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sábado, 1 de fevereiro de 2014

Branca de Neve e os 7 anões

Eram anões sim, mas eram anões teletrabalhadores. Naquela noite tenebrosa, sem lua, na densa floresta de Sunmicrolinux, os vírus espreitavam sinistramente, como se adivinhassem o que estava para ocorrer. Ploct, ploct, ploct, ploct, ploct. Branca de Neve corria floresta adentro, fugindo do seu algoz. Um terrível caçador que fora incumbido pela bruxa malvada de arrancar, sem qualquer piedade, o pentium IV do notebook de última geração, que Branca de Neve carregava embaixo do braço. Já exausta, Branca de Neve tropeçou num galho e caiu. Seu notebook foi cair alguns metros à frente. Fazendo um esforço mais que humano, talvez cibernético, Branca de Neve tenta alcançar seu precioso bem. Quando ia alcançá-lo, uma enorme bota – com um pé dentro - pisa, delicadamente, no seu equipamento. - Não! Por favor não! Não leve meu notebook! - Oh! Snow (o caçador gostava de usar palavras em inglês). A bruxa me encarregou de arrancar o pentium IV. - Não faça isso caçador! Tome, pegue minha senha do provedor, leve o número do meu e-card, mas não mate meu computadorzinho. - Snow, não posso aceitar, mas também não vou fazer essa crueldade. O caçador puxou o facão, tirou do bolso um pentium 133 e disse. - Vou entregar esse, como se tivesse arrancado do seu equipamento. - Mas a bruxa saberá! - Não Branca! Vou raspar e dizer a bruxa que caí e o chip arrastou no chão. Fuja Branca de Neve, fuja! - Adeus caçador! Obrigado! Por dias e noites, Branca de Neve vagou pela floresta. Parava, vez ou outra, numa pedra ou numa moita, para jogar um pouquinho de Paciência. Mas Branca estava muito preocupada. Seu computador, a cada dia ficava mais fraco. Precisava encontrar, rapidamente, uma tomada para recarregar a bateria. Do notebook, claro! Uma cabana! Sim, uma cabana! Ela via uma cabana. Com as forças renovadas, caminhou até a clareira. Bateu na porta uma,duas, três vezes e ninguém atendeu. Forçou a porta e ela se abriu. Mas não havia qualquer pessoa. Que casa estranha! – ela pensou. Sete cadeiras, sete pratos, sete garfos, sete facas, sete computadores, sete impressoras, sete mouses.... - Quem será que mora aqui? Esse teto tão baixo! Branca colocou seu computador para carregar e ligou-o na internet. É, tinha internet sim senhor! Fez a conexão com o provedor auau.com e entrou numa sala de bate-papo. Conversa vai, conversa vem, ficou um tempão papeando e contando as mazelas com alguém que tinha o nick de Príncipe. Mal sabia ela, que tinha alguém no chat, bem quieta, só prestando atenção na conversa alheia. Cansada como estava, Branca de Neve subiu uma escada e encontrou sete camas pequenas. Deitou, meio espremida, em uma delas e dormiu. Dormiu um sono profundo. Enquanto isso... no castelo da bruxa. - Esse não é um pentium IV! – Esbravejava a bruxa. - É sim! Deve ter sido algum vírus. Recebi um e-mail dizendo que há um vírus muito poderoso, que destrói tudo. Queima até o ventilador da fonte. O pior é que não tem vacina. – Dizia o caçador. - Isso é boato! Você me enganou! - Não! - Zuuuuuuuuuuupppppppppppp! O pobre do caçador foi transformado num aspirador de pó para teclado. Melhor seria morrer. A bruxa malvada, chegou em frente ao espelho mágico e disse: - Espelho, espelho meu, existe por essas bandas, algum computador melhor que o meu? - Sim! O computador de Branca de Neve! Aquela safada, sem-vergonha e nojenta. Vou achá-la e acabar com ela! O espelho, que estava querendo uma nova moldura, disse: - Ela estava hoje no chat, conversando com um tal de Príncipe. Ah! Conseguirei encontrá-la! Na floresta de Sunmicrolinux... “Eu vou, eu vou, prá casa agora eu vou, pararatibun, pararatibun, eu vou, eu vou, eu vou, eu vou...” - Ganhamos, ganhamos! aaaaaaaaatichin - Ganhamos o que Atchin? - Ganhamos um notebook pentium IV no sorteio do auau. - Deixa de ser mané! Não tá vendo que é usado! – disse o Zangado. - Ahhhhhhhhhh. Então