Bernard Maris

Tradução:Eliezer de Hollanda Cordeiro

‘’A priori um rapaz que publicou um « Traité d’athéologie »(Tratado contra a Teologia), criou uma universidade popular de filosofia, preconizou o retorno dos jardins familiaux (jardins para trabalhadores), escreveu no Siné-hebdo e divulgou filosofia em vez de prospectos publicitários, é uma pessoa simpática.Sosseguemos, não tenho a intenção de defender a misoginia de Freud ou a avidez dez Lacan, mas sempre me senti profundamente perturbado por uma coisa: a necessidade de viver o que se diz . Então faça o que diz,ONFRAY.Você se diz revolucionário ? Enverede pelas estradas, encontre a Mère Teresa ou os surrealistas, defenda os clandestinos e empunhe armas contra Total. Você que ama os bons restaurantes e os bons vinhos, as belas casas e as belas pinturas, você que defende a populaça e detesta os burgueses, porque não toma o metrô nas horas de afluência ? .

De uma certa maneira, a questão que Michel Onfray coloca no jornal Libération é a da covardia e da ‘’colaboração’’ de Freud –de maneira acessória a da nulidade da psicanálise.Ora, se alguém prefere pagar 450 euros por uma sessão de psicanálise (a tarifa praticada por Freud, segundo Onfray) em vez de comprar um carro esporte, que mal há nisso? Mesmo se a psicanálise é um placebo, ela produz menos CO2.
Antes de tudo, notemos que, segundo Onfray, Freud contou a sua própria história através do complexo de Édipo.E daí? E que através do assassinato do pai e da culpabilidade dos filhos contou seus próprios fantasmas. E então? Será que isto diminui a força do complexo de Édipo ou do assassinato como fundador da cultura e da sociedade, ponto de vista que outrora fascinou
Keynes e hoje fascina René Girard ?
Mas o pior é quando Onfray aborda a questão do anti-semitismo disfarçado de Freud e de sua covardia confessa.
Em ‘’Mal estar na civilisação’’ , Freud faz duas observaçãoes que causaram mal-estar. Primeiro ele fala da “benéfica seleção natural”, o que nos tempos do eugenismo e do racismo deixa um pequeno gosto de fel. Mas sobretudo é uma notável estupidez científica porque a espécie humana é precisamente a que deixou de sofrer a seleção natural. A maneira como Freud leu a obra de Darwin foi demasiadamente rápida. Freud não esconde sua admiração pelo
ninho de cupim, produto e término de uma longa seleção natural, o que do ponto de vista científico é outra besteira. Mas ele incomoda filosoficamente: a metáfora do ninho de cupim é aquela do Estado nazista e de seu chefe todo poderoso.Mesmo assim, o seu “Mal-estar na civilisação”continua sendo um dos textos mais lindos que a humanidade já produziu.Podemos dizer a mesma coisa de “Totem et Tabu”, de “Moisés e o monoteismo”. Freud racista ?
Podemos facilmente construir um
Karl Marx cristão. Temos razão de fazer isto e eu o farei de bom grado. Karl Marx cristão-ateu ( que é um oximoro igual ao de Freud anti-semita) não impede a teoria da mais-valia de ser a grande teoria econômica que enterrou todas as falsas leis econômicas feitas pelos economistas. Que Marx tenha explorado suas filhas e engravidado sua empregada (algo um tanto nojento para um defensor do povo, não?) não tira uma grama do peso revolucionário de seus escritos.
Contudo, pior do que racista e eugenista, Freud anti-semita ? A propósito de “Moisés e o monoteismo “, Onfray escreveu : “Foi neste contexto de anti-semitismo desvairado que Freud atacou
Moisés! Sua obra seria considerada como anti-semita se tivesse sido assinada por qualquer outra pessoa.” Ora, Freud demonstra que Moisés era egipciano, que o culto do deus único vinha de Akhenaton, que os Egipcianos praticavam a circuncisão, que os judeus, enquanto povo eleito, tinham uma boa opinião deles mesmos. Isto quer dizer que Freud era anti-semita? Devemos chorar ou rir ?
Na época em que vivia,
Jean-Edern Hallier cuspia no chão quando encontrava um chileno expulso por Pinochet. Subentendido, você fugiu, camarada, em vez de combater ao lado da resistência chilena. Hallier era a última pessoa autorizada a dar lições a qualquer um,e muito menos aos chilenos. E, sendo um intelectual covarde, deveria apanhar as pontas de cigarros jogadas no chão por todos os refugiados políticos do mundo.

Incomoda-me ler setenta e cinco anos mais tarde no livro de Onfray, a lição que ele dá a Freud sobre a coragem política. Freud disse em maio de 1933, quando os seus livros foram queimados ao mesmo tempo do que os escritos por Einstein: « Pelo menos queimo bem acompanhado’’. Um ano antes, escrevera com o mesmo Einstein o “Porque a guerra ?” Freud deveria ter ido quebrar a cara dos incendiários ? Ele colaborou com o Institut Göring ? Sustentou Dolfuss, como pretende Onfray ? Das cinco irmãs de Freud, quatro morreram em campos de concentração ( talvez que isto satisfizesse sua « misoginia»...).

