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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A Parábola do cavalo




Um fazendeiro, que lutava com muitas dificuldades, possuía alguns cavalos para ajudar nos trabalhos em sua pequena fazenda. Um dia, seu capataz veio trazer a notícia de que um dos cavalos havia caído num velho poço abandonado.

O poço era muito profundo e seria extremamente difícil tirar o cavalo de lá. O fazendeiro foi rapidamente até o local do acidente, avaliou a situação, certificando-se que o animal não se havia machucado. Mas, pela dificuldade e alto custo para retirá-lo do fundo do poço, achou que não valia a pena investir na operação de resgate. Tomou, então, a difícil decisão: Determinou ao capataz que sacrificasse o animal jogando terra no poço até enterrá-lo, ali mesmo.

E assim foi feito: Os empregados, comandados pelo capataz, começaram a lançar terra para dentro do buraco de forma a cobrir o cavalo. Mas, à medida que a terra caía em seu dorso, o animal a sacudia e ela ia se acumulando no fundo, possibilitando ao cavalo ir subindo.

Logo os homens perceberam que o cavalo não se deixava enterrar, mas, ao contrário, estava subindo à medida que a terra enchia o poço, até que, finalmente, conseguiu sair!




Duas opções





Desde pequena Svetlana só tinha conhecido uma paixão: dançar e sonhar em ser uma Gran Ballerina do Bolshoi Ballet. Seus pais haviam desistido de lhe exigir empenho em qualquer outra atividade. Os rapazes já haviam se resignado: o coração de Svetlana tinha lugar para somente uma paixão e tudo mais era sacrificado pelo dia em que se tornaria a Bailarina do Bolshoi. Haviam criado um apelido especial para ela : lankina que no antigo dialeto queria dizer "a que flutua". Era uma forma carinhosa de brincar com a bela e talentosa Svetlana pois a palavra também podia significar "a que divaga", ou "que sonha acordada".

Um dia, Svetlana teve sua grande chance. Conseguira uma audiência com Sergei Davidovitch, Ballet Master do Bolshoi, que estava selecionando aspirantes para a Companhia. Dançou como se fosse seu último dia na Terra. Colocou tudo que sentia e que aprendera em cada movimento, como se uma vida inteira pudesse ser contada em um único compasso. Ao final, aproximou-se do Ballet Master e lhe perguntou:

"Então, o Sr. acha que eu posso me tornar uma Gran Ballerina?"

Na longa viagem de volta a sua aldeia, Svetlana, em meio as lágrimas, imaginou que nunca mais aquele "Não" deixaria de reverberar em sua mente. Meses se passaram até que pudesse novamente calçar uma sapatilha . Ou fazer seu alongamento frente ao espelho.

Dez anos mais tarde Svetlana, já uma estimada professora de ballet, criou coragem de ir a performance anual do Bolshoi em sua região. Sentou-se bem a frente e notou que o Sr. Davidovitch ainda era o Ballet Master. Após o concerto, aproximou-se do cavalheiro e lhe contou o quanto ela queria ter sido bailarina do Bolshoi e quanto doera, anos atrás, ouvir-lhe dizer que não seria capaz.

"Mas minha filha, eu digo isso a todas as aspirantes" respondeu o Sr. Davidovitch.

"Como o Sr. poderia cometer uma injustiça dessas? Eu dediquei toda minha vida! Todos diziam que eu tinha o dom. Eu poderia ter sido uma Gran Ballerina se não fosse o descaso com que o Sr. me avaliou!"

Havia solidariedade e compreensão na voz do Master, mas não hesitou ao responder: "Perdoe-me, minha filha, mas você nunca poderia ter sido grande o suficiente, se você foi capaz de abandonar seu sonho pela opinião de outra pessoa."







O sermão de Nasrudin




Certo dia, os moradores do vilarejo quiseram pregar uma peça em Nasrudin. Já que era considerado uma espécie meio indefinível de homem santo, pediram-lhe para fazer um sermão na mesquita.

Ele concordou.

Chegado o tal dia, Nasrudin subiu ao púlpito e falou:

"Ó fiéis! Sabem o que vou lhes dizer?"

"Não, não sabemos", responderam em uníssono.

"Enquanto não saibam, não poderei falar nada. Gente muito ignorante, isso é o que vocês são. Assim não dá para começarmos o que quer que seja", disse o Mullá, profundamente indignado por aquele povo ignorante fazê-lo perder seu tempo.

Desceu do púlpito e foi para casa.

Um tanto vexados, seguiram em comissão para, mais uma vez, pedir a Nasrudin fazer um sermão na Sexta-feira seguinte, dia de oração.

Nasrudin começou a pregação com a mesma pergunta de antes.

Desta vez, a congregação respondeu numa única voz:

"Sim, sabemos".

"Neste caso", disse o Mullá, "não há porque prendê-los aqui por mais tempo. Podem ir embora." E voltou para casa.

Por fim, conseguiram persuadi-lo a realizar o sermão da Sexta-feira seguinte, que começou com a mesma pergunta de antes.

"Sabem ou não sabem?"

A congregação estava preparada.

"Alguns sabem, outros não."

"Excelente", disse Nasrudin, "então, aqueles que sabem transmitam seus conhecimento para àqueles que não sabem."

E foi para casa.

Do livro: Histórias de Nasrudin - Edições Dervish




Sorte



Conta-se que certa vez dois irmãos foram admitidos em uma Empresa na função de faxineiro, visto que tinham pouca instrução.

Um dia, foi oferecida a oportunidade para todos que a quisessem de, após o término do expediente, ficar até mais tarde e cursar o supletivo por conta da Empresa.

Um dos irmãos imediatamente agarrou esta chance. O outro, porém, acomodado à própria situação, disse: Eu, hein, fazer hora-extra sem receber para isso...

Em outras ocasiões, a história se repetiu: oportunidades eram oferecidas - cursos de digitação, informática, noções de contabilidade, treinamentos em relacionamento humano, etc. - um agarrava de frente a oportunidade, investindo seu tempo no desenvolvimento pessoal e profissional; o outro, sempre com "belas" justificativas para não ser "explorado", apresentava desculpas das mais diversas tais como: E o meu futebol, meu programa de televisão, o barzinho com os "amigos", etc...

Passado algum tempo, aquele irmão que investira seu tempo com afinco em seu aperfeiçoamento foi se destacando... Tanto que à medida que foram surgindo vagas dentro da Empresa, a ele eram oferecidas. E isto o exigia mais ainda em empenho, e prontamente ele dedicava-se mais e mais...

Tempos depois, chegou a gerente, não apenas mais um gerente mas sim o melhor gerente da Empresa.

E foi feita uma festa em homenagem ao rapaz.

Na festa, alguém que não sabia do parentesco entre o ainda faxineiro e o então gerente, aproximou-se daquele e disse: Formidável este gerente!
É... e ele é meu irmão... - disse o faxineiro.
Seu irmão? - exclamou, incrédulo, o interlocutor - E ele é gerente e você faxineiro...
É... na vida ele teve sorte...! - concluiu o faxineiro.




Morte na Empresa





Certa vez uma empresa estava em situação muito difícil. As vendas iam mal, os trabalhadores estavam desmotivados, os balanços há meses não saíam do vermelho. Era preciso fazer algo para reverter o caos, mas ninguém queria assumir nada. Pelo contrário, o pessoal apenas reclamava que as coisas andavam ruins e que não havia perspectivas de progresso na empresa.

Eles achavam que alguém devia tomar a iniciativa de reverter aquele processo. Um dia, quando os funcionários chegaram para trabalhar, encontraram na portaria um cartaz enorme no qual estava escrito:

"Faleceu ontem a pessoa que impedia o seu crescimento e o da empresa. Você está convidado para o velório na quadra de esportes".

