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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O PROCESSO DO ÓDIO E AMOR(ANÁLISE PSICOLÓGICA)







"A hipocrisia é o mais belo monumento do ódio, sendo que seus lugares de visitação pública são: a política, a moral e a religião". (ANTONIO CARLOS- PSICÓLOGO)

"Amor, trabalho e relações sociais deveriam ser o centro da existência humana, porém, a tríade que guia nossa conduta nesses tempos é representada por: ódio, inveja e sabotagem do prazer. (ANTONIO CARLOS - PSICÓLOGO)".

"Só haveria algo positivo na inveja se pudéssemos reproduzir fielmente o modelo de vida de alguém realmente criativo.(ANTONIO CARLOS-PSICÓLOGO)".
Discutir o processo do ódio é sem dúvida nenhuma o maior preconceito relativo às questões humanas. É quase impossível encontrar alguém que admita sentir ou nutrir tal sentimento, dada toda a educação cristã presente em nossa sociedade. O fato é que admitido ou não, este é um sentimento que representa a essência humana, e não precisaremos observar muito para descobrirmos como se encontra disseminado em todas as condutas e desejos do ser humano.

O amor não deixa de ser algo totalmente ambíguo se pensarmos em seu desenvolvimento num determinado ser humano. Alguém que nunca quase foi amado ou protegido, crescerá sob a égide do ódio ou revolta; em contrapartida, é bastante comum vermos uma pessoa que foi amada e educada corretamente, crescer com o desejo de jamais se desvencilhar da proteção, ou até mesmo do caráter de exploração perante seu meio circundante, apenas desejando continuamente receber. A chama do amor é estritamente uma independência pessoal, aliada à um intenso desejo de receber e dar o prazer das mais diferentes formas: sexual, pessoal ou social. Obviamente a pessoa preparada para o amor, é aquela que conseguiu se livrar de todas as armadilhas pretéritas da criação social, sendo que será sempre um inflamado desejo de investimento no presente, não a dissipação de nossas energias afetivas na lembrança de um passado de dor, ou apenas a fantasia e ilusão de um futuro de felicidade.

Infelizmente poucas pessoas percebem que o amor é uma espécie de portal para as mais diversas emoções humanas: raiva, ódio, solidão, desamparo, abandono, êxtase, culpa dentre outras. O problema passa a existir quando desejamos apenas vivenciar as emoções positivas, esquecendo o outro lado da moeda. O amor em um relacionamento acaba quando nos sentimos indiferentes a felicidade e satisfação do outro, e o mesmo jamais existiu quando não temos energia ou vontade para revertermos tal quadro. Como quase todos sabem, o contrário do sentimento amoroso não é o ódio, mas, a indiferença, que não deixa de ser a prova máxima da incapacidade da escolha correta. Quase todos tentam começar a trilha do amor pela busca da beleza ou desejo sexual, sendo que o ponto crucial é se o outro está plenamente capacitado para nos completar. A própria beleza é uma entidade a parte, não necessitando do amor para sua existência; sua permanência e término seguem um caminho totalmente isolado de outros processos, devido a importância que o meio lhe outorga. O amor é um projeto que sempre incluirá mais de uma pessoa, e quando o desejamos apenas para um desejo privado, estamos apenas cultivando um sofrimento pessoal.