Freud escreveu em 1934: “O mundo se torna uma prisão, sua pior célula é a Alemanha”. Quem pode negar que Hitler perseguiu os psicanalistas ? Doente, sofrendo de um câncer, Freud peremaneceu na Áustria até 1938. Antes de partir para Londres, a Gestapo pediu-lhe para assinar uma carta reconhecendo que havia sido bem tratado.Freud assinou-a e acrescentou: “Recomendo de bom grado a Gestapo para todos.” Riamos um pouco com os anti-semitas.’’

3.RESPOSTA DE ROLAND GORI: TRECHOS DE UMA ENTREVISTA

Numa entrevista dada Ao jornalista Gibert CHARLES da Revista L’Express, Roland GORI lembrou que ‘’as críticas sobre a vida pessoal de FREUD e suas teorias começaram há mais de um século. E sempre foram as mesmas, que podem ser assim resumidas: o que é novidade na sua obra é mentira, o que é verdadeiro não é novidade. ONFRAY quer apagar o nome de um dos fundadores da cultura européia. Seus ataques surgem numa sociedade que não quer mais falar do homem trágico, do indivíduo lutando contra sua angústia, sua culpabilidade,seus desejos, seus conflitos’’.

‘’A medicina, a psiquiatria, a psicologia não são apenas saberes, são também práticas sociais.(...) A psicanálise, como a psiquiatria humanista, estima que devemos levar em conta o afeto,o relacional da personalidade’’.

‘’Hoje em dia, o sistema da economia liberal parte do princípio que o comportamento humano é racional e que é possivel prever as ações dos indivíduos em função dos interesses que podem obter. O humano tornou-se um simples segmento técnico da produção’’.

A psicanálise seria obsoleta?

‘’Freud era médico , adepto de um positivismo puro e duro, voltado para a neurologia e as ciências naturais, mas ele descobriu que a razão é solapada por forças obscuras que se encontram dentro dela, pelo inconsciente e os afetos. E que a pretensão a governar o humano pela racionalidade leva a um beco sem saída. Freud inventou um método onde o saber não vem do especialista: é o próprio doente que possui um saber que o terapeuta vai ajudar a decifrar.A psicanálise faz parte desta herança que defende a idéia de que a humanidade do homem não se situa somente na razão’’.

E sobre a relação da psicanálise com a nova concepção da saúde mental?

‘’A psiquiatria do comportamento e da biologia deixou de se interessar pelo sofrimento do sujeito, ela descobre as anomalias do comportamento. A questão não é de saber o que levou alguem a mergulhar na obsessão, na depressão, na loucura, mas como suprimir o sintoma o mais rápido possivel.As patologias não mais se definem em função do sofrimento do paciente, mas como disfuncionamentos neuro-cognitivos conduzindo a uma alteração comportamental .O discurso psicanalítico incomoda porque opõe-se à formatação comportamental e aos valores dominantes duma sociedade onde tudo deve ser previsivel, programado, dirigido.Os ataques que visam a psicanálise mostram mais uma vez que ele está viva , mais atual e que é necessária para se resistir a esta sociedade do espetáculo e da mercadoria.’’


4. LIVROS RECENTES

Quelle Psychiatrie pour demain ?, Revue Psychiatrie Française: Vol. 2/09, Décembre 2009.

Artigos publicados neste volume :

*Éditorial : Jean-Louis CHAUVET

*Curiosité de cabinet : Serge TISSERON

*Le déclin de l’empire psychiatrique : Jacques HOCHMANN

*Déclin et espérances dans le champ de la pédopsychiatrie : Roger MISÈS

*Refonder la psychiatrie: Didier HOUZEL

*Déclin de l’empire psychiatrique : Jean-Pierre OLIÉ

*L’empire pédopsychiatrique… quel empire ? : Bernard GOLSE

*Nadha: Simon-Daniel KIPMAN

*Une psychiatrie médico-sociale est-elle nécessaire. Pourra-t-elle renaître ? : Roger SALBREUX

*Cinquante ans de clinique psychiatrique : Alain KSENSEE

*La neuropsychiatrie de l’enfance et de l’adolescence en Italie : Lenio RIZZO

*Mouvements d’humeur :Jean-Louis CHAUVET

*Vous avez aimez la novlangue ? Vous adorerez le DSM IV ! : Francis DROSSART

* L’avènement de la non-psychiatrie : Marc HAYAT

*Vigueur et impasse de l’héritage freudien : Francis MARTENS


5. REVISTAS

*L’Évolution pychiatrique

*L’Information Psychiatrique

*Impacte medecine

*La revue française de psychiatrie et de psychologie médicale

*L’encéphale

*Psychiatrie française

*L’autre, culture et sociétés


6. ASSOCIAÇÕES

*Mission Nationale d’Appui en Santé Mentale

*Association française de psychiatrie et psychologie legales (afpp)

*Association française de musicotherapie (afm)

*Association art et therapie

*Association française de therapie comportementale et cognitive (aftcc)

*Association francophone de formation et de recherche en therapie comportementale et Cognitive (afforthecc)

*Association de langue française pour l’etude du stress et du trauma (alfest)

*Association de formation et de recherche des cellules d’urgence medico-psychologique (aforcump

*Association pour la fondation Henri Ey







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