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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Clube da Luta (Dublado) - Filme Completo



Clube da Luta (Fight Club - 1999) é um filme que trata sobre a sociedade atual de uma maneira nada convencional. Ao contrário do que muitos pensam o filme não se trata de violência, nem a banaliza. Clube da Luta é um filme sobre ideologia, com uma crítica bem ácida sobre a sociedade moderna.


Jack (Edward Norton) é um executivo neurótico que tem uma vida extremamente monótona, trabalha como investigador de seguros de uma empresa de automóveis e busca no consumo a satisfação pessoal.


O início do filme traz uma espécie de “clip” com a imagem de Jack mobiliando seu apartamento a partir de produtos que ele vê em anúncios. A música de fundo “This is your life” (Esta é sua vida) traz ao “clip” um ritmo alucinante além de fazer uma espécie de prévia do filme. Numa passagem o personagem principal chega a classificar os catálogos de compras ("IKEA") como a nova forma de pornografia moderna, onde o indivíduo tenta achar sentido em sua existência através de superficialidades e do consumo injustificado, mobiliando o apartamento, refazendo o guarda-roupa ou comprando a última novidade tecnológica.


Em passagens como “Você não é a sua conta bancária. Nem as roupas que usa. Você não é o conteúdo da sua carteira. (...)”, demonstra a crítica presente no filme à sociedade consumista moderna, na qual Marshall Berman em seu livro “A aventura da modernidade” fala que “ser moderno é fazer parte de um universo no qual como disse Marx ‘tudo que é sólido desmancha no ar.’”, ou seja, essa sociedade de consumo tenta impor à mente do ser humano que o consumo é o caminho para suprir os vazios que a vida moderna coloca em nós, mas segundo Berman esse caminho é frágil e pode se “desmanchar no ar”. “Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida”, é outra passagem do filme que retrata o sentimento da sociedade atual.


Jack também sofre de insônia crônica, deprimido com a falta de perspectivas de um american dream que já não se apresenta tão sedutor. Ele procura um médico e este o ironiza aconselhando-o a procurar um grupo de apoio a sobreviventes de câncer para que ele veja o que realmente é sofrimento. O protagonista, alienado, não entende a ironia do médico e se torna voyeur de grupos de apoio a viciados e de doenças graves.


Ele tenta aplacar sua crise de identidade freqüentando grupos de apoio psicológico para doentes terminais, talvez pelo conforto que o conhecimento da existência de pessoas ainda mais infelizes que nós mesmos trás. Uma atitude que pode ser considerada de um egoísmo desumano por muitos, mas que por uma questão de falta de hipocrisia posso considerar egoista, mas não menos humana deste modo ele se sentia vivo e assim conseguia dormir.

Em uma sessão de meditação em um dos grupos de apoio, Jack e os participantes são convidados a encontrarem sua “caverna” e seu “animal interior”. O animal que Jack encontra é um pingüim, por uma razão básica. Pingüins são todos iguais, vestidos em seus “ternos pretos”, e andando em conjuntos. Exatamente como ele é.


Numa dessas reuniões, ele conhece Marla (Helena Bonham Carter) que descobre seu “segredo”. Ela, viciada em heroína e com idéias fixas em suicídio, também encontra prazer em meio à desgraça daquelas pessoas e acaba se tornando a causa do retorno de sua insônia e também seu interesse romântico.


Eventualmente, o personagem conhece Tyler Durden, pessoa que sumariza todas as qualidades e atitudes que o personagem gostaria de ter, mas que nunca teria coragem de admitir. Tyler é a representação perfeita do anarquista, não tem endereço (vive numa casa abandonada), não tem emprego (vive da venda de sabonetes, que fabrica a partir da gordura de madames que rouba de clinicas de lipoaspiração) e que faz explosivos no porão. Não respeita as regras da sociedade e não dá satisfações a ninguém.Junto com Tyler, o personagem descobre uma válvula de escape para sua depressão: descarga de violência.