No início, todos se entristeceram com a morte de alguém, mas depois de algum tempo, ficaram curiosos para saber quem estava bloqueando o crescimento da empresa. A agitação na quadra de esporte era tão grande que foi preciso chamar os seguranças para organizar a fila do velório. Conforme as pessoas iam se aproximando do caixão, a excitação aumentava:

"Quem será que estava atrapalhando meu progresso? Ainda bem que esse infeliz morreu!"

Um a um, os funcionários, agitados, aproximavam-se do caixão, olhavam o defunto e engoliam em seco. Ficavam no mais absoluto silêncio, como se tivessem sido atingidos no fundo da alma, e saíam cabisbaixos.

Pois bem! Certamente você já adivinhou que no visor do caixão havia um espelho.

Só existe uma pessoa capaz de limitar seu crescimento: você mesmo!

É muito fácil culpar os outros pelos problemas, mas você já parou prá pensar se você mesmo poderia ter feito algo para mudar a situação? Você é o único responsável por sua vida. Ela foi entregue a você por Deus, e você terá que prestar contas do que fez com ela no final da sua existência.

O que você está fazendo com a sua vida?




terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O Galo Orgulhoso




Era uma vez um grande quintal onde reinava soberano e poderoso galo. Orgulhoso de sua função, nada acontecia no quintal sem que ele soubesse e participasse. Com sua força descomunal e coragem heróica, enfrentava qualquer perigo. Era especialmente orgulhoso de si mesmo, de suas armas poderosas, da beleza colorida de sua penas, de seu canto mavioso.

Toda manhã acordava pelo clarão do horizonte e bastava que cantasse duas ou três vezes para que o sol se elevasse no céu. "O sol nasce pela força do meu canto", dizia ele. "Eu pertenço à linhagem dos levantadores do sol. Antes de mim era meu pai; antes de meu pai era meu avô" ...

Um dia uma jovem galinha de beleza esplendorosa veio morar em seu reinado e por ela o galo se apaixonou. A paixão correspondida culminou numa noite de amor para galo nenhum botar defeito. E foi aquele amor louco, noite adentro. Depois do amor, já de madrugada veio o sono. Amou profundamente e dormiu profundamente. As primeiras luzes do horizonte não o acordaram como de costume. Nem as segundas...Para lá do meio dia, abriu os olhos sonolentos para um dia azul, de céu azul brilhantee levou um susto de quase cair. Tentou inutilmente cantar, apenas para verificar que o canto não lhe passava pelo nó da garganta. -"Então não sou eu quem levanta o sol?", Comentou desolado para si mesmo. E caiu em profunda depressão. O reconhecimento de que nada havia mudado no galinheiro enquanto dormia trouxe-lhe um forte sentimento de inutilidade e um questionamento incontrolável de sua própria competência. E veio aquele aperto na garganta. A pressão no peito virou dor. A angústia se instalou definitivamente e fez com que ele pensasse que só a morte poderia solucionar tamanha miséria. "O que vão pensar de mim?", murmurou para si mesmo, e lembrou daquele galinho impertinente que por duas ou três vezes ousou de longe arrastar-lhe a asa. O medo lhe gelou nos ossos. Medo. Angústia. Andou se esgueirando pelo cantos do galinheiro, desolado e sem saida. Do fundo de seu sentimento de impotência, humilhado, pensou em pedir ajuda aos céus e rezou baixinho, chorando. Talvez tenha sido este momento de humildade, único em sua vida, que o tenha ajudado a se lembrar que, em uma árvore, lá no fundo do galinheiro, ficava o dia inteiro empoleirado um velho galo filósofo que pensava e repensava a vida do galinheiro e que costumava com seus sábios conselhos dar orientações úteis a quem o procurasse com seus problemas existenciais.

O velho sábio o olhou de cima de seu filosófico poleiro, quando ele vinha se esgueirando, tropeçando nos próprio pés, como que se escondendo de si mesmo. E disse: "Olá! Você nem precisa dizer nada, do jeito que você está. Aposto que você descobriu que não é você quem levanta o sol. Como foi que você se distraiu assim? Por acaso andou se apaixonando?" Sua voz tinha um tom divertido, mas ao mesmo tempo compreensivo, como se tudo fosse natural para ele. A seu convite, o galo angustiado, empoleirou-se a seu lado e contou-lhe a sua história. O filósofo ouviu cada detalhe com a paciência dos pensadores. Quando o consulente já se sentia compreendido, o velho sábio fez-lhe uma longa preleção:

"Antes, quando você ainda achava que até o sol se levantava pelo poder do seu canto, digamos que você estava enganado. Para definir seu problema com precisão, você tinha o que pode ser chamado de "Ilusão de Onipotência". Então, pela mágica do amor, você descobriu o seu próprio engano, e até ai estaria ótimo, porque nenhuma vantagem existe em estar tão iludido. Saiba você que ninguém acredita realmente nessa história de canto de galo levantar o sol. Para a maioria, isto é apenas simbólico: só os tolos tomam isto ao pé da letra. "Entretanto, agora", continuou o sábio pensador, "Você está pensando que não tem mais nenhum valor, o que é de certa forma compreensível em quem baseou a vida em tão grande ilusão. Contudo, examinando a situação com maior profundidade, você está apenas trocando uma ilusão por outra ilusão. O que era uma "Ilusão de Onipotência" pode ser agora chamado de "Ilusão de incompetência". Aos meus olhos, continuou o sábio, nada realmente mudou. Você era, é e vai continuar sendo, um galo normal, cumpridor de sua função de gerenciar o galinheiro, de acordo com a tradição dos galináceos." Seu maior risco, continuou o pensador, é o de ficar alternando ilusões. Ontem era a Ilusão de Onipotência, hoje, Ilusão de Incompetência. Amanhã você poderá voltar à Ilusão de Onipotência novamente, e depois ter outra desilusão... Pense bem nisto: uma ilusão não pode ser solucionada por outra ilusão. A solução não está nem nas nuvens nem no fundo do poço. A solução esta na realidade. Após um longo período de silêncio, o velho galo filósofo voltou-se para os seus pensamentos. Nosso herói desceu da árvore para a vida comum do galinheiro. No dia seguinte, aos primeiros raios da manhã, cantou para anunciar o sol nascente. E tudo continuou como era antes.

Enviada por: Adailton Ednardo Soares

Autor: Maurício de Souza Lima – Psicólogo
Diretor da Sociedade de Terapia Breve (BH)
Trainer em PNL pelo Southern Institute of NLP da Flórida
( www.ibrapnl.com.br)




Sobre a diferença entre os portões da cidade e as bocas




Outrora vivia um rei oriental cuja sabedoria iluminava o país como um sol, cuja inteligência era ímpar, cujas riquezas superavam largamente as de qualquer outra pessoa. Um dia um vizir de semblante triste abordou-o.

"Grande sultão, Vossa majestade é o homem mais sábio, maior e mais poderoso da vida e da morte. Mas o que eu ouvia enquanto viajava pelo país? Em toda parte as pessoas vos elogiam, mas algumas pessoas falaram muito mal de Vossa Majestade. Contaram piadas e reclamaram das vossas decisões sábias. Como é que acontece, mais poderoso entre os poderosos, de existir tamanha insubordinação em vosso reino?"

O sultão sorriu indulgentemente e respondeu: "Como todos os homens de meu reino, tu sabes o que tenho realizado por todos vós. Sete países estão sob meu controle. Sob meu governo, sete países alcançaram progresso e prosperidade. Em sete países, as pessoas me amam por causa da minha justiça. Tu certamente tens razão. Posso fazer muita coisa. Posso mandar fechar os portões gigantescos das minhas cidades. Mas há uma coisa que não posso fazer. Não posso fechar a boca dos meus súditos. Realmente, não é uma questão das coisas más que algumas pessoas dizem a meu respeito. O importante é que eu faça o bem."

