Wagner Domingues
da Costa é Mr. Catra, o rei do funk. Em mais de 20 anos de carreira, já
cantou vários gêneros -- do funk "consciente", com letras que tratavam
da vida ruim na prisão, até os com letras explícitas sobre sexo.
Agora, lança um
projeto paralelo cantando algo inspirado em rock pesado. Segundo sua
própria definição, trata-se do “super power funk'n roll”, uma mistura da
pressão e força do rock com uma pitada de sensualidade do funk.
Quase formado em
direito, Mr. Catra vive numa casa confortável em São Paulo, onde mora
definitivamente há um ano. Diz que, se o Rio de Janeiro é o berço do
funk, São Paulo é a maternidade, e vem cuidando muito bem do bebê. Catra
começou falando de música, mas tratou de outras coisas que considera
importantes: segurança pública, maioridade penal e legalização das
drogas.
ÉPOCA -
O senhor acompanhou o caso dos policiais no Rio de Janeiro que, em
agosto de 2014, atiraram em um carro com jovens voltando de uma festa?
Os policiais reclamam que são jogados à própria sorte, ganham mal, têm
equipamento inadequado, têm medo de pendurar a farda no varal de casa.
Como melhorar a relação da polícia com o cidadão?
Mr. Catra -
Se (o policial) hesitasse ali, poderia perder a vida também! Ele
cometeu um erro, mas a culpa não é do policial, nem da menina que
invadiu a blitz. A culpa é da sociedade. O policial ganha muito pouco
para arriscar a vida dele, para hesitar em um momento daquele. A polícia
é reflexo do governo. Melhora o governo que a polícia vai melhorar. O
repúdio que o povo sente pela polícia é o repúdio que sente do governo. A
policia é mandada pelo governo, troca o governo que a policia muda. A
gente não pode nem culpar o policial, ele está ali pra cumprir ordem.
ÉPOCA
- A redução da maioridade penal foi tema de debate político nas ultimas
eleições. O que o senhor acha das mudanças propostas nas penas para
menores de 18 anos que cometerem crimes graves?
Mr. Catra - Qual
é a responsabilidade de um menino de 16 anos? Quem tem de ser
responsabilizado pelas atitudes de um menino de 16 anos é o país. É o
governo. Para cada criança infratora, deveria ter um governante na
cadeia. Porque a culpa não é da criança, a culpa é de quem está
ensinando. Por exemplo, como o professor pode ganhar mal, o cara que te
ensina a ler e escrever? Qual estrutura o Estado dá para as crianças não
serem menores infratores? Isso é covardia. Criança tem que estar na
escola e não na cadeia. Criança tem que ter reabilitação, e essa cadeia
que está aí não reabilita ninguém. Só vai fazer dele uma marginal mais
perigoso amanhã. O que melhora não é cadeia, é amor.
ÉPOCA
- No Brasil, Pelé, Joaquim Barbosa, Taís Araújo e Lázaro Ramos são
ídolos nacionais. São Paulo já elegeu prefeito negro, o Celso Pitta. Por
isso, tem quem considere que o preconceito no Brasil é só de classe –
contra pobres, e não contra negros. O que o senhor acha?
Mr. Catra -
Essa é a realidade do Brasil: se você tiver dinheiro, você é doutor, se
não tiver, você é mulambo. Você vale o que você tem. Vale a lei do mais
esperto. É igual na Disney, todo mundo que ser o Mickey e ninguém quer
ser o Pateta.
ÉPOCA - Qual sua opinião sobre a legalização da maconha?
Mr. Catra - Sou
a favor da legalização das drogas, mas o Brasil não está preparado. Eu
sou a favor de as pessoas pararem de usar as drogas para se matar. A
gente paga para a população ficar se matando, eu sou contra esse gasto
exorbitante com segurança pública por conta das drogas. Isso produz
lucro para o traficante. Existe o trafico de drogas. Quer acabar com
ele? Legaliza. Vai acabar com o traficante. Ele vai ganhar dinheiro
como? Não vai vender mais, com a concorrência. Acabaria com várias
despesas que a gente tem e acabaria com o poder do narcotráfico.
Existe
o trafico de cigarros, mas o traficante de cigarro não ganha tanto,
porque o cigarro é liberado. Com o trafico de outras drogas ia acontecer
a mesma coisa. Imagina pegar todo o dinheiro da venda de drogas e
investir em hospital? Em vez de pegar o dinheiro para investir na
segurança pública, porque não pega o dinheiro das drogas para investir
em educação, escola? Faz como em Amsterdã, na Holanda. Se você quer ter
seu coffee shop (lojas que vendem maconha com autorização do governo),
você pega uma autorização, vai lá e monta seu negocio. Quem fuma, fuma.
Quem cheira, cheira. Tem gente que gosta de beber e tem gente que não
bebe. Tudo que você quer, você encontra. Não tem essa de está proibido
ou está liberado. As pessoas já escolhem os que elas querem. Se a
violência está aí, é porque a política permitiu. Se as drogas estão aí, é
porque a política permitiu. O governo é o maior produtor de traficante
que temos.
ÉPOCA - E sobre a legalização da maconha para fins medicinais?
Mr. Catra - Se
o bagulho salva vidas, se ameniza a dor... está provado cientificamente
que a maconha é um remédio para várias enfermidades. As pessoas só
falam da maconha como entorpecente, não falam como remédio, como recurso
para o mercado têxtil. Quem está proibindo tem interesse na indústria
do algodão, na indústria farmacêutica. A maconha tem muito mais função
do que o tabaco.
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