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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Yoani Sánchez





Em "dossiês" e textos que disponibiliza contra Yoani Sánchez na internet, o governo cubano tem razão em um ponto: na ilha, ela não tem um décimo da popularidade que desfruta no exterior.

É provável até que muitos dos que saibam que a criadora do blog "Generación Y" é também tuiteira e crítica dos Castro a tenham conhecido pela TV estatal, que dedicou programas para atacá-la.

A pouca difusão é mais que natural no país com menor taxa de penetração de internet das Américas --22%, segundos dados oficiais, e o governo ainda conta quem acessa uma intranet estatal.

Parte do sucesso no mundo de Yoani Sánchez se explica justamente por ter chamado atenção, com seu blog criado em 2007, para essa indigência tecnológica cubana em pleno século 21.

Era um discurso fresco, no tom da moda sobre "ativismo civil" e uso da internet, sem proposta de sublevação direta, embalado no texto bem escrito da filóloga que lembrava os problemas do dia a dia em Havana.

Pela internet afora, milhares se solidarizaram por causa das dificuldades para acessar a rede (R$ 12 a hora) e pelo drama de ter as viagens negadas pelo governo --problema que só só acabou com a reforma migratória baixada em janeiro.
A voz de Sánchez ocupou o vácuo do grupo desgastado de dissidentes políticos --ligados aos anticastristas de Miami, que nem mesmo eram capazes de vencer disputas para se unir numa plataforma comum.
Esse misto de reconhecimento da novidade na paisagem cubana e o forte desejo de que ela fosse "uma em milhões" parece ter contribuído para a série de prêmios de imprensa que ganhou.

A projeção da blogueira coincidiu com a consolidação de Raúl Castro no poder, cuja primeira reforma efetiva foi liberar os celulares para o uso dos cubanos, em 2008.
O governo fez questão de lançar um tuiteiro "oficial", Yohandry Fontana, para rebater Sánchez, especialmente no plano externo, pouco tempo depois.

No plano interno, apesar de estar longe de ser uma ameaça, o irmão de Fidel e seu governo monitoram Sánchez porque ela tocou e toca em uma questão que vai ser cada vez mais importante: será possível manter o monopólio da informação e do poder de associação e mobilização na ilha em reformas?

O controle da circulação de dados e notícias já não é absoluto, e Havana sabe disso. Há centenas de esquemas diferentes para passar informação no mercado negro em Cuba. De uso de SMS em massa para convocar para festas a conexões ilegais, pen drives, discos rígidos, antenas parabólicas com sinal de Miami, sem falar na pressão para ampliar o uso da internet.

Até agora, no entanto, os operadores dessas redes fazem dinheiro com isso e não querem se arriscar com conteúdos políticos


Flávia Marreiro




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