Trocar socos com Tyler o faz se sentir vivo, no controle de sua existência. Uma situação que pode ser considerada absurda por muitos, mas que não está mais de um ou dois passos adiante da satisfação que as pessoas sentem assistindo às lutas de "vale-tudo" como "Pride", "Ultimate Fighting" e outros por exemplo.Os dois iniciam os "Clubes de Lutas", recrutando indivíduos tão frustrados com a sociedade quanto o personagem principal e que tentam preencher o vazio de suas existências através dos "Clubes de Lutas", que num certo ponto evoluem para um movimento revolucionário batizado de "MayHem" (em português significa algo como "tumulto" ou "caos") que inicia uma seqüência de atos terroristas que culminam na ambição de explodir as principais operadoras de crédito dos EUA, com o objetivo de destruir a sociedade capitalista e iniciar uma nova sociedade baseada nas idéias de Tyler.Neste ponto o personagem principal deixou o seu emprego, tem seu apartamento "acidentalmente" destruído por uma explosão e vive praticamente à sombra de Tyler.


Jack, cansado de ver Tyler fazendo tudo por ele, marca um encontro entre os dois em um prédio. Tyler explica-lhe então o projeto e dá indícios de que naquele mesmo dia irá destruir tudo. Jack se revolta contra Tyler e pela primeira vez na vida, consegue fazer com que seu instinto prevaleça, o que Freud chama de “id”: ele dá um tiro em Tyler. Depois disso, Jack revive todos os momentos com Tyler e descobre que na verdade, Tyler era o seu outro “eu”, Tyler era o Jack que fazia o que queria, que odiava a podridão da sociedade e que planejou a destruição de tudo isso. Tyler durante o filme diz: "Eu sou a mente surpresa de Jack". A partir do momento em que Jack conseguiu impor seu instinto para si mesmo, ele não precisava mais de Tyler. Jack, ao matar Tyler, simbolicamente “matou” sua personalidade fraca e depois assistiu a todos os ícones do mundo capitalista globalizado serem destruídos. Na verdade, o projeto de Tyler/Jack era implodir todos os prédios que simbolizavam o mundo consumista e Jack, que estava dentro de um desses prédios, assistiu ao fim desse mundo e isso foi também o seu fim, pois ele sentiu-se realizado.


UM PARECER:


O filme mostra que a moderna humanidade se vê em meio a uma enorme ausência e vazio de valores, mas, ao mesmo tempo, em meio a uma desconcertante abundância de possibilidades. É o que filósofo Friedrich Nietzsche chama de “o advento do niilismo” que “o indivíduo, em tempos como esse, ousa individualizar-se”. As possibilidades desse mundo são ao mesmo tempo gloriosas e deploráveis. “Nossos instintos podem agora voltar atrás em todas as direções; nós próprios somos uma espécie de caos”. Esse trecho retirado do livro Além do bem e do mal do próprio Nietzsche parece traduzir o que se passa na mente de Tyler durante todo o filme. Nietzsche observa ainda que há uma grande quantidade de mesquinhos cuja solução para o caos da vida moderna é tentar deixar de viver: para eles “tornar-se medíocre é a única moralidade que faz sentido”. Baseado nessa observação percebe-se que Tyler, para não se tornar “medíocre”, tomou uma postura diferente, ele buscou no Clube da Luta, uma solução distinta.


A teoria do conflito na cultura moderna de Max Webber relaciona-se com a sociedade odiada por Tyler no filme porque de acordo com Webber, as grandes massas não têm sensibilidade, espiritualidade ou dignidade e esses “homens-massa” ou “homens-ocos” não tem o direito de governar nada nem ninguém, nem a si mesmos. Eles precisariam de uma conscientização, também proposta do Projeto Caos no filme, para exercer alguma função na sociedade. As massas não têm ego, nem “id”, suas almas são carentes de tensão interior e dinamismo; suas idéias, suas necessidades até seus dramas “não são deles mesmos”; suas vidas interiores são “inteiramente administradas”, programadas para produzir exatamente aqueles desejos que o sistema social pode fazer, nada além disso. “O povo se auto-realiza no seu conforto; encontra sua alma em seus automóveis, seus conjuntos estereofônicos, suas casas, suas cozinhas equipadas”. Essa é a crítica que o diretor faz, muito bem representada no filme.


"Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia, seríamos ricos, estrelas de cinema e do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso". Neste argumento do personagem Tyler, vemos claramente o inconformismo, a angústia e o medo do homem ao "cair na real", e perceber que sua vida é muito mais do que as regras que ele e a sociedade estabeleceram para viver.


"A propaganda nos faz correr atrás de coisas, trabalhos que odiamos, para acabar comprando o que não precisamos". São essas e outras características que se deve enxergar em Clube da Luta: um filme que justifica todas as acusações da influência negativa que os filmes de Hollywood têm na sociedade - e que a própria sociedade têm sobre a sociedade. E não existe nada mais inusitado e engraçado do que colocar Brad Pitt como o personagem anti-hollywood e Edward Norton como um cara alienado e com cara de bobo.

As vezes nos sentimos aprisionados e reprimidos em prol de condições favoráveis na sociedade. Constantemente lançamo-nos contra nossos desejos e instintos básicos. Parece que colocamos todos os nossos desejos em lugares recônditos de nossa alma e tentamos agir conforme nossas regras sociais. Somos mesmo indivíduos capazes de escolher e viver plenamente a nosso modo? Sem a interferência de valores e produtos impostos pela sociedade?

Clube da Luta (Fight Club - 1999) é um filme que trata sobre a sociedade atual de uma maneira nada convencional. Ao contrário do que muitos pensam o filme não se trata de violência, nem a banaliza. Clube da Luta é um filme sobre ideologia, com uma crítica bem ácida sobre a sociedade moderna.


Jack (Edward Norton) é um executivo neurótico que tem uma vida extremamente monótona, trabalha como investigador de seguros de uma empresa de automóveis e busca no consumo a satisfação pessoal.


O início do filme traz uma espécie de “clip” com a imagem de Jack mobiliando seu apartamento a partir de produtos que ele vê em anúncios. A música de fundo “This is your life” (Esta é sua vida) traz ao “clip” um ritmo alucinante além de fazer uma espécie de prévia do filme. Numa passagem o personagem principal chega a classificar os catálogos de compras ("IKEA") como a nova forma de pornografia moderna, onde o indivíduo tenta achar sentido em sua existência através de superficialidades e do consumo injustificado, mobiliando o apartamento, refazendo o guarda-roupa ou comprando a última novidade tecnológica.


Em passagens como “Você não é a sua conta bancária. Nem as roupas que usa. Você não é o conteúdo da sua carteira. (...)”, demonstra a crítica presente no filme à sociedade consumista moderna, na qual Marshall Berman em seu livro “A aventura da modernidade” fala que “ser moderno é fazer parte de um universo no qual como disse Marx ‘tudo que é sólido desmancha no ar.’”, ou seja, essa sociedade de consumo tenta impor à mente do ser humano que o consumo é o caminho para suprir os vazios que a vida moderna coloca em nós, mas segundo Berman esse caminho é frágil e pode se “desmanchar no ar”. “Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida”, é outra passagem do filme que retrata o sentimento da sociedade atual.


Jack também sofre de insônia crônica, deprimido com a falta de perspectivas de um american dream que já não se apresenta tão sedutor. Ele procura um médico e este o ironiza aconselhando-o a procurar um grupo de apoio a sobreviventes de câncer para que ele veja o que realmente é sofrimento. O protagonista, alienado, não entende a ironia do médico e se torna voyeur de grupos de apoio a viciados e de doenças graves.


Ele tenta aplacar sua crise de identidade freqüentando grupos de apoio psicológico para doentes terminais, talvez pelo conforto que o conhecimento da existência de pessoas ainda mais infelizes que nós mesmos trás. Uma atitude que pode ser considerada de um egoísmo desumano por muitos, mas que por uma questão de falta de hipocrisia posso considerar egoista, mas não menos humana deste modo ele se sentia vivo e assim conseguia dormir.