O grande mistério a ser resolvido quando tratamos deste assunto é : Quem é acariciado plenamente com o amor do outro? Alguém que o desejou desenfreadamente? Aquele que desde a tenra idade foi treinado para o mesmo? A personalidade quieta e tranqüila? Ou será que o mesmo é pura questão de sorte? Com toda a certeza, a ansiedade e frustração passam a ser barreiras naturais para a obtenção do mesmo. O que é vital percebermos seria os elementos que corroem dito sentimento. Sobre a própria troca, poucos param para refletir sobre suas sensações e estado emocional no momento em que lhes é exigido doar algo. Seja na sexualidade ou em outra área, o importante é a observação não apenas se o parceiro é capaz de cumprir nossos desejos, mas seu estado mental e como disse, emocional perante os mesmos; sempre o amor será um teste infinito da vontade. Tais reflexões nos levam a perceber qual papel adotamos perante alguém: devedor, culposo, submisso, ou uma pessoa livre e integrada. Não será difícil tomarmos consciência de que o amor para muitos é a fuga absoluta do dever, regredindo ou desejando um estágio de solidão, que por mais doloroso que seja, tranqüiliza a pessoa que resiste plenamente à doação. Também é notório o fato de que qualquer sentimento positivo jamais pode ser plantado no solo da inveja ou competição, do contrário, a relação sempre caminhará para uma tensão inesgotável.

Depois de milhares de explicações, teses e conselhos, é interessante notar como o projeto do amor é talvez um dos mais frágeis do arcabouço da personalidade humana. Como a desilusão e mágoa não demoram a aflorar quando nos vemos envolvidos por determinada pessoa. Parece que nosso sonho ou a mais profunda imagem idealizada de alguém, morre ao primeiro sinal de problema no percurso da relação. Inclusive quase todos compartilham da equação de que quanto maior o sonho, maior será a derrocada. Seria então o amor uma antítese absoluta do desejo ou imaginário temporal cultivado por nós? Seria o amor a prova derradeira de que não possuímos o poder sobre a realização concreta de nossos desejos e fantasias? Na maioria das vezes, nos deparamos com o conhecimento subjetivo de que nossas relações fracassadas apenas espelharam um processo incrivelmente pequeno de apego e orgulho. O amor sempre está associado ao ódio em virtude da corriqueira frustração pessoal da inversão do poder nos relacionamentos, quando se sabe que o parceiro já não mais necessita de nossa afetividade, e contudo, continuamos presos em uma imagem passada que o outro não deseja mais compartilhar. A raiva passa então a ser um mecanismo psicológico de defesa, perante todas as decepções que estão por vir. A raiva e o ódio sempre serão uma fácil escusa para um ser humano totalmente incapacitado para a busca de seu prazer e felicidade pessoal. Deveríamos aprender com tais sentimentos negativos, pois os mesmos são um dos mais precisos instrumentos de medição daquilo que realmente nos falta.

No decorrer da história da psicologia, quase sempre se ressaltou a permanência de resíduos infantis na afetividade adulta, sendo que boa parte dos relacionamentos atuais comprovam tal tese, pois, são nada mais do que uma mescla de infantilismo psíquico aliados à um neurótico desejo de proteção e amparo. Temos muito o que aprender sobre esta matéria, caso não desejemos que nosso futuro pessoal seja uma somatória de caos, terror e experiências de pura decepção. A prática da psicoterapia é essencial para a tomada de consciência de todas as questões levantadas, sendo que o seguir um caminho sem reflexão ou ajuda do próximo só eleva o potencial destrutivo de determinada pessoa.

Infelizmente as pessoas gostam de brincar com palavras, sendo que se faz sempre uma distinção entre os chamados "sentimentos hostis": inveja, raiva e ódio principalmente. Se pararmos para uma reflexão mais apurada descobriremos se tratarem de sinônimos, pois os três elementos citados estão diretamente relacionados à tentativa de impedir o livre fluir de determinado potencial humano. Obviamente quando impedimos que alguém se desenvolva em todos os sentidos, estamos tentando esconder todas as nossas frustrações pessoais e principalmente o prestar contas com nosso próprio potencial não efetuado. Aferir nosso potencial perante outrem sempre será uma das mais dolorosas experiências humanas. Quanto maior nosso sentimento de estarmos aquém de alguma expectativa ou determinada pessoa, maior será nosso desejo de procurarmos companheiros para nossa miserabilidade pessoal, sendo esta a essência máxima do ódio ou inveja, independente das posses ou recursos materiais de cada um.