Do livro: O Mercador e o Papagaio - Nossrat Peseschkian - Papirus Editora




O Mágico


O mulá, um pregador , que queria pagar algumas castanhas para sua mulher, porque ela havia prometido cozinhar para ele "fesenjan", um prato preparado com castanhas. Na alegria de antegozo do seu prato predileto, o mulá enfiou a mão nas profundezas da jarra de castanhas e agarrou tantas castanhas quanto podia com uma mão. Quando tentou tirar o braço da jarra, ele estava preso. Por mais forte que ele puxasse e torcesse o braço, a jarra não o libertava. Ele gritou, gemeu e blasfemou de uma maneira que um mulá realmente não deveria. Mas nada ajudou. Mesmo quando sua mulher segurou o braço e puxou com todo seu peso, não aconteceu nada. Sua mão permaneceu presa no gargalo da jarra. Após muitas tentativas fúteis, eles chamaram os vizinhos para ajudar. Todos acompanhavam com grande interesse essa peça teatral que passava na sua frente. Um dos vizinhos deu uma olhada no problema e perguntou ao mulá como o acidente tinha acontecido. Com voz patética e gemidos de desespero, o mulá relatou o desastre. O vizinho falou: "Eu vou ajudá-lo, se você fizer exatamente o que eu digo."

"Prometo fazer tudo o que você diz, se você puder me libertar desta jarra terrível."
"Então enfie seu braço para dentro da jarra." Ao mulá isso parecia estranho, pois por que ele deveria enfiar o braço para dentro da jarra quando o que ele queria era tirá-lo de lá? Mas ele seguiu as instruções.

O vizinho continuou: "Agora abra a mão e largue as castanhas que você está segurando." Esse pedido perturbou o mulá. Afinal, ele queria as castanhas para seu prato favorito e agora ele devia simplesmente largá-las? Relutando muito, ele seguiu as instruções do seu auxiliador. Agora o homem disse: "Faça sua mão muito pequena e puxe devagar para fora da jarra."

O mulá fez isto, e eis que sem dificuldade retirou a mão da jarra. Mas ele ainda não estava completamente satisfeito. "Minha mão está livre agora, mas onde estão as castanhas?" Aí o vizinho levantou a jarra, virou-a e deixou cair tantas castanhas quantas o mulá precisava. De olhos e bocas escancarados, o mulá olhou e disse: "Você é mágico?".

História persa

Do livro: O Mercador e o Papagaio, Editora Papirus




História de uma ponte






Quando chegou aquele homem pequeno, de olhos brilhantes e um rosto que tinha algo de palhaço, eu tinha apenas 17 anos e vivia do outro lado do riacho. Na primavera e no início do verão, a água descia das geleiras das montanhas e corria formando redemoinhos, arrastando troncos que se entrechocavam. Aquele homem construiu sua choça perto do riacho.

Durante a primeira semana ninguém o via. Depois fiquei sabendo que trabalhava na serraria dos irmãos Gomes. Durante um mês passou seus fins de semana olhando as águas, o bosque e o povoado. Olhava os outros e a nós com um olhar profundo e calmo.

No segundo mês começou a cortar grandes árvores. Foi num fim de semana que apareceu em nossa cabana e pediu que lhe emprestássemos uma junta de bois. - Quero arrastar os troncos, disse. Meu tio, por curiosidade, foi olhar e viu que arrastava os troncos para perto do riacho.

- Vai fazer uma balsa! Disse meu tio. Meu assombro, porém, foi grande quando o vi cavar um buraco e enterrar um enorme tronco. Em seguida arrastou pedras para firmá-lo. Meu tio observou-o durante todo o dia e depois disse: - Está louco! Quer fazer uma ponte... Naquela noite sonhei com uma linda ponte de madeira que fazia um barulho como um tambor quando se andava sobre ela.

No Domingo de manhã, saltei da cama e corri ladeira abaixo. Sem dizer uma palavra, comecei a arrastar pedras. Ao entardecer o homem disse: - Vai ser lindo quando pudermos passar sobre o rio! No outro fim de semana se juntaram a nós dois homens e uma mulher que viviam na ribanceira da frente. Durante a jornada (mutirão) houve conversa e se contaram estórias. Então me dei conta que "os da frente" não eram tão maus como diziam os vizinhos.

Ao final da jornada o homem disse:
- No Sábado que vem trabalharemos na outra margem do rio. Desta vez fomos 15 pessoas, em ambos os lados do rio. No terceiro mês éramos quarenta. Houve, então, um problema sério do nosso lado. Uns goles de pinga a mais provocaram uma discussão entre Manuel, o carpinteiro, e João, o ferreiro. Ambos queriam ser "chefe da construção". Naquela mesma noite o volume de águas cresceu e arrastou consigo nossos troncos e empurrou enormes pedras como se fossem cascalhos.

No seguinte fim de semana éramos apenas sete, limpando a costa para começar tudo de novo. Cinco meses depois, finalmente, colocávamos as proteções dos lados. - Coloquemos umas boas proteções para que as crianças possam correr pela ponte, sem perigo - nos disse o homem. Fomos oitenta, os que trabalhamos na construção das proteções. Pela tarde, oitenta e um; foi quando chegou meu tio, o último a incorporar-se. Naquela noite, mortos de cansaço, fomos todos olhar nossa ponte e nos sentamos ao redor de um grande fogo. Então nos demos conta de que amávamos a ponte, o rio e que gostávamos de estar juntos. Esta união, não nos abandonaria nas iniciativas que haveríamos de tomar depois.

Nos olhávamos com estima e em cada um de nós existia um secreto desejo de recuperar o tempo perdido, quando nem sequer nos olhávamos.

Isso tudo devíamos àquele homem pequeno, de olhos brilhantes e semblante de palhaço.

(autor desconhecido)




As três respostas





Um dia um imperador decidiu que se ele soubesse as respostas de três questões, ele sempre saberia o que fazer, não importasse o quê. Então, ele mandou anunciar em todo o seu reino que se alguém pudesse responder suas três questões, ele daria uma grande recompensa.

Estas são as três questões:

Quando é o melhor tempo para se fazer alguma coisa?
Quem é a pessoa mais importante?
Qual é o objetivo mais importante?



O imperador recebeu muitas respostas, mas nenhuma o satisfez. Finalmente ele decidiu viajar para uma montanha para visitar um eremita que lá vivia no topo. Talvez ele soubesse as respostas.

Quando lá chegou ele fez as três perguntas. O eremita, que estava capinando o seu jardim, ouviu atentamente a então retornou ao seu trabalho sem dizer uma palavra. Como o eremita continuava a capinar, o imperador percebeu o quanto ele estava cansado. Assim, ele disse, me de a enxada. Eu vou capinar e você pode descansar um pouco.

Depois de capinar por muitas horas, o imperador estava cansado. Ele pôs a enxada de lado e disse: "se você não pode responder minhas questões, tudo bem. Basta me dizer que eu vou embora."

De repente o eremita pergunta: "Você ouviu alguém correndo?", apontando para as árvores. E, então, aparece um homem cambaleando entre as árvores e segurando o estômago. Quando o eremita e o imperador se aproximaram ele desmaiou. Abrindo sua camisa eles viram que ele tinha um corte profundo. O imperador limpou a ferida, usando sua própria camisa para "estancar" o sangue. Quando recobrou a consciência o homem pediu água. O imperador correu até o riacho e trouxe água para ele.. O homem bebeu e dormiu.

O eremita e o imperador carregaram-no para a cabana e o deitaram na cama do eremita. O imperador, que estava cansado, também dormiu.

Na manhã seguinte, quando o imperador acordou, viu o homem ferido em pé na sua frente murmurando: perdoa-me! Perdoar você? Disse o imperador, sentando imediatamente. O que você fez que necessita o meu perdão?

