Pesquisa mostra que, apesar dos estereótipos, não é possível separar homens e mulheres tomando por base somente as características psicológicas
A historinha segundo a qual homens são de Marte e mulheres são de Vênus é muito boa para vender livros, mas um novo estudo científico defende que psicologicamente os gêneros masculino e feminino são semelhantes. A conclusão do estudo americano que propõe um fim pacífico para a guerra dos sexos mostra que não é possível separá-los em dois grupos tomando por base somente as características psicológicas.
Para a realização da pesquisa, publicada na edição de fevereiro do periódico Journal of Personality and Social Psychology, foram analisadas 122 características, como empatia, extroversão e afinidade com ciências, em 13.301 indivíduos.
Os dados de personalidade foram coletados de outros treze estudos. Mas os resultados encontrados mostraram que homens e mulheres poderiam ser classificados em grupos distintos apenas baseados em critérios antropométricos (medições do corpo humano), como altura, largura dos ombros, circunferência do braço e relação cintura/quadril. Além disso, o gênero pode ajudar a prever a tendência a alguns interesses específicos, como cosméticos, nas mulheres, e boxe, nos homens.
Porém, características psicológicas, como critério de seleção de amigos e medo do sucesso, não podem ser utilizadas para classificar homens e mulheres em dois grupos distintos. Apesar de existirem algumas exceções, a variação e as características dentro de cada sexo, além da semelhança entre eles, levaram os pesquisadores a considerarem impreciso e incorreto utilizar critérios psicológicos para fazer essa divisão. "Podem existir diferenças entre homens e mulheres, mas são diferenças individuais, não categóricas", afirma Harry Reis, um dos autores do estudo.
Estereótipos — O fato de uma pessoa se enquadrar em alguns dos estereótipos de seu gênero não significa que o fará em todos. Um homem que, na avaliação feita para o estudo, teve uma pontuação alta no critério agressividade, pode ter uma nota baixa em matemática, por exemplo, explicam os pesquisadores.
Para Reis, insistir na simplificação da diferença entre os sexos pode ser prejudicial para relacionamentos. "Quando alguma coisa dá errado com o casal, as pessoas frequentemente culpam o sexo do parceiro. Os estereótipos de gênero impedem que as pessoas vejam seus parceiros como indivíduos", diz ele. "Estereótipos também podem desencorajar a busca por certos objetivos. Quando tendências psicológicas e intelectuais são vistas como características definidoras, elas têm mais chance de serem consideradas imutáveis. Então, por que se preocupar em mudar?", completa.
"Para os pais, isso significa que, ao criar um filho, você não deve tentar encaixá-lo em uma categoria baseada em seu gênero. Você deve descobrir quais são seus interesses, o que ele quer fazer, quais são suas forças e fraquezas e, a partir daí, você pode perceber que algumas dessas forças não são características de seu gênero, enquanto outras são", afirma Harry Reis.
O pesquisador explica que uma das principais evidências de que a história de "homens são de Marte e mulheres são de Vênus” está errada é que casais homossexuais têm problemas muito semelhantes aos dos casais heterossexuais. "Claramente, não se trata do sexo, mas do caráter humano que causa dificuldades", afirma Reis.
Para os autores, à medida que os papéis atribuídos aos gêneros vão se tornando menos rígidos, novos estudos podem mostrar divergências ainda menores entre homens e mulheres. Porém, essas diferenças podem continuar acentuadas em países em que o papel de cada sexo é definido de forma mais restrita pela cultura, como alguns países orientais.
"O que a gente está percebendo é que, de fato, com as mudanças culturais, começou a haver uma grande mistura de características. O que era exclusivamente feminino e exclusivamente masculino não é mais. Porém há algumas características que, apesar de serem comportamentais, são relacionadas a diferenças hormonais e outras características de base orgânica que ainda se mantêm.
"O homem, por exemplo, coloca a atividade sexual como a terceira atividade em nível de importância na vida dele. Estudos com a população brasileira mostram que qualidade de vida para ele em primeiro lugar é conviver com a família, segundo alimentação saudável e terceiro atividade sexual satisfatória. As mulheres colocam a sexualidade em oitavo lugar, mostrando que existe uma valorização diferente da atividade sexual. Essa valorização é cultural, mas é muito mais pautada nas diferenças hormonais de ambos os sexos.
"Os homens são de Marte e as mulheres são de Vênus porque os homens são testosterônicos e as mulheres estrogênicas. Eu acho que os homens continuarão sendo de Marte e as mulheres de Vênus enquanto estiverem em corpos estrutural e quimicamente diferentes, mas nada impede que aquilo que os homens aprenderam com a vida em sociedade, as mulheres também tenham aprendido assim que tiveram a oportunidade de participar da mesma sociedade. Se a gente compara a mulher americana de hoje com a de cem anos atrás, elas são diferentes. Elas sem dúvida colocariam respostas muito diferentes no questionário dessa pesquisa.
"Além disso, esse estudo vale para uma cultura ocidental, do século 21, especialmente dos Estados Unidos. Se o mesmo estudo fosse realizado em países com culturas diferentes, os resultados seriam outros."
Bobbi J. Carothers e Harry T. Reis
Veja
Fonte:
Amigos do Freud
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