Esmiuçando um pouco mais a tese acima descrita, concluímos que a própria mágoa nada mais é do que a constante atualização do ódio, sendo que adoramos nutrir dito sentimento diariamente. Em algumas ocasiões perdemos o controle, então surge a vingança como resposta ao apego do qual não desejamos nos livrar. Infelizmente toda a sociedade está mergulhada nesse processo, e quanto maior nosso complexo de inferioridade mais combustível é liberado para aumentar a chama do ódio. O efeito colateral mais grave disso tudo é que a cada dia está mais difícil efetuarmos determinadas tarefas que nos fazem bem ou nos proporcionam prazer, sendo que somos vítimas da sabotagem social e pessoal.

A verdade é que não temos capacidade para lidar com a frustração, sendo que somos absortos pela fúria quando as coisas não saíram como planejado. Deveríamos admitir que não possuímos nenhum treino para a contrariedade ou crítica, seja construtiva ou não, e o sentimento resultante é a raiva contra a pessoa que nos apontou algo.

É incrível observar como determinado sentimento tão arraigado na natureza humana é totalmente reprimido, agindo sempre nos bastidores de nossas relações.

Talvez nossa única saída seja sempre termos uma segunda opção, embora isso comprometa de forma definitiva as seguintes qualidades: confiança, entrega, dedicação e principalmente fidelidade. É incontestável que o ódio consegue sobrepor inclusive a questão do tempo, pois determinada contrariedade é suficiente para anular toda a energia depositada em algo ou determinada pessoa, sendo que o rancor sempre se torna a sensação resultante.

O tributo maior cobrado pelo ódio é estar à disposição do mesmo constantemente, exaurindo nossa energia para algo que realmente poderia dar certo. Como sempre há uma compensação, a única utilidade de viver dita experiência é a perda da ingenuidade, pois a mágoa nos revela com que tipo de pessoa estamos lidando verdadeiramente. Houve uma significativa mudança da introversão para a extroversão no processo acima descrito, pois na época dos primórdios da psicologia de FREUD se falava em repressão e sintomas oriundos da falta de prazer, pois as pessoas somatizavam sua infelicidade, e embora isso ocorra ainda hoje, há uma progressiva tendência para a exteriorização do dano pessoal, comprometendo ou se torcendo pela insatisfação alheia. O fato marcante é o extremo sentimento de tédio e aprisionamento na rotina diária, e as conseqüências psíquicas são: total insatisfação, angústia e principalmente impotência de lidar com ditas questões. Todos nos sentimos presos, seja na insatisfação, infelicidade, raiva ou vício de qualquer espécie. Assistimos passivos o desenrolar de nossa vida na mais pura insatisfação, juntamente com a extrema angústia de nossos desejos não realizados.

Somos muito sensíveis às experiências negativas e frustrantes, sendo que necessitamos urgentemente da novidade para reavermos nosso equilíbrio psicológico. Este apenas se manifestará no ato criativo, na nossa certeza interior de sempre produzirmos algo e nunca no tamanho de nossas economias ou vaidades pessoais.

Se prestarmos suficiente atenção para o ponto acima descrito, veremos a importância decisiva de sempre estarmos prontos para um recomeço. A própria questão religiosa do perdão se torna obsoleta no contexto citado, pois perdoar sempre é um ato que implica o extremo peso do passado com todas as suas impregnações e seqüelas, e não existe nenhum método religioso ou terapêutico que faça que nos esqueçamos de nossas pendências, exceto a certeza máxima e confiança pessoal de que nossa energia ainda não está acabada, e por respeito ao nosso íntimo devamos prosseguir, embora a maioria das pessoas não esteja preparada para tão árdua tarefa. O principal combustível do ódio é sem dúvida nenhuma o apego, pois o mesmo além de gerador da mágoa nutre de forma inimaginável o rancor, sendo que a tradução deste sentimento é o puro ódio por não se possuir mais determinada coisa.