Vossa Majestade não me conhece, mas eu o tenho considerado como o meu pior inimigo. Durante a última guerra, V.M. matou meu irmão e roubou minhas terras. Então eu jurei vingança dizendo que iria matá-lo. E, de fato, ontem eu estava em uma emboscada, esperando V.M. retornar para casa para matá-lo. Eu esperei muito tempo, mas, por alguma razão, V.M. não retornou. Quando eu deixei meu esconderijo para procurá-lo seus guardas me encontraram e me reconheceram. Então eles me atacaram e me feriram. Eu sangrei muito, se V.M. não tivesse me ajudado eu certamente teria morrido. Eu tinha planejado matá-lo e em vez disso V.M. salvou minha vida. Eu estou envergonhado e muito agradecido. Por favor me perdoe.

O imperador estava atônito. Ele disse: eu sou agradecido por seu ódio ter acabado. Desculpe-me também, agora que ouvi a sua história, pela dor que tenho causado a você. Guerra é terrível. Eu perdôo você e devolvo as suas terras. Vamos ser amigos de agora em diante. Depois de orientar seus guardas para levar o homem para casa, o imperador retornou para o eremita dizendo: Eu devo ir agora. Vou viajar para todo lugar procurando as respostas para as minhas três questões. Eu espero algum dia encontrá-las. Adeus.

O eremita riu e disse: Suas questões já foram respondidas, Majestade!

O que você está dizendo? exclamou surpreso o imperador.

O eremita explicou. Se você não tivesse me ajudado a capinar o meu jardim ontem, atrasando o seu retorno, você teria sido atacado no caminho para casa. Entretanto, o tempo mais importante para você foi o tempo que você capinou o meu jardim. A pessoa mais importante fui eu, a pessoa com quem você estava, e o objetivo mais importante era simplesmente me ajudar.

Depois, quando o homem ferido chegou, o tempo mais importante foi o tempo que você dispendeu cuidando da sua ferida, de outro modo ele teria morrido e você teria perdido para sempre a oportunidade de perdoar e fazer nova amizade. Naquele momento ele era a pessoa mais importante e o objetivo mais importante era tratar sua ferida.

O presente momento é o único momento, disse o eremita. A pessoa mais importante é sempre a pessoa com quem você está. O objetivo mais importante é fazer a pessoa que está ao seu lado feliz. O que podia ser mais simples ou mais importante?

O imperador curvou-se em gratidão para o velho eremita e foi em paz






segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Do medo e desejo





Ana Sharp, autora de “A magia do caminho real”(Ed. Rosa dos Tempos), e responsável por acompanhar Shirley Maclaine no Caminho de Santiago, me diz certa noite:

“O medo é o desejo oculto. Inconscientemente, passamos a vida tentando provar que nossos pais estavam certos, porque eles nos deram a coisa mais importante: o amor. Mas deixaram marcas de seus próprios temores; e nós, para não destruir a imagem de pessoas poderosas que foram, terminamos deixando que estes medos sejam transferidos para nós”.

“Só perdi o medo de avião quando, na véspera de certa viagem, pensei comigo mesma: tenho este pânico porque meu pai tinha medo, e eu não posso aceitar que estivesse errado”.

“É preciso ficar com as coisas boas do passado, mas livrar-se dos temores irracionais. Hoje, quando me defronto com qualquer medo, troco a palavra por desejo e pergunto: por que estou desejando isto? E o medo/desejo se afasta normalmente”.




Do sexo






Ann Morrow Lindbergh (Gifts of The Sea) fala do encontro sex¬ual:

“Quando o coração está cheio de entusiasmo, não há mais espaço para o medo, para a dúvida, ou para a hesitação. E é justamente a falta de medo que permite a dança e os movimentos livres do corpo. Nestas horas, o amor é tão intenso que nos esquecemos completamente de perguntar se estamos recebendo o mesmo amor que damos. O que nos interessa é dançar – sem música, sem luzes, mas com ritmo”.

E Foucault (The Story of Sexuality) completa:

“Na arte do amor físico, a verdade nasce do prazer, é entendida pela prática, e se acumula através da experiência. O prazer não é governado por leis, e – por isso mesmo – consegue tocar a alma e o corpo com suas mãos invisíveis”.




Do espelho





Antes de partir para uma longa viagem, o comerciante foi despedir-se da mulher.
- Você nunca me deu um presente a minha altura. – disse ela.
- Mulher ingrata, tudo que lhe dei me custou anos de trabalho – respondeu o homem. – O que mais poderia lhe dar?
- Algo que fosse tão belo como eu.
Durante dois anos a mulher esperou seu presente. Finalmente, o comerciante regressou.
- Consegui encontrar algo que fosse tão belo como você – disse ele.
- Chorei com sua ingratidão, mas resolvi cumprir seu desejo. Pensei todo este tempo no que seria um presente tão belo quanto você, mas terminei encontrando.
E estendeu para a mulher um pequeno espelho.




Do alfabeto






As pessoas podem frequentar a igreja e acreditar em Deus, mas isto não significa uma relação íntima com o Universo Espiritual. Existe uma linguagem que está além das palavras rituais. Na maior parte do tempo, Deus procura falar diretamente com cada um, através de palavras que só nós podemos entender.

Para isto, é necessário escutar nosso coração. Se acreditamos em milagres, eles acontecem. Se – entretanto – queremos que primeiro a razão nos explique porque os milagres existem, nunca chegaremos a presenciá-los. Os milagres precisam da força da fé para se tornarem possíveis.



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Quem Sabe Somar Sabe Dividir





Somar é a primeira operação matemática que se aprende, a que temos mais facilidade e que gostamos mais.

Primeiro agente gosta de somar várias vezes palitos e giz, depois brinquedos e roupas da moda, depois somar dinheiro, depois somar carros e casas, e sempre somar alegria e felicidade. Isto já é multiplicação, que também é fácil de aprender, é só somar várias vezes a mesma coisa.

A Segunda operação que aprendemos é a subtração. Aí começa a ficar estranho. Principalmente quando tem que pedir emprestado na casa do vizinho, digo, casa decimal ao lado. Ninguém gosta mais de diminuir do que somar.

Quando chega na divisão é quase um desespero, ainda mais quando sobra um resto. É que ninguém entende aonde ou pra quem vai ficar o resto. Até no cotidiano ninguém gosta de dividir nada. A dificuldade no aprendizado não parece à toa, o homem rejeita essa prática.

Quando o homem aprender a dividir corretamente e saber onde deve ficar o resto, entenderá que é o mesmo que somar para alguns, mantendo a quantidade de outros, sem necessariamente subtrair de alguém, ou seja, é o mesmo que somar igual para todos; entenderá também que somando os restos teremos mais um inteiro divisível, fazendo outros felizes. O resultado final também é uma soma, a soma da felicidade geral. Poderíamos até chamar esta operação de soma distribuída.

Com esta visão, com certeza a matemática daria mais resultados, talvez fosse dispensável aprender contas de dividir e os homens continuariam felizes a somar palitos, brinquedos, dinheiros, carros, casas e felicidade, porém não somente para si. Quem sabe?

Autor: Odylanor Havlis




quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Um som por um perfume





Um pobre viajante parou ao meio-dia para descansar à sombra de uma frondosa árvore. Ele viera de muito longe e sobrara apenas um pedaço de pão para almoçar. Do outro lado da estrada, havia um quiosque com tentadores pastéis e bolos; o viajante se deliciava sentindo as fragrâncias que flutuavam pelo ar, enquanto mascava seu pedacinho de pão dormido.

Ao se levantar para seguir caminho, o padeiro subitamente saiu correndo do quiosque, atravessou a estrada e agarrou-o pelo colarinho.

- Espere aí! - gritou o padeiro. - Você tem que pagar pelos bolos!

- Que é isso? - protestou o espantado viajante. - Eu nem encostei nos seus bolos!

- Seu ladrão! - berrava o padeiro. - É perfeitamente óbvio que você aproveitou seu próprio pão dormido bem melhor, só sentindo os cheirinhos deliciosos da minha padaria. Você não sai daqui enquanto não me pagar pelo que levou. Eu não trabalho à toa não, camarada!

Uma multidão se juntou e instou para que levasse o caso ao juiz local, um velho muito sábio. O juiz ouviu os argumentos, pensou bastante e depois ditou a sentença.

