Queremos apresentar de forma prática a experiência
da meditação, desmistificando a idéia de que meditar possa ser algo
difícil de ser atingido ou que seja somente para alguns seres mais
evoluídos.
Como bebês nós já meditamos, no ato da descoberta e
exploração sensorial do mundo, só que de forma inconsciente. As crianças
quando brincam concentram-se profundamente no ato de brincar. O homem
primitivo desenvolveu formas de sobreviver em ambientes hostis e de
sentir-se conectado com uma dimensão que os transcendesse.
Meditar
tem sido associado popularmente à oração, à prece, a alguma forma do
ser humano de ir além dos próprios limites da sua consciência
individual, e isto o ser humano já busca fazer desde os primórdios da
nossa história humana.
No princípio esta busca de “religação” com
o cosmos se dá a partir da interação com a natureza. O homem deve se
submeter a Ela que representa A Grande Mãe. Compreendê-la e respeitá-la.
Eliade nos fala do caráter sagrado e fascinante deste estado de ligação
do homem com a natureza e com os deuses que se projetavam no universo
simbólico deste homem ainda sem uma identidade consciente e individual.
Todas
as antigas práticas ascéticas da Índia Antiga nascem em meio a este
estado intuitivo de profunda imersão na Energia criadora da Vida. Estes
homens ao invés de se contentarem com as práticas dos rituais e com a
imitação da vida dos deuses na sua perspectiva da vida ordinária, como
fizeram à maioria das sociedades primitivas, buscaram através da
experiência direta, observar seu próprio psiquismo e acessaram assim o
estado supremo de consciência do Criador. Estas práticas deram origem às
tradições do Yoga e do Budismo posteriormente, as quais, nós vamos
enfocar neste capítulo.
Cada cultura desenvolveu suas próprias formas de
conexão com o Transcendente, desenvolvendo métodos diferentes de
concentrar e colocar o ego individual no seu lugar em relação a uma
consciência ordenadora da vida.
No Oriente desenvolveu-se uma
visão mais introvertida, segundo Jung , isto é, voltada para os
conteúdos internos o homem oriental conseguiu observar melhor seus
estados de consciência e perceber o Transcendente dentro de si mesmo.
Ao
contrário no Ocidente a consciência voltou-se mais para observar os
objetos externos. A conseqüência foi à projeção do Transcendente fora de
si mesmo, nos noutros seres e no universo. As ciências desenvolvidas,
como uma busca deste homem de entender e dominar a natureza muitas vezes
entrou em conflito com as crenças religiosas. O homem perdeu o contato
com a natureza, com a sua natureza e com a sua transcendência, passando
ainda segundo Jung a adoecer e desenvolver neuroses.
Atualmente,
observamos um movimento de aproximação Ocidente e Oriente e uma busca de
integração acontecendo pela crescente globalização da comunicação e dos
conhecimentos. Temos assim a possibilidade de ampliar nossa experiência
como seres humanos vivenciando práticas das culturas do Oriente, sem,
entretanto negar o que temos de positivo. A meditação sobre este prisma
assim como foi concebida pelas tradições do Yoga e do Budismo podem ser
perfeitamente adequadas à nossa vida cotidiana, nos oferecendo mais
recursos e uma visão mais ampla para enfrentarmos os desafios desta
existência.
Para nós homens modernos, vivendo um momento
histórico verdadeiramente crítico a nível planetário, meditar é caminho
de nos lembrarmos quem verdadeiramente somos observar para compreender
nossos problemas, perceber o Ego e o Eu profundo dentro de nós em sua
totalidade, reconhecendo nossas contradições e a raiz de nossos
conflitos agora, sem dar desculpas do que deveria ser, reconhecendo a
realidade dentro nós, geramos condições auto reguladoras para as
mudanças ocorrerem. Krisnamurti a respeito da meditação nos fala:
“A
meditação requer a total compreensão do EU, e, por conseguinte, que
estejamos livres da estrutura psicológica da sociedade. Isto é,quando já
não somos ambiciosos, ávidos, invejosos e não mais estamos tentando
alcançar, “vir-a-ser”, portanto, quando não há mais esforço. A mente
está então perfeitamente tranqüila.”
Krisnamurti quer dizer que
na verdade estamos sempre querendo conquistar algo baseado nos padrões
que estabelecemos para nós. O que fala é que precisamos abandonar todo
conceito, todo padrão e deixar a busca por experiências e estímulos
externos. A respeito disto ele ainda nos diz:
“Quando
compreendeis integralmente a natureza da experiência, deixais de buscar
os estímulos externos proporcionadores de experiências. Depois de os
rejeitardes, manifesta-se um estímulo interior, o qual cria sua peculiar
experiência. Por essa razão é que, na chamada meditação, muitas pessoas
têm visões – e como gostam de ter visões e de experimentar tantas
infantilidades provenientes de seu próprio condicionamento! Após essa
plena compreensão, a mente se acha tranqüila, imóvel. Nesse silêncio não
há “experimentar” de coisa alguma, porque a mente está viva, lúcida, é a
luz de si própria; totalmente desperta como fica, encontra-se além de
toda experiência. Isso é meditação.”
Viver plenamente sem nos
deixar levar pelos condicionamentos das experiências passadas: eis o
nosso dilema. Como fazer? Como viver intensamente o momento presente,
sem deixar que os pensamentos acerca do passado (que já foi e não volta
mais) ou do futuro (que ainda não veio) nos atrapalhem na CONCENTRAÇÃO
DO MOMENTO PRESENTE, deixando de fazer o que temos que fazer no “AQUI E
AGORA”, ou seja, trabalhar quando temos que trabalhar, de estar com o
ser amado quando estamos com o ser amado, de brincar quando só temos que
brincar? Viver por viver? Viver para que?
Precisamos esvaziar a
caixa mental dos conteúdos do passado e do futuro, dos grilhões dos
desejos, dos fatores impeditivos da dualidade e do conceituar: Este é
bom! Ou este é ruim! Bonito!Feio!…Pode ou não pode? Merece ou não
merece! A Meditação é o Caminho. A única e verdadeira forma de esvaziar a
mente da sujeira acumulada ao sabor dos anos e das vidas passadas,
provocadora das doenças e do sofrimento que produzem a ansiedade
(futuro) e frustração (passado) geradores dos complexos, alimentadoras
do “stress”. É preciso Parar a Tempo de Sermos Felizes.
Não só
sermos felizes quando nosso time de futebol ganha ou quando nosso filho
faz aniversário, mas a todo tempo e a toda hora, sentindo a plenitude do
momento presente, a pureza contida neste momento, com clareza de
pensamento que gera a verdadeira ação e não a reação. Aquele sorriso que
não só mostra os dentes, mas o sorriso da criança, sorriso de uma flor
que desabrocha…
Simplesmente inspirar e expirar conscientemente,
concentrando-se nas narinas por onde entra e sai o ar e saber:
Pensamento é só pensamento! Sensação é só sensação! Sujeitos a Lei da
Impermanência. Do jeito que eles chegam eles vão, não ficam, pois nada
fica. Só fica o Amor!
Viver assim o momento presente – eu inspiro!… Eu expiro!… Nada mais puro há e haverá…
Seremos assim melhores homens, pais, cidadãos… Transformadores deste mundo!