Historicamente a psicologia provou que a grande raiz do sofrimento psíquico é o passado do indivíduo, sendo que o mesmo acarreta um distúrbio no sentido de reequilibrar a saúde psicológica perdida. Então é necessária a reflexão sobre o preço pago por todos sobre as convicções pessoais e religiosas que carregamos. Quanta soma de angústia ou desespero se fará necessária até a tomada de alguma atitude em relação ao que já ficou para trás? Sabemos que o egoísmo e individualismo são as piores saídas, embora permaneçamos nos mesmos por causa de nossa impotência e espírito individualista.

A tragédia do amor é a falta do mesmo ritmo de um sentimento que deveria ser compartilhado por duas pessoas, ocasionando o máximo de sofrimento para quem deseja estar profundamente envolvido. Infelizmente o amor nega a percepção das diferenças, bem como a possibilidade ou não de se alterar tal quadro; o resultado é a tortura pessoal diária e o aumento exacerbado da fome de nosso espírito por algo que realmente nos preencha.

Todos em algum momento de suas vidas já perceberam que o desejo só nos afasta a cada dia daquilo de que mais necessitamos. Quanto maior nossa volúpia por algo, mais distante se torna nosso sonho de nos sentirmos felizes e confiantes em nossa pessoa. O desejo só não é destrutivo quando temos a pessoa amada ao nosso lado e diariamente temos o deleite de cultivar o amor da relação.Tal fato porém é raríssimo, e como a maioria das pessoas não está capacitada para entregar aquilo que é o mais valioso, a chama do ódio permanecerá constantemente acesa. Desejar na ausência só alimenta nossa miséria pessoal se não traçarmos estratégias para a mudança do quadro citado.

Outro aspecto extremamente importante do ódio a ser elaborado é a questão da perda da identidade pessoal; pois quem estiver mergulhado em dito sentimento transfere sua alma ou os mais íntimos desejos para outra pessoa, seja através do rancor ou vingança, mas o fato é que a partir desse ponto sua vida pessoal é secundária perante o que nutre ou sente pelo outro.

Se verdadeiramente a humanidade almejasse alguma evolução no aspecto do ódio todos teriam que discutir abertamente suas raízes, principalmente no âmbito familiar. Por mais óbvio que seja para qualquer observador não religioso, é impressionante como se nega o fato dos pais desejarem o mesmo destino para seus filhos, sendo que muitas vezes esse desejo é camuflado pela dedicação e sacrifício, sendo que a conseqüência é um exacerbado sentimento de culpa carregado pelos descendentes.

A felicidade demonstrada por uma criança nada mais é do que a ausência da crítica perante determinado evento. Sua alienação básica é o seguro contra o mundo insano, ao mesmo tempo que nos relembra eternamente que poderíamos nos esquecer de certas coisas e seguirmos adiante.

O ódio sempre é um termômetro dos ataques ou injustiças dirigidas ao nosso íntimo. O grande problema é achar que suposto sentimento é o mesmo que destrutividade, sendo o objetivo desta última apenas a aniquilação. Obviamente um ato destrutivo pode ser resultante de um ódio intenso acumulado, porém não podemos nos esquecer que o ódio também pode ser benéfico ao nos mostrar o que nos causa mal estar.

Ódio e amor só caminham juntos devido ao fato do primeiro ser a prova máxima do fracasso de nosso investimento afetivo. O amor é o teste máximo do sucesso ou fracasso pessoal de um ser humano, e nem mesmo o dinheiro ou ambição são capazes de sobrepor tal afirmativa, apenas podem criar um anestésico temporário. O conceito acima descrito é tão nítido que nos tempos atuais as pessoas evitam o envolvimento profundo justamente com receio do sentimento alheio, que para muitos é o teste máximo do amor próprio. Para uma grande maioria ser amado incomoda, pois ditas pessoas não estão dispostas a retribuição. A sedução e conseqüente sentimento de poder há muito substituíram a verdadeira entrega.

