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quarta-feira, 26 de maio de 2010



COMO ALCANÇAR A PAZ MENTAL

Não é uma coisa indesejável para a mente desaparecer no silêncio, estar imóvel e livre de pensamentos, uma vez que, ao silenciar-se a mente é quando se produz a descida completa de uma vasta paz procedente do Alto e, nesta vasta tranqüilidade, a realização do Eu silencioso que está em cima da mente estendido por todas as partes em sua imensidão.

O que ocorre somente, é que, quando há paz e silêncio mental, a mente vital trata de precipitar-se para ocupar o lugar, se bem que a mente mecânica tenta, ao mesmo tempo, com o mesmo propósito, fazer surgir sua gama de pensamentos habituais e triviais.

O que se deve fazer é ter o cuidado de recusar e calar esses intrusos de modo que, ao menos, durante a meditação, a paz e o sossego da mente o do ser vital sejam completos. A melhor maneira de conseguir fazê-lo é mantendo uma vontade forte e silenciosa.

Esta vontade é a vontade da alma detrás da mente; quando a mente está em paz, quando permanece em silêncio, pode perceber-se a presença da alma, também silenciosa, separada da ação da natureza. Manter a calma, ser firme e arraigado no espírito, possuir este sossego da mente, esta separação entre a Alma interior e a energia é muito útil, quase indispensável.

Porém não é possível manter a calma e estar centrado no espírito enquanto o ser está sujeito ao turbilhão de pensamentos ou dos movimentos vitais. Desapegar-se, apartar-se deles, senti-los separados de si, é indispensável. Uma grande onda (ou um mar) de calma e a consciência constante de uma vasta luminosa Realidade, tal é precisamente o caráter da realização fundamental da Verdade suprema em seu primeiro contato com a mente e a alma.

Não se pode pedir um melhor começo nem melhor fundamento; é como uma grande pedra sobre a qual se pode construir o resto. Isso significa certamente, não só uma presença, senão “a Presença”, e constituirá um grande erro debilitar a experiência por uma falta de aceitação ou por alguma dúvida sobre seu caráter.

Não é necessário defini-la, nem é conveniente tratar de configurá-la numa imagem; porque esta Presença é infinita em sua natureza. Tudo aquilo que tenha que manifestar ou exteriorizar de si mesma, o fará inevitavelmente por seu próprio poder, se existe uma aceitação sustentada. Em verdade, sem dúvida alguma, que é uma graça enviada, e a única maneira de responder a uma graça tal é aceitá-la com gratidão e, mantendo-se aberto, permitir ao Poder que tenha tocado a consciência desenvolver o ser no que tenha que ser desenvolvido.

A transformação total da natureza não pode fazer-se num momento; requer necessariamente muito tempo e se produz por etapas; a experiência atual é somente o início, um fundamento para a nova consciência na qual será possível a transformação. A espontaneidade automática da experiência deve demonstrar por si mesma que não tem nada que ver com uma construção da mente, da vontade ou das emoções; que procede de uma Verdade que está mais além dessas coisas.

Recusar as dúvidas implica, com toda certeza, haver alcançado o controle de nossos próprios pensamentos. Porém, o fato de controlar nossos pensamentos é tão necessário, na yoga e fora da yoga, como o domínio de nossas paixões e de nossos desejos vitais e o controle dos movimentos de nosso corpo.

Não é possível sequer alcançar o nível de um ser mental plenamente desenvolvido se não se é capaz de dominar os próprios pensamentos, se não se é sua própria testemunha, seu juíz e seu amo, da alma mental. Não é menos inconveniente ao ser mental do que ser como uma bola de tênis submetida ao impacto dos pensamentos desordenados e incontroláveis, que ser como um barco á deriva em meio a tempestade das paixões e dos desejos, ou um escravo da inércia ou dos impulsos do corpo.

Já sei que controlar os pensamentos é mais difícil, porque o homem, por ser primordialmente uma criatura de energia mental, se identifica a si mesmo com os movimentos de sua mente e não pode, de repente, dissociar-se e permanecer à margem e livre dos redemoinhos e turbulências da torrente mental.

É relativamente fácil para ele exercer um controle sobre seu corpo, ao menos sobre uma certa parte de seus movimentos. É-lhe menos fácil, porém, ainda que perfeitamente possível por meio duma luta efetiva, estabelecer um domínio mental sobre seus impulsos e desejos vitais; porém, sentar-se em cima do torvelinho de seus pensamentos, como o Iogue sobre o rio, é menos fácil. Não obstante, também é possível.

Todos são homens mentalmente desenvolvidos, aqueles que sobrepassam ao término médio, de algum modo, ou a menos num determinado tempo e para certo propósito, tenham tido que separar as duas partes da mente, a parte ativa que é uma fábrica de pensamentos e a parte sossegada e soberana que é uma Testemunha e uma Voluntária, observando os pensamentos julgando-os, recusando-os, eliminando-os e aceitando-os, ordenando correções e mudanças.

O Iogue vai ainda mais longe. Não somente é o senhor de si, como permanecendo de alguma maneira na mente, consegue escapar da mesma sem por assim dizer, e se situa por cima e completamente por trás. Para ele a imagem da fábrica de pensamentos já não é completamente válida; posto que vê como os pensamentos nos vêem de fora da Mente universal ou da Natureza universal, às vezes formados e distintos, às vezes informes e embrionários, em cujo caso recebem forma em alguma parte dentro de nós.

A tarefa principal de nossa mente consiste em responder, favoravelmente com aceitação, ou negativamente com repulsa, a essas ondas de pensamentos, ou em dar forma mental pessoal à substância dos pensamentos procedentes da Natureza-Força circundante.

Sri Aurobindo

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