Em uma sessão de meditação em um dos grupos de apoio, Jack e os participantes são convidados a encontrarem sua “caverna” e seu “animal interior”. O animal que Jack encontra é um pingüim, por uma razão básica. Pingüins são todos iguais, vestidos em seus “ternos pretos”, e andando em conjuntos. Exatamente como ele é.


Numa dessas reuniões, ele conhece Marla (Helena Bonham Carter) que descobre seu “segredo”. Ela, viciada em heroína e com idéias fixas em suicídio, também encontra prazer em meio à desgraça daquelas pessoas e acaba se tornando a causa do retorno de sua insônia e também seu interesse romântico.


Eventualmente, o personagem conhece Tyler Durden, pessoa que sumariza todas as qualidades e atitudes que o personagem gostaria de ter, mas que nunca teria coragem de admitir. Tyler é a representação perfeita do anarquista, não tem endereço (vive numa casa abandonada), não tem emprego (vive da venda de sabonetes, que fabrica a partir da gordura de madames que rouba de clinicas de lipoaspiração) e que faz explosivos no porão. Não respeita as regras da sociedade e não dá satisfações a ninguém.Junto com Tyler, o personagem descobre uma válvula de escape para sua depressão: descarga de violência.


Trocar socos com Tyler o faz se sentir vivo, no controle de sua existência. Uma situação que pode ser considerada absurda por muitos, mas que não está mais de um ou dois passos adiante da satisfação que as pessoas sentem assistindo às lutas de "vale-tudo" como "Pride", "Ultimate Fighting" e outros por exemplo.Os dois iniciam os "Clubes de Lutas", recrutando indivíduos tão frustrados com a sociedade quanto o personagem principal e que tentam preencher o vazio de suas existências através dos "Clubes de Lutas", que num certo ponto evoluem para um movimento revolucionário batizado de "MayHem" (em português significa algo como "tumulto" ou "caos") que inicia uma seqüência de atos terroristas que culminam na ambição de explodir as principais operadoras de crédito dos EUA, com o objetivo de destruir a sociedade capitalista e iniciar uma nova sociedade baseada nas idéias de Tyler.Neste ponto o personagem principal deixou o seu emprego, tem seu apartamento "acidentalmente" destruído por uma explosão e vive praticamente à sombra de Tyler.


Jack, cansado de ver Tyler fazendo tudo por ele, marca um encontro entre os dois em um prédio. Tyler explica-lhe então o projeto e dá indícios de que naquele mesmo dia irá destruir tudo. Jack se revolta contra Tyler e pela primeira vez na vida, consegue fazer com que seu instinto prevaleça, o que Freud chama de “id”: ele dá um tiro em Tyler. Depois disso, Jack revive todos os momentos com Tyler e descobre que na verdade, Tyler era o seu outro “eu”, Tyler era o Jack que fazia o que queria, que odiava a podridão da sociedade e que planejou a destruição de tudo isso. Tyler durante o filme diz: "Eu sou a mente surpresa de Jack". A partir do momento em que Jack conseguiu impor seu instinto para si mesmo, ele não precisava mais de Tyler. Jack, ao matar Tyler, simbolicamente “matou” sua personalidade fraca e depois assistiu a todos os ícones do mundo capitalista globalizado serem destruídos. Na verdade, o projeto de Tyler/Jack era implodir todos os prédios que simbolizavam o mundo consumista e Jack, que estava dentro de um desses prédios, assistiu ao fim desse mundo e isso foi também o seu fim, pois ele sentiu-se realizado.


UM PARECER:


O filme mostra que a moderna humanidade se vê em meio a uma enorme ausência e vazio de valores, mas, ao mesmo tempo, em meio a uma desconcertante abundância de possibilidades. É o que filósofo Friedrich Nietzsche chama de “o advento do niilismo” que “o indivíduo, em tempos como esse, ousa individualizar-se”. As possibilidades desse mundo são ao mesmo tempo gloriosas e deploráveis. “Nossos instintos podem agora voltar atrás em todas as direções; nós próprios somos uma espécie de caos”. Esse trecho retirado do livro Além do bem e do mal do próprio Nietzsche parece traduzir o que se passa na mente de Tyler durante todo o filme. Nietzsche observa ainda que há uma grande quantidade de mesquinhos cuja solução para o caos da vida moderna é tentar deixar de viver: para eles “tornar-se medíocre é a única moralidade que faz sentido”. Baseado nessa observação percebe-se que Tyler, para não se tornar “medíocre”, tomou uma postura diferente, ele buscou no Clube da Luta, uma solução distinta.