- Você está certo - disse ao padeiro. - Este viajante saboreou os frutos do seu trabalho. E julgo que o perfume dos seus bolos vale três moedas de ouro.

- Isso é um absurdo! Objetou o viajante. - Além disso, gastei meu dinheiro todo na viagem. Não tenho mais nem um centavo.

- Ah... - disse o juiz. - Neste caso, vou ajudá-lo.

Tirou três moedas de ouro do próprio bolso, e o padeiro logo avançou para pegar.

- Ainda não - disse o juiz. - Você diz que esse viajante meramente sentiu o cheiro dos seus bolos, não é?

- É isso mesmo - respondeu o padeiro.

- Mas ele não engoliu nem um pedacinho?

- Já lhe disse que não.

- Nem provou nem um pastel?

- Não!

- Nem encostou nas tortas?

- Não!

- Então, já que ele consumiu apenas o perfume, você será pago apenas com som. Abra os ouvidos para receber o que você merece.

O sábio juiz jogou as moedas de uma mão para outra, fazendo-as retinir bem perto das gananciosas orelhas do padeiro.

- Se ao menos você tivesse a bondade de ajudar esse pobre homem em viagem - disse o juiz -, você até ganharia recompensas em ouro, no Céu.




Mudança de Paradigma




Eu me recordo de uma mudança de paradigma que me aconteceu em uma manhã de domingo, no metrô de Nova York. As pessoas estavam calmamente sentadas, lendo jornais, divagando, descansando com os olhos semicerrados. Era uma cena calma, tranqüila.

Subitamente um homem entrou no vagão do metrô com os filhos. As crianças faziam algazarra e se comportavam mal, de modo que o clima mudou instantaneamente.

O homem sentou-se a meu lado e fechou os olhos, aparentemente ignorando a situação. As crianças corriam de um lado para o outro, atiravam coisas e chegavam até a puxar os jornais dos passageiros, incomodando a todos. Mesmo assim o homem a meu lado não fazia nada.

Ficou impossível evitar a irritação. Eu não conseguia acreditar que ele pudesse ser tão insensível a ponto de deixar que seus filhos incomodassem os outros daquele jeito sem tomar uma atitude. Dava para perceber facilmente que as demais pessoas estavam irritadas também. A certa altura, enquanto ainda conseguia manter a calma e o controle, virei para ele e disse:

– Senhor, seus filhos estão perturbando muitas pessoas. Será que não poderia dar um jeito neles?

O homem olhou para mim, como se estivesse tomando consciência da situação naquele exato momento, e disse calmamente:

– Sim, creio que o senhor tem razão. Acho que deveria fazer alguma coisa. Acabamos de sair do hospital, onde a mãe deles morreu há uma hora. Eu não sei o que pensar, e parece que eles também não conseguem lidar com isso.

Podem imaginar o que senti naquele momento? Meu paradigma mudou. De repente, eu vi as coisas de um modo diferente, e como eu estava vendo as coisas de outro modo, eu pensava, sentia e agia de um jeito diferente. Minha irritação desapareceu. Não precisava mais controlar minha atitude ou meu comportamento, meu coração ficou inundado com o sofrimento daquele homem. Os sentimentos de compaixão e solidariedade fluíram livremente.

– Sua esposa acabou de morrer? Sinto Muito. Gostaria de falar sobre isso? Posso ajudar em alguma coisa? – Tudo mudou naquele momento.

Muita gente passa por uma experiência fundamental similar de mudança no pensamento quando enfrenta uma crise séria, encarando suas prioridades sob nova luz. Isso também acontece quando as pessoas assumem repentinamente novos papéis, como marido, esposa, pai, avô, gerente ou líder.

Do livro: "Os sete hábitos das pessoas muito eficazes" de Steven R. Covey - Ed. Best Seller




Abrir-se, Descobrir-se, Amar-se




"Era uma vez uma pequena(o) princesa(príncipe) que morava no interior de uma rosa. A rosa estava num país onde nunca chovia. Lá de dentro, ela(e) ouvia os ruídos que havia na vida. E assustava-se com o que ouvia, imaginando um punhado de coisas terríveis! Eram vozes de crianças, de pessoas passando por perto, de máquinas trabalhando e de animais.

Uma noite, ao dormir, teve um belíssimo sonho, no qual pessoas amigas e animais dóceis e elementos da Natureza surgiam para conversar com ela(ele) e lhe contar segredos muito importantes para a sua felicidade. No sonho, ela(ele) ouviu atento a tudo o que lhe foi apresentado e, mesmo sem compreender tudo aquilo, sabia que ali estavam informações preciosas, que iriam mudar para melhor a sua vida.

Na manhã seguinte, ao despertar, percebeu que havia caído uma leve chuvinha durante a noite e que a rosa estava começando a se abrir. Assustada(o), ela(ele) nem queria pensar em ver o que havia lá fora. Mas, aconteceu o contrário: todos ficaram muito admirados com a rosa aberta e vieram dar-lhe as boas-vindas - as crianças pararam de brincar, as pessoas arregalaram os olhos, surpresas, o som das máquinas cessou e os animais aproximaram-se. Percebendo-se tão querida, a(o) princesa(príncipe) também ficou muito admirada(o) e começou a conhecer e conversar com todos.

Naquele noite, quando a rosa fechou-se para que ela(ele) pudesse dormir, todos os sons externos já eram conhecidos e não causavam mais susto. A partir daquele dia, os sonhos da princesa(príncipe) trouxeram profundas revelações muito importantes para a sua felicidade. E a cada vez que a rosa se abria, a vida lá fora estava pronta para receber o sorriso da(o) princesa(príncipe) e a sua confiança na vida e no futuro."




Maneiras de dizer as coisas



Uma sábia e conhecida anedota árabe diz que, certa feita, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu sonho.

- Que desgraça, senhor! Exclamou o adivinho. Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.

- Mas que insolente - gritou o sultão, enfurecido. Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui!

Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem açoites. Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho.

Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:

- Excelso senhor! Grande felicidade vos esta reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes.

A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso, e ele mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. E quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:

- Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo porque ao primeiro ele pagou com cem açoites e a você com cem moedas de ouro.

- Lembra-te meu amigo - respondeu o adivinho - que tudo depende da maneira de dizer...

Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar-se. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra.

Que a verdade deve ser dita em qualquer situação, não resta duvida. Mas a forma como ela é comunicada é que tem provocado, em alguns casos, grandes problemas. A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa. Se a lançarmos no rosto de alguém pode ferir, provocando dor e revolta. Mas se a envolvemos em delicada embalagem e a oferecemos com ternura, certamente será aceita com facilidade.

A embalagem, nesse caso, é a indulgência, o carinho, a compreensão e, acima de tudo, a vontade sincera de ajudar a pessoa a quem nos dirigimos.

Ademais, será sábio de nossa parte, antes de dizer aos outros o que julgamos ser uma verdade, dize-la a nós mesmos diante do espelho.

E, conforme seja a nossa reação, podemos seguir em frente ou deixar de lado o nosso intento. Importante mesmo, é ter sempre em mente que o que fará diferença é a maneira de dizer as coisas...

Fonte desconhecida





A Águia Dourada




Um homem encontrou um ovo de águia e o colocou debaixo da galinha que chocava seus ovos no quintal.

Nasceu uma aguiazinha com os pintos e com eles crescia normalmente.

Durante todo o tempo a águia fazia o mesmo que faziam os pintinhos, convencida de que era igual a eles.

Ciscava, ia ao chão buscando insetos e pipilava como fazem os pintos, e como eles, também batia as asas conseguindo voar um metro ou dois porque, afinal de contas, é só isso que um frango pode voar, não é verdade?

Passam anos e a águia ficou velha...

Certo dia, ela viu, riscando o espaço, num céu azul, uma ave majestosa, planando, no infinito, graciosa, levada, docemente, pelo vento sem nem sequer bater a asa dourada.