de quem será essa belezinha? – perguntou o Soneca, entre um bocejo e outro. Escutaram um barulho no andar de cima e ficaram assustados. - Quem estima aí em lá, digo, quem está lá em cima ?! – Perguntou o Mestre. - Sou eu. – respondeu Branca de Neve, enquanto descia as escadas. - Hummmm! É a Gisele Bundchen! – disse o Dengoso. - Hummm, hummm humm hummm! – Dunga, se expressou como podia. - Não meninos. Sou a Branca de Neve! - É a Branca de Neve, é a Branca de Neve, é a Branca de Neve.... - Cala a boca Feliz! Quem é você, Branca de Neve? - Vou explicar tudo à vocês. Após contar tudo que se passou, Branca pediu para ficar, por uns tempos, na casa dos sete anões. O Zangado, que não tinha “papas na língua”, logo foi contra, dizendo que não queria confusões com a Bruxa Malvada. Ela tinha poderes para enviar vírus do tipo Trojan Horse (Cavalo de Tróia) pelo ar. Os outros foram a favor e tentavam convencer o Mestre a aceitar. - Zangado, precisamos de uma mulher em casa! Já estamos cansados de comer galinha. Branca de Neve poderá cozinhar para nós. – Disse Feliz, falando por todos. - Sim, posso cozinhar para vocês, limpar a casa, fazer backup dos arquivos, atualizar o anti-virus, baixar os e-mails.... Zangado continuava irredutível. - Olha, sei fazer uma deliciosa torta de maçãs. Além disso, sou web-designer, web-developer, web-marketer, desenvolvo sistemas, especialista em B2B e B2C e posso desenvolver o que vocês quiserem. Era o que faltava! Finalmente o Zangado ficou convencido. - Então está resolvido! Branca de Neve ficará, por uns tempos, aqui em casa. - Hip, hip, hurra! Hip, hip, hurra! Hum, hum, hummm! – Todos se manifestaram em uníssono. - Obrigado meninos! Muito obrigado. – agradeceu, comovida, Branca de Neve. Enquanto Branca preparava a torta de maçã, todos sentaram ao seu redor e contaram como era a vida deles. Contaram que eram teletrabalhadores e criaram a empresa Seven Consultants. Desenvolviam tudo, em regime de parceria, para uma multinacional americana-espanhola-japonesa-brasileira-paraguaia-alemã em regime de teletrabalho. Montaram a empresa em uma antiga mina de diamantes, que eles resolveram largar de lado, pois a internet dava muito mais dinheiro. Vez ou outra, pegavam um diamante para comprar equipamentos. Branca de Neve se entusiasmou e queria fazer parte da empresa, mudando o nome para Snow White and Seven Consultants. Mas nesse ponto eles (os anões) concordaram e disseram NÃO! Após o jantar, cansados do dia agitado e cheio de novidades, foram todos para os seus computadores. Teletrabalhador não tem esse negócio de dormir cedo. Branca de Neve entrou no chat, procurando o Príncipe com quem conversara. Como o Príncipe não estava na sala, ficou trocando idéias com alguém que tinha o nick de Vendedora de Maçãs Frescas e que disse ser moradora de uma cidade próxima à floresta de Sunmicrolinux. Branca de Neve contou aonde morava e indicou o site apontador.com.br, para a Vendedora de Maçãs encontrar o melhor caminho até a cabana. Branca de Neve era muito tapada! “Príncipe entra na sala.” (mostrava a tela do chat) Branca já havia saído, mas o Príncipe ainda conseguiu ler as últimas mensagens. Deitada, lendo o Business Plan da Seven Consultants, Branca de Neve adormeceu. No castelo da Bruxa.... - Ah! Finalmente a encontrei. Amanhã me transformarei em Vendedora de Maçãs e vou dar à Branca de Neve uma maçã envenenada. Enquanto ela dorme, roubarei o pentium IV. Hahahahahahahahahaha! Hahahahahahahahaha! Na manhã seguinte.... Após o delicioso café da manhã, os sete anões foram trabalhar e Branca começou a arrumar a casa. Estava tudo uma bagunça. Arquivos sem classificação por pasta, mouses que travavam em qualquer movimento, zip-disks espalhados. Depois de arrumar como pode, varreu a casa e fez o almoço. Os anões iam ficar uma fera, pois Branca de Neve sem ter como ir ao mercado, fez galinha assada. A mulher era viciada em chats e retornou ao chat da noite anterior, a