A conclusão é que sempre nos identificamos com o vencedor, e temos um terrível medo de a cada dia estarmos mais distantes desse ideal internalizado. Nossa compaixão não é tanto pelo fracassado, mas principalmente uma autopiedade por toda a nossa insegurança. Enfim, a religião é uma tentativa de se criar uma mentira sobre a verdadeira natureza humana, pois a evolução e melhora das relações pessoais e sociais passam necessariamente pela diminuição do poder e controle entre as pessoas, mas infelizmente só temos assistido a mecanismos que impedem o prazer e desenvolvimento natural dos seres humanos. Não ser nocivo implica necessariamente não passar as piores coisas para alguém, coisa rara em nosso cotidiano. Como a cada dia que se passa nosso sofrimento pessoal tem se intensificado, desaprendemos ou não mais desejamos passar nosso melhor pedaço da alma humana.


SEGUNDO TEXTO: O ÓDIO NA DINÂMICA DOS RELACIONAMENTOS

Se desejarmos realmente estudar a fundo determinados sentimentos humanos é urgente que percebamos sua dinâmica nos relacionamentos diários, nos despindo de conceitos prévios ou o velho medo de encarar a verdade. Justamente pelos motivos citados e somando-se a cultura cristã é que carecemos de análises detalhadas acerca do ódio em nossa sociedade, e quando o percebemos já se transformou em pura destrutividade. Assim como a inveja, é um dos sentimentos mais difíceis de ser aceito pelo ser humano, embora em nossos tempos talvez seja o mais vivenciado. A hipocrisia é o eterno combustível da cegueira psíquica e social.

O ódio é o atestado maior da impossibilidade de determinada pessoa de lidar com um novo elemento, não aceitando a perda de uma situação pretérita, sendo a mágoa o recurso psicológico utilizado para a perpetuação de determinada situação que não se deseja abandonar.

É impressionante como em mais de cem anos do começo da psicologia nunca o medo da perda figurou na lista dos maiores dilemas enfrentados pela história do ser humano. Qualquer observador bem intencionado ressalta que pelo menos em nossos tempos uma das maiores tragédias humanas é a dificuldade do recomeço ou o apego à determinada situação. Quase nunca nos ensinaram a aceitar perdas que nos corroem intimamente, e na insegurança da vida moderna o desamparo e carência constantemente são reforçados, minando toda e qualquer sensação de autoestima da pessoa.

Parece que a única posse real de uma pessoa é o sentimento do ódio, mágoa e vazio existencial, já que desejo, felicidade ou amor necessitam serem compartilhados para continuarem existindo. A posse apenas triunfa naquilo que é mais doloroso para a alma humana, e o ódio resultante é a prova da incompetência afetiva para uma nova experiência.

A cristalização definitiva do processo do ódio é quando descobrimos que ninguém mais almeja investir ou compartilhar nosso íntimo. A conseqüência é uma eterna sensação de luto que nos arrebata diariamente, e se fôssemos refletir a fundo, descobriríamos que dita sensação nunca correspondeu a perda de algo genuíno ou saudável, mas mesmo assim sofremos pelo vício, habito ou apego. Traçando um paralelo social, o ódio seria uma resposta similar ao processo econômico, sendo que em ambos os casos a perda é encarada como pânico, e nossa alma presenteia a estrutura vigente com uma resposta psíquica idêntica. É um mito absolutamente falso imputar a etiologia do ódio à questão da agressividade desenvolvida principalmente pelo elemento masculino no decorrer da história humana. As disputas envolvendo o elemento citado quase sempre se travaram no âmbito da posse da territorialidade e conseqüente poder ou dominação sobre outros. Obviamente isso gerou toda a carnificina de nossa espécie, porém o que estou abordando neste estudo é a sensação interna de ódio dentro de uma estrutura psíquica, e esta é desenvolvida a partir do contato com o elemento feminino