A teoria do conflito na cultura moderna de Max Webber relaciona-se com a sociedade odiada por Tyler no filme porque de acordo com Webber, as grandes massas não têm sensibilidade, espiritualidade ou dignidade e esses “homens-massa” ou “homens-ocos” não tem o direito de governar nada nem ninguém, nem a si mesmos. Eles precisariam de uma conscientização, também proposta do Projeto Caos no filme, para exercer alguma função na sociedade. As massas não têm ego, nem “id”, suas almas são carentes de tensão interior e dinamismo; suas idéias, suas necessidades até seus dramas “não são deles mesmos”; suas vidas interiores são “inteiramente administradas”, programadas para produzir exatamente aqueles desejos que o sistema social pode fazer, nada além disso. “O povo se auto-realiza no seu conforto; encontra sua alma em seus automóveis, seus conjuntos estereofônicos, suas casas, suas cozinhas equipadas”. Essa é a crítica que o diretor faz, muito bem representada no filme.


"Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia, seríamos ricos, estrelas de cinema e do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso". Neste argumento do personagem Tyler, vemos claramente o inconformismo, a angústia e o medo do homem ao "cair na real", e perceber que sua vida é muito mais do que as regras que ele e a sociedade estabeleceram para viver.


"A propaganda nos faz correr atrás de coisas, trabalhos que odiamos, para acabar comprando o que não precisamos". São essas e outras características que se deve enxergar em Clube da Luta: um filme que justifica todas as acusações da influência negativa que os filmes de Hollywood têm na sociedade - e que a própria sociedade têm sobre a sociedade. E não existe nada mais inusitado e engraçado do que colocar Brad Pitt como o personagem anti-hollywood e Edward Norton como um cara alienado e com cara de bobo.

As vezes nos sentimos aprisionados e reprimidos em prol de condições favoráveis na sociedade. Constantemente lançamo-nos contra nossos desejos e instintos básicos. Parece que colocamos todos os nossos desejos em lugares recônditos de nossa alma e tentamos agir conforme nossas regras sociais. Somos mesmo indivíduos capazes de escolher e viver plenamente a nosso modo? Sem a interferência de valores e produtos impostos pela sociedade?

Clube da Luta (Fight Club - 1999) é um filme que trata sobre a sociedade atual de uma maneira nada convencional. Ao contrário do que muitos pensam o filme não se trata de violência, nem a banaliza. Clube da Luta é um filme sobre ideologia, com uma crítica bem ácida sobre a sociedade moderna.


Jack (Edward Norton) é um executivo neurótico que tem uma vida extremamente monótona, trabalha como investigador de seguros de uma empresa de automóveis e busca no consumo a satisfação pessoal.


O início do filme traz uma espécie de “clip” com a imagem de Jack mobiliando seu apartamento a partir de produtos que ele vê em anúncios. A música de fundo “This is your life” (Esta é sua vida) traz ao “clip” um ritmo alucinante além de fazer uma espécie de prévia do filme. Numa passagem o personagem principal chega a classificar os catálogos de compras ("IKEA") como a nova forma de pornografia moderna, onde o indivíduo tenta achar sentido em sua existência através de superficialidades e do consumo injustificado, mobiliando o apartamento, refazendo o guarda-roupa ou comprando a última novidade tecnológica.


Em passagens como “Você não é a sua conta bancária. Nem as roupas que usa. Você não é o conteúdo da sua carteira. (...)”, demonstra a crítica presente no filme à sociedade consumista moderna, na qual Marshall Berman em seu livro “A aventura da modernidade” fala que “ser moderno é fazer parte de um universo no qual como disse Marx ‘tudo que é sólido desmancha no ar.’”, ou seja, essa sociedade de consumo tenta impor à mente do ser humano que o consumo é o caminho para suprir os vazios que a vida moderna coloca em nós, mas segundo Berman esse caminho é frágil e pode se “desmanchar no ar”. “Nós somos os filhos do meio da história, sem propósito ou lugar. Não tivemos Grande Guerra, não tivemos Grande Depressão. Nossa grande guerra é a guerra espiritual, nossa grande depressão é a nossa vida”, é outra passagem do filme que retrata o sentimento da sociedade atual.