A águia do chão olhou-a com respeito e logo, perguntou ao seu amigo:

"Que tipo de ave é aquela que lá vai"?

"É uma águia! É rainha", diz-lhe o amigo, mas é bom não olhar muito para ela pois nós somos de raça diferente, simples frangos do chão e nada mais.

Daí por diante, então, a pobre da águia nunca mais pensou nisso, até morrer convencida de ser uma simples galinha.

Anthony de Mello




quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O ontem fala mais alto




Em 1941, a viúva de José Cândido Xavier, Geni Pena, enlouqueceu.

As rezas, os passes, as sessões de leitura do Evangelho no Centro Luiz Gonzaga foram inúteis. Chico teve de internar a cunhada num hospício em Belo Horizonte.

Arrasado, ele acompanhou a doente até o quarto, ficou ao seu lado algumas horas e voltou para casa à noite. Estava arrasado. O filho caçula da moça, paralítico, chorava na cama, sozinho. Chico se ajoelhou e começou a rezar. As lágrimas corriam, ele se lembrava do irmão, se sentia culpado, impotente.

De repente, Emmanuel entrou em cena, incomodado com a choradeira:
- Por que você chora?

Chico contou o drama da cunhada, lamentou a situação do sobrinho e foi interrompido por um sermão do recém-chegado:

- Não. Você está chorando por seu orgulho ferido. Você aqui tem sido instrumento para cura de alguns casos de obsessão, para a melhoria de muitos desequilibrados.
Quando aprouve ao Senhor que a provação viesse para debaixo de seu teto, você está com o coração ferido, porque foi obrigado a recorrer à assistência médica, o que, aliás, é muito natural. Uma casa de saúde mental, um hospício, é uma casa de Deus.

Chico ouviu as críticas em silêncio, mas, entre um soluço e outro, pediu a recuperação da cunhada o mais rápido possível.


O discurso se estendeu:
Imaginemos a Terra como sendo o Palácio da Justiça, e a mulher de José como sendo uma pessoa incursa em determinada sentença da justiça.


Eu sou o advogado dela e você é serventuário do Palácio da Justiça. Nós estamos aqui para rasgar ou para cumprir o processo?

Para cumprir respondeu Chico e, ainda aos prantos, insistiu:
O senhor tem que saber que ela é minha irmã também.
Emmanuel perdeu a paciência de vez:
- Eu me admiro muito, porque, antes dela, você tinha lá dentro, naquela casa de saúde, trezentas irmãs e nunca vi você ir lá chorar por nenhuma.

A dor Xavier não é maior do que a dor Almeida, do que a dor Pires, do que a dor Soares, a dor de toda a família que tem um doente.

Se você quer mesmo seguir a doutrina que professa, em vez de chorar por sua cunhada, tome o seu lugar ao lado da criança que está doente, precisando de calor humano.
Substitua nossa irmã e exerça, assim, a fraternidade.

Chico engoliu o choro, enxugou o rosto e abraçou o sobrinho.
Com os braços e pernas atrofiados, a expressão atormentada, o filho de Geni Pena, Emmanuel Luiz, era o retrato do sofrimento.

Revirava-se na cama, contorcia-se em convulsões, sacudia- se em crises de choro. Um amigo de Chico ficou impressionado com o estado da criança.
Como Deus, tão onipotente, admitia tanta dor?

A resposta veio de acordo com a lógica espírita: você colhe o que planta. Cada um volta à Terra com as seqüelas provocadas por si mesmo em vidas anteriores.
Deus não tinha nada a ver com as tragédias alheias. Cada um é responsável pelo próprio céu ou inferno.
Emmanuel repetiria a Chico várias vezes:

- O ontem fala mais alto do que podemos admitir no tempo que chamamos hoje.


As vidas de Chico Xavier – Marcel S Maior




O advogado e a freira




Wanderley Pereira dos Santos

Em março, o advogado Wanderley Pereira dos Santos, morador de uma bela casa na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, lança um livro autoral que mais parece uma confissão. Na obra O advogado e a freira (Ed. Livre Expressão), que renderia o argumento para mais um filme de Almodóvar, o empresário conta como sua alma foi salva pelo amor da freira Sabrina da Cunha Neto Pereira, a irmã Sabrina, então aos 31 anos, com quem se casou.

Antes de conhecer a moça, o empresário sentia que levava uma vida vazia e sem sentido. Seu tempo era, segundo ele, 100% consumido em futilidades. Saía todas as noites, revezando entre os restaurantes mais luxuosos da capital, como o Dádiva, Taste Vin e Favorita. "Estava farto de me exibir naquele big brother da realidade, onde as pessoas se aproximam de você pelo que representa e não pelo que é de fato. Por mais dinheiro que gastasse, sempre voltava sozinho para casa. Não há sensação mais aterradora do que a solidão", diz o advogado.

Nesse estado de espírito em que se encontrava, esmagado pela culpa cristã, Wanderley conheceu a freira Sabrina, seguidora dos votos de pobreza, castidade e obediência a Deus. Era o oposto das mulheres que rodeavam o empresário na mesa do bar, quando ele mandava o garçom abrir a garrafa de champanhe mais requintada vendida ali. "Fiquei assustado com minha pequenez perto de uma vida tão nobre quanto a dela, focada em trabalhar durante anos, sem remuneração, simplesmente para se doar a Deus. Isso me levou a uma profunda reflexão. Será que minha atividade era tão importante que eu não poderia me dedicar um pouco mais a Deus?", questiona.

Em vez de atrair Sabrina para as tentações além dos muros do convento, Wanderley sofreu uma espécie de conversão por intermédio dela. O advogado, que só frequentava a igreja em missas de sétimo dia e batizados, iria se tornar mais tarde um dos coordenadores do Terço dos Homens, celebrado na última segunda-feira do mês na Igreja Nossa Senhora Rainha, no Bairro Belvedere. Ele também passou a fazer questão de comungar todos os domingos na companhia da mulher, que participa do Sal da Terra, grupo de canto da mesma paróquia. "Ela é a vocalista do grupo, apesar da timidez", conta.

Os dois se conheceram em um churrasco de confraternização para freiras, depois que a mulher de um primo de Wanderley superou um câncer, graças às fervorosas orações. No primeiro momento, porém, o advogado recusou o convite. Era o dia 13 de julho de 2008. "Nada contra freiras, mas sentia calafrios só de pensar em um churrasco com orações", descreve no livro. Vencido pela insistência do parente e pela falta de outro programa, Wanderley viu-se no meio de um grupo de religiosas que, em vez das fofocas do mundo dos negócios, conversavam sobre Deus, votos de castidade e vocação. "Descobri que mulheres jovens e bonitas decidiam ser freiras simplesmente por seguir um chamado de Deus. No início, fiquei desconfiado. Achava que Sabrina teria sofrido uma decepção amorosa, mas não era isso", conta.

Já na primeira conversa, a irmã Sabrina admitiu que questionava sua vocação depois de sete anos e meio ao cuidar de 400 crianças de um colégio de freiras e ao compartilhar os sentimentos da sua irmã, que acabava de ter um bebê. Com a desculpa de enviar as fotos tiradas durante o churrasco, Wanderley conseguiu o e-mail da freira. No dia seguinte, transtornado de emoção, enviou a primeira mensagem, sem imaginar que ficaria meses sem resposta. “Desculpe-me, irmã Sabrina, escrevo-lhe este e-mail com as mãos trêmulas e o pensamento um pouco confuso. Estarei, a partir de agora, recordando cada segundo em que tive o privilégio de estar próximo a você, seu sorriso encantador, seu carisma, sua fé em Deus. Desculpe-me, irmã Sabrina, mas também o seu perfume suave. Sabrina, quanta suavidade existe em você”, derramou o empresário, descobrindo que ela aparecia em 34 das 46 fotos tiradas na ocasião.

