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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

AUTO-TRANSFORMAÇÃO !



Em plena batalha um oficial reuniu seu batalhão e gritou: “Soldados, agora é homem contra homem!” Um jovem soldado da infantaria respondeu na mesma altura: “Mostre-me, então, um homem! Talvez, eu possa com ele chegar a um entendimento!”
O agir humano não está simplesmente limitado pela natureza. Sem dúvida alguma, a natureza possui suas leis e sendo estas não respeitadas temos que, direta ou indiretamente, nos confrontar com suas conseqüências. A questão não é, porém, a quebra das leis naturais, mas como realizamos isso e quais são estas conseqüências. Portanto, o ser humano precisa conhecer a natureza de seu universo para transformá-la se assim o deseja sem que haja conseqüências ruins ou até mesmo drásticas a ele e ao planeta. Mas não é somente a natureza o objeto de transformação do ser humano. Nós possuímos a extraordinária capacidade da auto-transformação. A transformação humana é inevitável, já que o ser humano está na natureza e uma de suas leis é a dinâmica da mudança. Com o passar do tempo nos modificamos, ficamos mais velhos, nosso corpo se transforma, nossa mentalidade muda, nossa forma de lidar com as coisas, situações e pessoas não é mais a mesma. Neste universo em movimento, o desafio do ser humano está na realização, ou seja, na condução da auto-transformação. Quando falamos em uma auto-transformação não estamos nos referindo somente à capacidade de um individuo de se auto-transformar, mas também, e ao mesmo tempo, de transformação do ser humano, da sociedade humana, da humanidade. Como o ser humano individual se transforma da infância à velhice, a sociedade humana também passa por transformações. E como um individuo pode iniciar sua vida repleto de esperanças e chegar a uma velhice com uma postura pessimista e amarga diante da vida, assim também a sociedade pode passar por momentos férteis e de bem-estar e mais tarde se transformar em uma sociedade decadente, com valores desumanos, uma cultura do desrespeito, do egoísmo e sem a socialização de suas riquezas. Fundamental é compreender que a capacidade do individuo de se auto-transformar está associada à possibilidade da transformação da sociedade. Estes dois níveis de auto-transformação, a individual e a social, estão intimamente ligadas. 
A auto-transformação do ser humano não está simplesmente dependente de sua vontade. Outros fatores influenciam na possibilidade de conduzir a auto-transformação tanto do indivíduo como da humanidade: família, religião, escola, Estado, aplicação das leis, economia, acesso a um tratamento de saúde, trabalho, arte, lazer, ciência, filosofia, etc. Para que o ser humano possa ter o prazer de dirigir sua auto-transformação é necessário que ele tenha uma sociedade que seja um espaço de liberdade. E liberdade não significa apenas o ato de pensar e de se locomover. A liberdade está condicionada pelo capital, pelos valores transmitidos pela família, pela educação assimilada na escola, pelo retorno dos impostos pagos através de um Estado honesto, pela aplicação de leis que tragam a sensação concreta de segurança, por uma economia que permita a socialização das riquezas, por uma qualidade de vida, na qual o ser humano possa fazer uso de todas as suas potencialidades. Para se obter esta liberdade, por sua vez, é necessário que o indivíduo modifique a sua visão de mundo, a sua compreensão sobre a vida humana e o universo. Justamente através de uma mudança do significado que possuímos sobre as coisas que nos circundam, se inicia a possibilidade de uma verdadeira e ampla auto-transformação. Sócrates, por exemplo, fez uma experiência de transformação dos significados em sua sociedade. Ele conseguiu mostrar a seus contemporâneos que existem dois níveis de compreensão das coisas: o primeiro é o nível da linguagem cotidiana e o outro o nível reflexivo das palavras que utilizamos. No primeiro,  as palavras são simplesmente expressadas sem uma definição clara de seus significados. Utilizamos palavras como amizade, democracia, honestidade, direito sem refletirmos sobre o que elas, na verdade, significam e, portanto, permanecemos somente no plano do discurso. Se permanecemos neste primeiro nível somos apenas seres “falantes” e através da fala não exigimos concretamente uma transformação da realidade e nem nos comprometemos com pessoas e situações. Quando seus contemporâneos utilizavam a palavra “política”, Sócrates imediatamente interrompia o discurso indagando sobre o significado desta palavra. O que é política? O que é fazer política? Para que serve a política? Quem faz política? Ao deixar o universo superficial do discurso, Sócrates introduzia seus contemporâneos no segundo nível de compreensão das coisas, no significado das palavras. O questionamento sobre a palavra que compõe o discurso é o início de uma revolução que transforma o ser humano e, por conseqüência, a sua realidade. Somente desta forma podemos conduzir nossa auto-transformação e contribuir para uma auto-transformação de nossa humanidade. Portanto, faça como Sócrates: questione! 
Fonte:Padre Beto -www.padrebeto.com.br


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