Thomas Saliot
Um estudo feito pelo Laboratório de Neurociência Social da Universidade Harvard revela o que usuários de redes sociais já desconfiavam: que o cérebro humano responde a revelações pessoais utilizando os mesmos circuitos de prazer associados a comida, dinheiro e sexo.
Compartilhar e bisbilhotar se transformou em uma espécie de compulsão diária, presente nos lugares mais inadequados.
Envolvidos pelo momento, muitos não se dão conta de que revelam mais do que seria recomendável. Com a mesma ingenuidade que um habitante de cidade pequena deixa portas e janelas abertas à noite por não temer que algo de mal aconteça, é comum ver perfis que divulgam todo tipo de informação, como se estivessem imunes a variações de contexto ou a erros de interpretação.
Quem já tem alguma experiência sabe que não deve falar do chefe ou do ambiente de trabalho nas redes, nem compartilhar conteúdo de gosto duvidoso, fazer provocações ou dizer ironias, sob pena de ter de se desculpar posteriormente a centenas de outros que não fazem ideia do que ocorreu. Também é senso comum não compartilhar, por razões de segurança, informações pessoais como aniversários, relacionamentos, localização geográfica, endereço ou telefone de casa, local e data de nascimento, nome dos filhos ou da mãe.
Nada disso é novidade. Poucos tem consciência, no entanto, do volume de informação compartilhada involuntariamente. Fotos e atualizações costumam registrar automaticamente o local e hora em que foram feitos, informações que, fora de seu contexto original, podem custar empregos, relacionamentos ou até mover ações judiciais. Mesmo apagadas, cópias de fotos podem estar armazenadas nas memórias de celulares, servidores ou discos rígidos, à disposição para serem descobertas nos momentos mais impróprios. Até imagens inocentes tendem a revelar, no conjunto, muito sobre os hábitos e preferências de seus autores.
Mídias sociais são meios de comunicação, não assentos de táxi. Não se deve falar nelas como se ninguém estivesse ouvindo ou dar opiniões quando estas não forem requisitadas. No "Show de Truman" digital, somos o produto e publicamos para uma audiência, mesmo sem nos dar conta disso. Mais do que transmitir informação, cada nova atualização ajuda a projetar uma identidade através de suas opiniões e escolhas.
Expor-se em público é difícil e estressante, é difícil manter-se o tempo todo sob controle. Nesses momentos, o ideal é tirar fotos para si mesmo ou conversar com amigos ao vivo, torcendo para que ninguém registre a conversa.
Luli Radfahrer
Fonte: Amigos do Freud
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