Jack também sofre de insônia crônica, deprimido com a falta de perspectivas de um american dream que já não se apresenta tão sedutor. Ele procura um médico e este o ironiza aconselhando-o a procurar um grupo de apoio a sobreviventes de câncer para que ele veja o que realmente é sofrimento. O protagonista, alienado, não entende a ironia do médico e se torna voyeur de grupos de apoio a viciados e de doenças graves.


Ele tenta aplacar sua crise de identidade freqüentando grupos de apoio psicológico para doentes terminais, talvez pelo conforto que o conhecimento da existência de pessoas ainda mais infelizes que nós mesmos trás. Uma atitude que pode ser considerada de um egoísmo desumano por muitos, mas que por uma questão de falta de hipocrisia posso considerar egoista, mas não menos humana deste modo ele se sentia vivo e assim conseguia dormir.

Em uma sessão de meditação em um dos grupos de apoio, Jack e os participantes são convidados a encontrarem sua “caverna” e seu “animal interior”. O animal que Jack encontra é um pingüim, por uma razão básica. Pingüins são todos iguais, vestidos em seus “ternos pretos”, e andando em conjuntos. Exatamente como ele é.


Numa dessas reuniões, ele conhece Marla (Helena Bonham Carter) que descobre seu “segredo”. Ela, viciada em heroína e com idéias fixas em suicídio, também encontra prazer em meio à desgraça daquelas pessoas e acaba se tornando a causa do retorno de sua insônia e também seu interesse romântico.


Eventualmente, o personagem conhece Tyler Durden, pessoa que sumariza todas as qualidades e atitudes que o personagem gostaria de ter, mas que nunca teria coragem de admitir. Tyler é a representação perfeita do anarquista, não tem endereço (vive numa casa abandonada), não tem emprego (vive da venda de sabonetes, que fabrica a partir da gordura de madames que rouba de clinicas de lipoaspiração) e que faz explosivos no porão. Não respeita as regras da sociedade e não dá satisfações a ninguém.Junto com Tyler, o personagem descobre uma válvula de escape para sua depressão: descarga de violência.


Trocar socos com Tyler o faz se sentir vivo, no controle de sua existência. Uma situação que pode ser considerada absurda por muitos, mas que não está mais de um ou dois passos adiante da satisfação que as pessoas sentem assistindo às lutas de "vale-tudo" como "Pride", "Ultimate Fighting" e outros por exemplo.Os dois iniciam os "Clubes de Lutas", recrutando indivíduos tão frustrados com a sociedade quanto o personagem principal e que tentam preencher o vazio de suas existências através dos "Clubes de Lutas", que num certo ponto evoluem para um movimento revolucionário batizado de "MayHem" (em português significa algo como "tumulto" ou "caos") que inicia uma seqüência de atos terroristas que culminam na ambição de explodir as principais operadoras de crédito dos EUA, com o objetivo de destruir a sociedade capitalista e iniciar uma nova sociedade baseada nas idéias de Tyler.Neste ponto o personagem principal deixou o seu emprego, tem seu apartamento "acidentalmente" destruído por uma explosão e vive praticamente à sombra de Tyler.