Qualquer escola de psicologia irá atestar que o impacto do elemento masculino se dá na esfera social, mas cabe a mãe o poder de atestar ou não o valor íntimo de uma criança em seu desenvolvimento, principalmente pelo jogo das relações afetivas. Isto jamais será uma competição externa que possamos treinar para vencer, mas tão somente um eterno conflito psíquico que sempre nos arrasta para o mais puro sofrimento e sensação de inferioridade, caso o feminino não nos tenha aferido nosso valor pessoal. O treino afetivo cuidadoso com dedicação e vontade é crucial para o desenvolvimento da espontaneidade e valor próprio, do contrário sobra o retraimento, timidez, vergonha e medo de qualquer envolvimento profundo, estimulando na pessoa uma constante autocrítica patológica que a inibe principalmente para o prazer.Aliás, um dos elementos mais comuns nos diversos transtornos da personalidade é o sofrimento relatado pelos pacientes no sentido de diariamente se debaterem intimamente, como se fossem duas personalidades opostas, uma obviamente com a missão de denegrir totalmente o humor e vivacidade da pessoa. Se nos sentimos incapazes de trilhar a estrada do prazer e satisfação pessoal, com certeza nos restará um duelo mental sórdido e autodestrutivo, como alerta de nossa impossibilidade de efetuar algo legitimamente humano e fundamental.

Temos de aprender a enxergar os processos de forma agregada. Assim como amizade, companheirismo e ajuda mútua caminham paralelos; o mesmo se dá com o vício, ódio, timidez e suicídio, por exemplo. Se desde cedo cada ser humano não aprender que existirá sempre um muro para o desenvolvimento pleno, o que é em minha opinião a principal lição psíquica, com certeza cedo ou tarde as coisas se complicarão. Se recentemente se decifrou o código genético humano, ainda assim ficaremos com pudor ou falsa religiosidade para discutirmos as emoções negativas do ser humano? Se a base para qualquer tipo de vacina é o próprio vírus, com o ódio psicologicamente falando temos o mesmo caminho; o desvendar do mesmo é a chave mais segura para o reequilíbrio mental e emocional da pessoa. Infelizmente fica nítido que na presente situação social não se deseja a realização do descrito acima, pois qualquer evolução individual ou coletiva passa necessariamente por determinadas reformulações sociais e de poder que quase a totalidade dos seres humanos não desejam efetuar, a despeito do enorme preço psíquico que pagamos diariamente. O confronto com a infelicidade é o último sinal que nos alerta para que muita coisa ainda falta, embora desejemos instantaneamente a dissolução de tal sensação.

Talvez o grande erro histórico de todas as pessoas que desejaram alguma transformação individual ou social, seja o de terem se preocupado em demasia com qual caminho ético, político ou religioso a seguir, ao invés de concentrarem seus esforços sobre quem realmente deseja ou tem potencial para alguma evolução, desafio este diário em todos os níveis do relacionamento humano.

Cabe uma última reflexão sobre qual processo psíquico está no topo do ódio; deixo ao leitor a conclusão, apresentando apenas alguns elementos, tais como: 1) Seria a autodestrutividade vivenciada através das drogas ou qualquer outro tipo de agressão autodirigida? 2) Ter ciência do melhor caminho a trilhar em todos os níveis da vida, mas mesmo assim permanecer fidedigno às experiências de frustração e carência, concentrando todos os esforços na esperança de receber aquilo que jamais se concretizou, desenvolvendo uma poderosa fé em alguém ou algo impossibilitado de doar? 3) Achar que toda sua história de vida é em todos os sentidos decepcionante, sendo que ninguém aprenderia com a mesma, sua atitude é de total abstinência para as barreiras ao pleno desenvolvimento que diariamente percebe nunca se concretizar?



Fonte :Antonio Carlos Alves de Araujo - Psicólogo




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