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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Um dia o circo acaba




Pinto a cara com a tinta mais brilhante
para ofuscar minhas muitas sombras.
Visto um sorriso largo e vermelho
para me defender do desespero.
Uso a roupa mais espalhafatosa
para esconder o medo e a solidão.
E torço para que este nariz de palhaço
faça o público perdoar minha feiura.

Se invento contorcionismos impossíveis,
me sujo, tropeço, escorrego,
ou bato em mim mesmo
com um martelo de brinquedo,
não é apenas para arrancar risadas:
é para acalmar dores muito antigas.
Pois só no picadeiro eu sei fingir
que não sou um parasita
sugando gargalhadas para se manter de pé.
Ou que não sou covarde demais
para os saltos dos trapezistas.

E quem sabe, depois de todo esse teatro,
em algum momento entre o aplauso
e o fechar das cortinas,
eu consiga ser feliz.

José Henrique Calazans



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