Um ano depois

A conquista de irmã Sabrina custou praticamente um ano até que ela retirasse o hábito de freira, mediante autorização da madre provincial, e concordasse em se encontrar com o namorado. Para tanto, Wanderley deslocou-se por diversas vezes até Teresópolis, no Rio de Janeiro, onde a comunidade religiosa estava estabelecida. O empresário roubava minutos de atenção e olhares da freira, que se recusava a conversar com ele pessoalmente. Na primeira vez em que iria se encontrar sozinho com irmã Sabrina, na recepção de um hotel da cidade, a freira levou junto os pais. Eles queriam conhecer as reais intenções do candidato a noivo.

Aprovado pela família, o empresário inesperadamente foi rejeitado pela ex-freira. Aos prantos, Sabrina disse ao candidato que estava certa da decisão de deixar o convento, mas não sabia se estava preparada para assumir um relacionamento. “Confesso que fiquei terrivelmente abalado, mas ao mesmo tempo feliz pela sinceridade, educação e doçura com as quais ela estava me dando o fora”, explica no livro. Com os nervos em frangalhos, os dois enfim se beijaram quando Wanderley deu um ultimato: "Apesar da dor que sinto em meu coração, jamais serei um empecilho para você. Voltarei ainda hoje para BH e não mais retornarei a Teresópolis".

Passados quase cinco anos de relacionamento, Wanderley ainda não consegue acreditar no milagre da transformação da própria vida, que andava estagnada depois de 10 anos de uma separação traumática da primeira mulher. Em um trecho do livro, explica que havia decidido “nunca mais se envolver com mulher”. Hoje, Wanderley mostra-se tão encantado com a própria história a ponto de publicar o romance, que alguns leitores poderiam achar um tanto meloso. "Nossos amigos são apaixonados pela nossa história. Quem ler esse livro com o coração aberto não irá trair ninguém jamais. É diferente quando você se relaciona com uma pessoa a quem ama e respeita integralmente. Não se trata de um casamento de mentirinha", afirma o empresário, que chamou os três filhos do primeiro casamento (que foi só no civil) para ser padrinhos do segundo.

Sandra Kiefer




Mitos e verdades sobre sua barriga




Você pode até dizer que não liga para barriga tanquinho ou tem orgulho do investimento em comida e bebida que ocupa sua circunferência abdominal, mas a gente sabe. Não existe homem que nunca se pegou em frente ao espelho, ao menos uma vez na vida, ponderando: estou barrigudo? Quando a resposta é sim, a estratégia de ação que sucede o incômodo varia, mas boa parte das vezes envolve medidas mirabolantes, como fazer exercícios em jejum ou aderir a dietas milagrosas.

Para ajudar você a coibir exageros rumo a um abdômen definido, Alfa consultou o preparador físico Márcio Atalla, responsável pelo quadro Medida Certa, do Fantástico – que vem tentando dar jeito na barriga fenomenal do ex-jogador Ronaldo.

Atalla afirma: Não existe receita padrão. “Não é simples como se imagina. Como chocolate e doces todos os dias e tenho barriga definida, mas isso é mais fácil para uma pessoa com estrutura magra. Para alguém com uma estrutura um pouco mais gorda, é fundamental combinar atividades físicas de tipos e intervalos variados com alimentação balanceada.”

Independentemente da estrutura, confira o que realmente funciona quando o assunto é barriga
Fazer abdominal acaba com a barriga
MITO

O que os exercícios localizados trazem, na verdade, é o fortalecimento do abdômen. “Abdominal sozinho não resolve de jeito nenhum, está aí o Ronaldo que não me deixa mentir. Se ele contrair o abdômen, você vai ver oito gomos. Só que esses gomos não aparecem nunca, porque ele tem uma quantidade de gordura absurda”, diz Atalla. Ou seja: é melhor emagrecer um pouco antes de se dedicar a esses exercícios.

Exercício de manhã queima mais gordura
VERDADE

Pela manhã, o nível de produção de hormônios como testosterona e GH é um pouco maior. O ganho varia entre 2% e 5%. Mas se você só funciona melhor à noite, pode ser insignificante perto de outros fatores, como a disposição para treinar. Se tiver mais energia à tarde ou à noite, priorize esses turnos.

Todo mundo pode ter um tanquinho
VERDADE

Gominhos para todos! Ter um abdômen marcado não depende da genética. “Tem gente que vai ter gomo mais forte, gente que vai ter gomo menos forte, mas se a pessoa não tiver gordura na região e a musculatura for trabalhada, eles aparecem com certeza”, diz Atalla.

Cerveja dá barriga
MITO

Ainda que abundem teorias sobre barrigas de chope, o que gera acúmulo de gordura são as calorias, que podem vir tanto de uma bebida alcoólica quanto de um suco de laranja. Se você gastar mais calorias do que consome bebendo, não vai engordar.

Para emagrecer, o melhor é cortar carboidratos
MITO

“Essa é a dieta mais imbecil que existe. A pessoa seca, mas não emagrece”, diz Atalla. Basicamente, tudo o que você vai perder é um quilo de carboidratos e os três litros de água atrelados a eles – e a gordura vai continuar toda lá.

O corpo só queima gorduras a partir de 30 minutos de exercício
MITO

“É falso. Em dois minutos de exercício, mais de 50% de sua fonte de energia já é a gordura”, explica Márcio Atalla. Variar entre atividades curtas, moderadas e intensas também ajuda, pois mantém o metabolismo sempre acelerado. “Se você fizer toda vez o mesmo treino, seu corpo se adapta e fica preparado para esses estímulos”, diz.

A gordura no abdômen é a mais perigosa
VERDADE

Cuidado com a gordura visceral, acumulada na cavidade que vai dos pulmões até a cintura: os hormônios que ela produz prejudicam o fígado e aumentam a possibilidade de um ataque cardíaco.

Revista ALFA




Yoani Sánchez





Em "dossiês" e textos que disponibiliza contra Yoani Sánchez na internet, o governo cubano tem razão em um ponto: na ilha, ela não tem um décimo da popularidade que desfruta no exterior.

É provável até que muitos dos que saibam que a criadora do blog "Generación Y" é também tuiteira e crítica dos Castro a tenham conhecido pela TV estatal, que dedicou programas para atacá-la.

A pouca difusão é mais que natural no país com menor taxa de penetração de internet das Américas --22%, segundos dados oficiais, e o governo ainda conta quem acessa uma intranet estatal.

Parte do sucesso no mundo de Yoani Sánchez se explica justamente por ter chamado atenção, com seu blog criado em 2007, para essa indigência tecnológica cubana em pleno século 21.

Era um discurso fresco, no tom da moda sobre "ativismo civil" e uso da internet, sem proposta de sublevação direta, embalado no texto bem escrito da filóloga que lembrava os problemas do dia a dia em Havana.

Pela internet afora, milhares se solidarizaram por causa das dificuldades para acessar a rede (R$ 12 a hora) e pelo drama de ter as viagens negadas pelo governo --problema que só só acabou com a reforma migratória baixada em janeiro.
A voz de Sánchez ocupou o vácuo do grupo desgastado de dissidentes políticos --ligados aos anticastristas de Miami, que nem mesmo eram capazes de vencer disputas para se unir numa plataforma comum.
Esse misto de reconhecimento da novidade na paisagem cubana e o forte desejo de que ela fosse "uma em milhões" parece ter contribuído para a série de prêmios de imprensa que ganhou.

A projeção da blogueira coincidiu com a consolidação de Raúl Castro no poder, cuja primeira reforma efetiva foi liberar os celulares para o uso dos cubanos, em 2008.
O governo fez questão de lançar um tuiteiro "oficial", Yohandry Fontana, para rebater Sánchez, especialmente no plano externo, pouco tempo depois.

No plano interno, apesar de estar longe de ser uma ameaça, o irmão de Fidel e seu governo monitoram Sánchez porque ela tocou e toca em uma questão que vai ser cada vez mais importante: será possível manter o monopólio da informação e do poder de associação e mobilização na ilha em reformas?