Jack, cansado de ver Tyler fazendo tudo por ele, marca um encontro entre os dois em um prédio. Tyler explica-lhe então o projeto e dá indícios de que naquele mesmo dia irá destruir tudo. Jack se revolta contra Tyler e pela primeira vez na vida, consegue fazer com que seu instinto prevaleça, o que Freud chama de “id”: ele dá um tiro em Tyler. Depois disso, Jack revive todos os momentos com Tyler e descobre que na verdade, Tyler era o seu outro “eu”, Tyler era o Jack que fazia o que queria, que odiava a podridão da sociedade e que planejou a destruição de tudo isso. Tyler durante o filme diz: "Eu sou a mente surpresa de Jack". A partir do momento em que Jack conseguiu impor seu instinto para si mesmo, ele não precisava mais de Tyler. Jack, ao matar Tyler, simbolicamente “matou” sua personalidade fraca e depois assistiu a todos os ícones do mundo capitalista globalizado serem destruídos. Na verdade, o projeto de Tyler/Jack era implodir todos os prédios que simbolizavam o mundo consumista e Jack, que estava dentro de um desses prédios, assistiu ao fim desse mundo e isso foi também o seu fim, pois ele sentiu-se realizado.


UM PARECER:


O filme mostra que a moderna humanidade se vê em meio a uma enorme ausência e vazio de valores, mas, ao mesmo tempo, em meio a uma desconcertante abundância de possibilidades. É o que filósofo Friedrich Nietzsche chama de “o advento do niilismo” que “o indivíduo, em tempos como esse, ousa individualizar-se”. As possibilidades desse mundo são ao mesmo tempo gloriosas e deploráveis. “Nossos instintos podem agora voltar atrás em todas as direções; nós próprios somos uma espécie de caos”. Esse trecho retirado do livro Além do bem e do mal do próprio Nietzsche parece traduzir o que se passa na mente de Tyler durante todo o filme. Nietzsche observa ainda que há uma grande quantidade de mesquinhos cuja solução para o caos da vida moderna é tentar deixar de viver: para eles “tornar-se medíocre é a única moralidade que faz sentido”. Baseado nessa observação percebe-se que Tyler, para não se tornar “medíocre”, tomou uma postura diferente, ele buscou no Clube da Luta, uma solução distinta.


A teoria do conflito na cultura moderna de Max Webber relaciona-se com a sociedade odiada por Tyler no filme porque de acordo com Webber, as grandes massas não têm sensibilidade, espiritualidade ou dignidade e esses “homens-massa” ou “homens-ocos” não tem o direito de governar nada nem ninguém, nem a si mesmos. Eles precisariam de uma conscientização, também proposta do Projeto Caos no filme, para exercer alguma função na sociedade. As massas não têm ego, nem “id”, suas almas são carentes de tensão interior e dinamismo; suas idéias, suas necessidades até seus dramas “não são deles mesmos”; suas vidas interiores são “inteiramente administradas”, programadas para produzir exatamente aqueles desejos que o sistema social pode fazer, nada além disso. “O povo se auto-realiza no seu conforto; encontra sua alma em seus automóveis, seus conjuntos estereofônicos, suas casas, suas cozinhas equipadas”. Essa é a crítica que o diretor faz, muito bem representada no filme.


"Fomos criados pela televisão para acreditar que um dia, seríamos ricos, estrelas de cinema e do rock. Mas não seremos. E estamos aos poucos aprendendo isso". Neste argumento do personagem Tyler, vemos claramente o inconformismo, a angústia e o medo do homem ao "cair na real", e perceber que sua vida é muito mais do que as regras que ele e a sociedade estabeleceram para viver.


"A propaganda nos faz correr atrás de coisas, trabalhos que odiamos, para acabar comprando o que não precisamos". São essas e outras características que se deve enxergar em Clube da Luta: um filme que justifica todas as acusações da influência negativa que os filmes de Hollywood têm na sociedade - e que a própria sociedade têm sobre a sociedade. E não existe nada mais inusitado e engraçado do que colocar Brad Pitt como o personagem anti-hollywood e Edward Norton como um cara alienado e com cara de bobo.

As vezes nos sentimos aprisionados e reprimidos em prol de condições favoráveis na sociedade. Constantemente lançamo-nos contra nossos desejos e instintos básicos. Parece que colocamos todos os nossos desejos em lugares recônditos de nossa alma e tentamos agir conforme nossas regras sociais. Somos mesmo indivíduos capazes de escolher e viver plenamente a nosso modo? Sem a interferência de valores e produtos impostos pela sociedade?
psicoloucos



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