procura do Príncipe. Encontrou-o. Estava no maior papo. Era meu bem pra lá, meu amor pra cá. Estava rolando um clima! Toc, toc, toc. Espera aí Príncipe. Estão batendo na porta. - Oi Branca de Neve. - Quem é a senhora? - Sou a Vendedora de Maçãs Frescas. Voltou ao chat, disse ao Príncipe que ia atender a Vendedora de Maçãs Frescas e que voltaria em meia hora; e desconectou. Não houve tempo de ler a mensagem do Príncipe. “Cuidado com essa Vendedora!” - Pode entrar Vendedora de Maçãs. - Obrigado! – Disse, disfarçando, a Bruxa disfarçada. - Vejo que trouxe muitas maçãs. - Pegue uma. – falou, sem tirar os olhos do computador de Branca de Neve. - Mas são todas tão bonitas! - Tome! Pegue essa. - Obrigado! Quando deu a terceira mordida, começou a sentir os efeitos do veneno. Viu a bondosa Vendedora se transformar na Bruxa Malvada. Com um tremendo esforço, ainda conseguiu pressionar a tecla enter e digitar o nick para entrar no chat. – Só não me perguntem como ela fez isso sem a bruxa notar, pois não faço a mínima idéia. A Bruxa roubou o chip e saiu voando. Branca de Neve ficou caída no chão! O Príncipe viu surgir, na tela do seu computador, o nick Branca. Tentou contato e nada. Ficou uma hora tentando e não obteve resposta. “Branca sai da sala”, apareceu na tela. – A desconexão automática tinha entrado em ação. Imediatamente, o Príncipe começou a enviar e-mails para todo o seu cadastro de endereços. Em pouco tempo a mensagem estava espalhada. “Atenção, isso não é uma brincadeira! Moça com o nome de Branca, desapareceu misteriosamente na floresta de Sunmicrolinux. Eu estou desesperado! Por favor! Me ajudem! Qualquer informação para principe@auau.com.“ Os anões também receberam a mensagem e logo desconfiaram da Bruxa Malvada. Foram correndo para casa. Encontraram a doce Branca de Neve, desfalecida, no meio da sala. Não quiseram enterrá-la. Fizeram um esquife de vidro e deitaram Branca e seu computador, totalmente quebrado. Por dois dias e duas noites, ficaram ali, velando o corpo de Branca de Neve. Pócotó,pócotó,pócotó. - Que cavalo chegando está, digo, quem está chegando a cavalo? Era o Príncipe, que graças ao apontador.com.br, encontrou o caminho para a cabana. Desolado, viu sua amada, inerte, deitada dentro do esquife. Como última despedia, levantou a tampa da esquife e deu-lhe um beijo. - Ohhhh! - Ohhhh! - Humm! - Ohhhh! - Ohhhh! - Ohhhh! - Ohhhh! - Uuuiiii! – Esse príncipe! Sei não! Branca de Neve, graças ao beijo do amado, despertou do sono enfeitiçado. - Onde estou? Quem é você? - Meu nome é Bill. Sou o Príncipe do chat. - Você não é.... Bom, deixa prá lá. Cadê meu computador? Branca olhou para os anões e todos abaixaram a cabeça. Quando olhou ao seus pés... - Meu computador! Oh! Não! Como viverei sem ele! - Não se preocupe minha amada. Cobrirei você de computadores de última geração, equipados com o sistema operacional Linux Millenium, desenvolvido pela minha empresa; uma pequena software-house. - Mas não era outro nome? - Era, mas comprei os direitos do Linux, que estava ganhando muito terreno. Um a um, os sete anões foram se despedindo de Branca de Neve e entregavam um cartão com o endereço eletrônico. No verso estava escrito: “Branca, não se esqueça de nós. Conversa com teu Príncipe.” - Meus amores, obrigado por tudo. Nunca esquecerei de vocês. Me escrevam, vocês conhecem meu endereço para e-mail. Adeus! Adeus! Montou no cavalo do Príncipe e foi embora. Viveram felizes para sempre! Branca, atualmente, é CEO de uma das empresas resultantes do desmembramento da empresa original do Bill, o Príncipe. _______________________________ Silvio Corrêa E-mail: silviocorrea@uol.com.br Silvio Corrêa é formado em Engenharia Eletrônica, com especialização em Análise de Sistemas. Atualmente atua como Consultor em Soluções de Gestão, Articulista, Pretenso Escritor, Treinamento Organizacional, Professor Universitário. Enviada por: Sergio Buaiz

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