PORQUE
SOFREMOS
Nós fomos
criados todos, indistintamente, para a perfeição e quanto a isto creio
não existir dúvida alguma.
O conhecimento
espiritual, em parâmetro mais aprofundado, nos induz à reformulação da
idéia acerca do sofrimento, esclarecendo-nos o quanto ele é útil e
importante para o nosso despertamento, de forma a colaborar no sentido
de sairmos da morte do erro para as alegrias da imortalidade gloriosa. A
Terra não é uma escola pronta, acabada, é escola preparatória de
aperfeiçoamento, e no trabalho de redenção, seja individual ou coletivo,
a dor é sempre aquele elemento amigo e indispensável, oportunidade
concedida por Deus às criaturas em todos os tempos.
O divino
criador permite que escolhamos nosso caminho, e até mesmo que, por mau
uso do livre-arbítrio façamos incursões menos felizes nas estradas
evolutivas, quando a dor é convocada à tarefa de nos reconduzir ao
equilíbrio. Em outras palavras, quando usamos mal as prerrogativas de
ação que a liberdade de escolha nos faculta saímos de uma linha de
espontaneidade e entramos em uma linha compulsória. Por nossa rejeição à
opção do amor a dor é o mecanismo que ainda necessitamos para
restabelecer o equilíbrio, como resposta que a ignorância conduz aos
desatentos e, também, a lapidadora das arestas morais.
Sofrimento é
componente favorável à evolução, visa sempre o despertar da alma para os
seus deveres. O caminho evolutivo está sempre repleto de aguilhões, e
graças a Deus está. De outro modo não enxergaríamos a porta redentora.
Sendo assim, sofremos por necessidade em favor de nós mesmos e não se
pode desconsiderar a dor que instrui e ajuda a transformar o homem para o
bem.
Vamos sorrir
mais para a vida, e chega de maldizer o sofrimento. Ele é útil, bom e
providencial. A dor é muitas vezes uma lâmpada maravilhosa. As lágrimas
purificam, as dores corrigem e o diamante não é lapidado com pétalas de
rosas.
O sofrimento
pode ser visto sob dois ângulos ou enfoques: de baixo para cima (de onde
estamos para o superior) e de cima para baixo. Do inferior para o
superior temos a percepção de que sofremos hoje porque de alguma forma
erramos ontem. De cima para baixo não sofremos hoje porque erramos
ontem, a percepção é nítida, ocorre é que recebemos a oportunidade de
repetirmos a experiência, de saldarmos os nossos débitos e seguirmos
crescendo a caminho da evolução ao Pai. É por esta razão que cada
problema que nos alcança não vem de graça, sem objetivo, é instrumento
didático. É a luta aperfeiçoando a vida até que a vida se harmonize sem
lutas com os desígnios sábios do Senhor.
É óbvio que
ninguém gosta de sofrer, afinal, sofrimento é sinônimo de angústia,
aflição, amargura, é padecer, ser atormentado, afligido por. Como
elemento positivo e oportunidade de redenção, que objetiva nos conduzir a
um processo de reflexão, têm em seu interior aspectos mais morais do
que necessariamente físicos, tanto que podemos classificá-lo sob o
aspecto físico e espiritual.
A dor moral é
essência, o sofrimento do espírito representa a dor realidade, porque
somente a dor espiritual é grande e profunda o suficiente para promover o
trabalho de aperfeiçoamento e redenção. O sofrimento físico por sua
vez, de qualquer natureza, define a dor ilusão, a dor física indica o
fenômeno, razão porque ela vem e passa, ainda que se mantenha após a
morte do corpo.
E se o
sofrimento tem um cunho de natureza intrínseca, é muito importante
retificarmos a idéia fechada que trazemos de longa data acerca dos que
sofrem.
De modo geral,
enquanto espíritos encarnados, apenas enxergamos os aleijados do corpo,
os que perderam o equilíbrio corporal, aqueles que se arrastam no solo
com defeitos escabrosos. Todavia, aquele que está sofrendo agora em uma
cama de hospital, o idoso abandonado no asilo, a criança desnuda
perambulando pela rua, o mendigo faminto aos olhos indiferentes dos
transeuntes, são parcelas de sofredores que extensivamente se mostram
aos nossos olhos.
Porque em
nosso círculo de ação, na casa de parentes ou de pessoas próximas a nós,
dentro de nossa própria residência, existem sofredores também. Pois
cada criatura tem o seu enigma, a sua necessidade e a sua dor, sem
contar que não possuímos suficiente visão para identificarmos os doentes
do espírito, os coxos do pensamento, os deformados do sentimento, os
aniquilados de coração.
E o sofrimento
pode apresentar finalidades distintas para indivíduos debaixo de um
mesmo quadro. Nós podemos perfeitamente ter duas criaturas debaixo de
mesma sintomatologia, de mesmo diagnóstico, mas sob causas diferentes.
Não é tão raro de acontecer. O sofrimento para um pode ter o objetivo de
despertar e para o outro pode ser pagar, quitar. Percebeu? No caso do
despertar, o papel da respectiva dificuldade é projetar o ser. Isto é, a
criatura se projeta e sara, restabelece-se, a sua entrada em um terreno
novo por si só propicia o saneamento do processo. Por outro lado,
quando a questão é pagar a criatura tem que respaldar com calma e
tranquilidade a sua própria dificuldade. Não adianta chorar, esbravejar,
gritar, fechar a cara, revoltar-se. Aquele que semeou lá atrás tem que
se contentar com paciência no regime da colheita.
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