Ilustrada Folha de S.Paulo
Morre aos 91 astro do jazz Dave Brubeck
Pianista gravou um dos maiores best-sellers do gênero, o LP "Take Five", primeiro a vender 1 milhão de cópias
Norte-americano atingiu popularidade com música marcada por experimentalismos e influência erudita
CASSIANO ELEK MACHADO
DE SÃO PAULO
Um dos músicos mais populares da história do jazz, o pianista norte-americano Dave Brubeck morreu na manhã de ontem, na véspera do seu aniversário de 92 anos.
O jazzista estava na estrada a caminho de uma consulta com seu cardiologista quando teve um ataque cardíaco perto de Norwalk, em Connecticut, Estado onde vivia desde os anos 1960.
Brubeck permanecia em atividade, completando mais de 70 anos de uma carreira repleta de marcos. O músico foi, por exemplo, o primeiro jazzista a vender mais de 1 milhão de cópias de um disco. Gravado em 1959, o LP "Time Out", do Dave Brubeck Quartet, é até hoje um dos discos mais onipresentes do jazz.
O single, lançado posteriormente com o hit do disco, "Take Five", composição de seu grande parceiro, o saxofonista Paul Desmond (1924-1977), também ultrapassou o milhão de exemplares.
Brubeck já havia quebrado barreiras à época desse lançamento. Entre outros feitos, tinha sido um dos primeiros jazzistas a aparecer na capa da revista "Time", em 1954, distinção que só Louis Armstrong tivera à época.
Também havia sido um fenômeno do circuito universitário americano, iniciativa fomentada por Iola Brubeck, com quem ele era casado havia sete décadas.
Diante das dificuldades enfrentadas pelo quarteto do marido para encontrar clubes onde se apresentar, ela agendou mais de cem apresentações em universidades no início dos anos 1950.
O vínculo com o ambiente universitário foi imortalizado em LPs importantes como "Jazz Goes to College" (1954).
Foi também num "college" que Brubeck teve um dos encontros que marcariam sua sonoridade. Pouco depois da Segunda Guerra, da qual o cadete Brubeck participou, mas só musicalmente, ele foi estudar em Oakland, Califórnia.
Lá teve aulas com o compositor erudito francês Darius Milhaud (1892-1974), que o encorajou a experimentar harmonias e divisões de tempo pouco comuns ao jazz, a exemplo do que fez em seu hit "Take Five".
"Ele mudou as medidas do jazz", disse à Folha o maestro João Carlos Martins, que conheceu o músico durante um concerto no Alaska, em 1970, e de quem foi amigo desde então. "Foi o último gênio deste gênero", complementou Martins, que ontem apresentaria uma peça de Brubeck num concerto que faria com a orquestra Bachiana Sesi-SP, em Campinas.
Por coincidência, foi lá que Brubeck fez um de seus poucos shows no Brasil, em 1978, em sua única turnê no país.
Zuza Homem de Mello, um dos maiores especialistas em jazz no Brasil, diz que Brubeck influenciou a música instrumental brasileira. "Inspirado nele, Dick Farney montou nos anos 1950 um quarteto que tocava igualzinho ao dele. Brubeck foi dos grandes ídolos do jazz no país."
Sua influência, mundo afora, não foi só musical. Atento às questões políticas, pregava a união dos povos pela música. Ele se apresentou no Leste Europeu em plena Guerra Fria e também em países como Irã, Iraque e Afeganistão quando estes enfrentavam conflitos internos.
"Embaixador do jazz", como era apelidado, Brubeck deixa cinco filhos (quatro deles músicos), dez netos e quatro bisnetos, além da companheira Iola Brubeck, 89.
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