O controle da circulação de dados e notícias já não é absoluto, e Havana sabe disso. Há centenas de esquemas diferentes para passar informação no mercado negro em Cuba. De uso de SMS em massa para convocar para festas a conexões ilegais, pen drives, discos rígidos, antenas parabólicas com sinal de Miami, sem falar na pressão para ampliar o uso da internet.

Até agora, no entanto, os operadores dessas redes fazem dinheiro com isso e não querem se arriscar com conteúdos políticos


Flávia Marreiro




Fracassei



Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu

Darcy Ribeiro




Pessoas




Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer o que quero.

Tenho felicidade o bastante para fazê-la doce dificuldades para fazê-la forte,

Tristeza para fazê-la humana e esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas, elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

Clarice Lispector




Zazá




Zazá era uma cadela especial. Muito brava, rosnava sempre que algum estranho se aproximava. Tinha um bonito porte, e segundo Dona Maria, sogra do Tonhão, era mestiça com pastor alemão. Só sei dizer que ela impunha respeito.

Seus donos moravam numa casa na periferia de Grenita, uma grande cidade do sul do país. A vida era bem tranqüila, mas nos últimos tempos, começaram a proliferar os assaltos na região. Mais parecia que os ladrões haviam migrado da capital, São Carlos de Boni, para lá.

A casa do Tonhão era totalmente murada, o que dava à sua família uma relativa segurança. Além disso, Zazá tinha sua missão de guardiã.

Numa fria madrugada de inverno, na calada da noite, Raposão, famoso assaltante da capital, aproximou-se daquela propriedade, e começou a sondar o local. Pela sua experiência, roubar aquela residência ia ser moleza, pois faltavam grades de segurança, alarmes e cacos de vidro no muro.

"Vai ser uma 'barbada'. Qualquer ladrãozinho 'pé-de-chinelo' faz o serviço.", pensou o larápio.

Estava tão fácil que Raposão foi até displicente. Com a agilidade de um felino pulou o muro, e mal havia aterrissado no quintal da casa, foi surpreendido com uma dolorosa mordida na perna direita. Raposão conseguiu, milagrosamente, desvencilhar-se dos dentes da Zazá, subindo apressadamente na goiabeira, ao lado do jardim.

A cadela, então, começou a latir, e seu latido podia ser ouvido a centenas de metros dali.

Dentro da casa, Tonhão roncava pesadamente, mergulhado em sono profundo. Mas o latido da cachorra, mais forte que o seu próprio ronco, começou a incomodá-lo, até que ele acordou, irritado. Ainda sonado, pensava, contrariado: " O que será que está havendo? Porque ela está fazendo essa barulheira?"

Completamente transtornado, irado mesmo, sentia o som emitido pela cadela latejando em sua cabeça.

O ladrão, por sua vez, assustado em cima da árvore, tentava inutilmente alcançar o muro, andando pelos galhos, e quanto mais ele se mexia mais a Zazá latia.

Tonhão, numa explosão de ódio, levantou-se, apanhou seu revólver em cima da cômoda, foi até o quintal e matou a cachorra.

Do livro: A Magia da Linha do Tempo - Cid Paroni Filho - Ed. Lúmen - Pág. 25/6




A ilusão curada





Um certo rei pensava ser uma vaca e tinha completamente esquecido que era um ser humano.
Por isso ele mugia como um touro e implorava:
"Vinde, levai-me, abatei-me e fazei uso de minha carne."
Mandava embora toda a comida que lhe era trazida e nada comia.
"Por que não me soltais nas verdes pastagens para que eu possa comer conforme uma vaca deve alimentar-se?", perguntava.
Como já não comia coisa alguma, foi perdendo peso até ficar nada mais que um esqueleto ambulante.

Uma vez que nenhum método ou remédio ajudavam, Avicena foi chamado a fim de dar conselhos.
Ele mandou dizer ao rei que um açougueiro estava a caminho a fim de abatê-lo, cortar sua carne e entregá-la ao povo para comer. Quando o pobre enfermo escutou isso, ficou indescritivelmente feliz e com imenso anelo aguardou sua morte.
No dia determinado, Avicena aproximou-se do rei. Balançou o facão de açougueiro e gritou com uma voz terrível:
"Onde está a vaca, para que eu possa finalmente sacrificá-la?".
O rei emitiu um mugido para que o açougueiro percebesse onde se encontrava o animal que seria sacrificado. Então Avicena ordenou em voz alta:
"Tragam o animal aqui; amarrem-no para que eu possa decepar sua cabeça!"
"Porém, antes de fazer cair o facão, verificou o lombo e a barriga do animal, observando sua carne e gordura, como os açougueiros geralmente fazem."
Mas então voltou a gritar com altíssima voz:
"Não, não, essa vaca não está ainda no ponto de ser abatida. Está magra demais. Levem-na e engordem-na. Quando estiver com o peso correto eu voltarei."

O homem enfermo passou a comer tudo o que lhe era oferecido, pois tinha a esperança de ser abatido em breve. Ganhou peso, sua condição apresentou uma melhora visível e ele recuperou sua saúde sob os cuidados de Avicena.

Do livro: O Mercador e o Papagaio - Nossrat Peseschkian - Papirus Editora




Burrice




Caminhavam dois burros, um com uma carga de açúcar, outro com uma carga de esponjas.

Dizia o primeiro:
- Caminhemos com cuidado, porque a estrada é perigosa.

O outro argüiu:
- Onde está o perigo? Basta andarmos pelo rastro dos que hoje passaram por aqui.

- Nem sempre é assim. Onde passa um, pode não passar outro.

- Que burrice! Eu sei viver, gabo-me disso, e minha ciência toda se resume em só imitar o que os outros fazem.

- Nem sempre é assim, nem sempre é assim... continuou a filosofar o primeiro.

Nisto alcançaram o rio, cuja ponte caíra na véspera.

- E agora?

- Agora é passar a vau.

O burro de açúcar meteu-se na correnteza e, como a carga ia se dissolvendo ao contato da água, conseguiu sem dificuldade pôr pé na margem oposta.

O burro da esponja, fiel às suas idéias, pensou consigo:
- Se ele passou, passarei também - e lançou-se ao rio.

Mas sua carga, em vez de esvair-se como a do primeiro, cresceu de peso a tal ponto que o pobre tolo foi ao fundo.

- Bem dizia eu! Não basta querer imitar, é preciso poder imitar - comentou o outro.

Do livro: Fábulas - Monteiro Lobato - Editora Brasiliense




Unha-de-Fome




Depois duma vida de misérias e privações Unha-de-Fome conseguiu amontoar um tesouro, que enterrou longe de casa, num lugar ermo, colocando uma grande pedra em cima. Mas tal era o seu amor pelo dinheiro, que volta e meia rondava a pedra, e namorava como o jacaré namora os seus próprios ovos ocultos na areia. Isto atraiu a atenção dum vizinho, que o espionou e por fim lhe roubou o tesouro.

Quando Unha-de-Fome deu pelo saque, rolou por terra desesperado, arrepelando os cabelos.

- Meu tesouro! Minha alma! Roubaram minha alma! Um viajante que passava foi atraído pelos berros.

- Que é isso, homem?

- Meu tesouro! Roubaram meu tesouro!

- Mas morando lá longe você o guardava aqui, então? Que tolice! Se o conservasse em casa não seria mais cômodo para gastar dele quando fosse preciso?

- Gastar do meu tesouro!? Então você supõe que eu teria a coragem de gastar uma moedinha só, das menores que fosse?

- Pois se era assim, o tesouro não tinha para você a menor utilidade, e tanto faz que esteja com quem o roubou como enterrado aqui. Vamos! Ponha no buraco vazio uma pedra, que dá no mesmo. Que utilidade tem o dinheiro para quem só o guarda e não gasta?

Do livro: Fábulas - Monteiro Lobato - Editora Brasiliense




 
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