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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O advogado e a freira




Wanderley Pereira dos Santos

Em março, o advogado Wanderley Pereira dos Santos, morador de uma bela casa na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, lança um livro autoral que mais parece uma confissão. Na obra O advogado e a freira (Ed. Livre Expressão), que renderia o argumento para mais um filme de Almodóvar, o empresário conta como sua alma foi salva pelo amor da freira Sabrina da Cunha Neto Pereira, a irmã Sabrina, então aos 31 anos, com quem se casou.

Antes de conhecer a moça, o empresário sentia que levava uma vida vazia e sem sentido. Seu tempo era, segundo ele, 100% consumido em futilidades. Saía todas as noites, revezando entre os restaurantes mais luxuosos da capital, como o Dádiva, Taste Vin e Favorita. "Estava farto de me exibir naquele big brother da realidade, onde as pessoas se aproximam de você pelo que representa e não pelo que é de fato. Por mais dinheiro que gastasse, sempre voltava sozinho para casa. Não há sensação mais aterradora do que a solidão", diz o advogado.

Nesse estado de espírito em que se encontrava, esmagado pela culpa cristã, Wanderley conheceu a freira Sabrina, seguidora dos votos de pobreza, castidade e obediência a Deus. Era o oposto das mulheres que rodeavam o empresário na mesa do bar, quando ele mandava o garçom abrir a garrafa de champanhe mais requintada vendida ali. "Fiquei assustado com minha pequenez perto de uma vida tão nobre quanto a dela, focada em trabalhar durante anos, sem remuneração, simplesmente para se doar a Deus. Isso me levou a uma profunda reflexão. Será que minha atividade era tão importante que eu não poderia me dedicar um pouco mais a Deus?", questiona.

Em vez de atrair Sabrina para as tentações além dos muros do convento, Wanderley sofreu uma espécie de conversão por intermédio dela. O advogado, que só frequentava a igreja em missas de sétimo dia e batizados, iria se tornar mais tarde um dos coordenadores do Terço dos Homens, celebrado na última segunda-feira do mês na Igreja Nossa Senhora Rainha, no Bairro Belvedere. Ele também passou a fazer questão de comungar todos os domingos na companhia da mulher, que participa do Sal da Terra, grupo de canto da mesma paróquia. "Ela é a vocalista do grupo, apesar da timidez", conta.

Os dois se conheceram em um churrasco de confraternização para freiras, depois que a mulher de um primo de Wanderley superou um câncer, graças às fervorosas orações. No primeiro momento, porém, o advogado recusou o convite. Era o dia 13 de julho de 2008. "Nada contra freiras, mas sentia calafrios só de pensar em um churrasco com orações", descreve no livro. Vencido pela insistência do parente e pela falta de outro programa, Wanderley viu-se no meio de um grupo de religiosas que, em vez das fofocas do mundo dos negócios, conversavam sobre Deus, votos de castidade e vocação. "Descobri que mulheres jovens e bonitas decidiam ser freiras simplesmente por seguir um chamado de Deus. No início, fiquei desconfiado. Achava que Sabrina teria sofrido uma decepção amorosa, mas não era isso", conta.

Já na primeira conversa, a irmã Sabrina admitiu que questionava sua vocação depois de sete anos e meio ao cuidar de 400 crianças de um colégio de freiras e ao compartilhar os sentimentos da sua irmã, que acabava de ter um bebê. Com a desculpa de enviar as fotos tiradas durante o churrasco, Wanderley conseguiu o e-mail da freira. No dia seguinte, transtornado de emoção, enviou a primeira mensagem, sem imaginar que ficaria meses sem resposta. “Desculpe-me, irmã Sabrina, escrevo-lhe este e-mail com as mãos trêmulas e o pensamento um pouco confuso. Estarei, a partir de agora, recordando cada segundo em que tive o privilégio de estar próximo a você, seu sorriso encantador, seu carisma, sua fé em Deus. Desculpe-me, irmã Sabrina, mas também o seu perfume suave. Sabrina, quanta suavidade existe em você”, derramou o empresário, descobrindo que ela aparecia em 34 das 46 fotos tiradas na ocasião.

Um ano depois

A conquista de irmã Sabrina custou praticamente um ano até que ela retirasse o hábito de freira, mediante autorização da madre provincial, e concordasse em se encontrar com o namorado. Para tanto, Wanderley deslocou-se por diversas vezes até Teresópolis, no Rio de Janeiro, onde a comunidade religiosa estava estabelecida. O empresário roubava minutos de atenção e olhares da freira, que se recusava a conversar com ele pessoalmente. Na primeira vez em que iria se encontrar sozinho com irmã Sabrina, na recepção de um hotel da cidade, a freira levou junto os pais. Eles queriam conhecer as reais intenções do candidato a noivo.

Aprovado pela família, o empresário inesperadamente foi rejeitado pela ex-freira. Aos prantos, Sabrina disse ao candidato que estava certa da decisão de deixar o convento, mas não sabia se estava preparada para assumir um relacionamento. “Confesso que fiquei terrivelmente abalado, mas ao mesmo tempo feliz pela sinceridade, educação e doçura com as quais ela estava me dando o fora”, explica no livro. Com os nervos em frangalhos, os dois enfim se beijaram quando Wanderley deu um ultimato: "Apesar da dor que sinto em meu coração, jamais serei um empecilho para você. Voltarei ainda hoje para BH e não mais retornarei a Teresópolis".

Passados quase cinco anos de relacionamento, Wanderley ainda não consegue acreditar no milagre da transformação da própria vida, que andava estagnada depois de 10 anos de uma separação traumática da primeira mulher. Em um trecho do livro, explica que havia decidido “nunca mais se envolver com mulher”. Hoje, Wanderley mostra-se tão encantado com a própria história a ponto de publicar o romance, que alguns leitores poderiam achar um tanto meloso. "Nossos amigos são apaixonados pela nossa história. Quem ler esse livro com o coração aberto não irá trair ninguém jamais. É diferente quando você se relaciona com uma pessoa a quem ama e respeita integralmente. Não se trata de um casamento de mentirinha", afirma o empresário, que chamou os três filhos do primeiro casamento (que foi só no civil) para ser padrinhos do segundo.

Sandra Kiefer




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